Quadra chuvosa e contas extras de começo do ano são fatores que podem limitar as vendas entre janeiro e março, segundo lojistas
Apesar de um primeiro trimestre mais fraco, o segmento de material de construção está otimista com os resultados de 2022 e espera crescimento de até 15%.
O avanço esperado nas vendas é a continuidade de uma tendência iniciada ainda em 2020, parte motivada pela pandemia.
Passando mais tempo em casa, as famílias foram identificando pontos da residência que precisavam de reforma e manutenção para propiciar um maior bem-estar, o que impulsionou as vendas.
No Ceará, as vendas de material de construção no varejo acumularam alta de 20% entre outubro de 2020 e outubro de 2021, segundo os dados mais recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Retração de 15% entre janeiro e março
O diretor comercial da Simplifique, Emanuel Nóbrega, pontua que o mercado local costuma retrair cerca de 15% entre os meses de janeiro e março.
Isso porque o período é marcado pelo início da estação chuvosa, o que pode atrapalhar as pequenas reformas, além dos gastos extras de começo do ano, como IPTU, IPVA e material escolar, comprometendo o orçamento familiar.
Segundo Nóbrega, 2022 deve seguir essa tendência histórica. Para o restante do ano, no entanto, a perspectiva é otimista, com projeção de atingir incremento de 15% em relação a 2021, que já havia avançado 28% ante 2020.
“Se não estivéssemos tendo essa nova onda de Covid-19, a queda no primeiro trimestre poderia ser ainda maior. Mas como as viagens estão sendo restringidas novamente, as pessoas estão convertendo esse dinheiro da viagem para as reformas”, afirma o diretor.
Ele reitera que impulso para o aumento das vendas durante a pandemia deve seguir este ano, apesar do avanço da vacinação e não esperar um novo lockdown.
Tendo isso em vista, a Simplifique planeja abrir duas lojas no Estado em 2022, que devem se somar às outras três unidades inauguradas entre 2020 e 2021.
Inflação
Sobre o forte aumento de preço dos produtos, Nóbrega explica que os valores foram puxados pelo descompasso entre a demanda crescente e a oferta limitada.
Com o reestabelecimento das cadeias de produção e a regularização dos estoques, os preços estabilizaram, embora permaneçam em um patamar bem acima do anterior à pandemia.
O diretor acredita que não devem ter novos aumentos significativos no valor dos produtos, com algumas exceções.
Uma delas são as cerâmicas e revestimentos, cuja isenção do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) foi revogada. Dessa forma, uma alíquota de 5% passará a incidir sobre o preço desse item.
Diversidade de itens
Mesmo durante a quadra chuvosa, as famílias estão buscando outros jeitos de realizarem melhorias em casa, o que pode manter o mercado aquecido mesmo nesse primeiro trimestre.
É o que indica o gerente geral da loja Carajás no Eusébio, Álvaro Menezes Cavalcante. Ele pontua que, com a ampliação do mix de produtos das lojas do segmento, essa redução no volume de vendas no início do ano está se tornando menos expressiva.
Embora decidam não realizar maiores reformas, os clientes ainda procuram itens de manutenção para casa, seja de jardim, de lazer, de decoração, ou mesmo de eletroeletrônicos.
“O que acontece hoje é que, mesmo com a flexibilização dos decretos, muita gente continua presa em casa e acaba reformando, ampliando o imóvel, acrescentando um quarto, um banheiro, uma área”, afirma.
Um dos grandes apelos desse período devem ser os eletrodomésticos, como TVs, ar condicionados, geladeiras e fogões, segundo ele.
O lançamento de novos pisos e revestimentos também deverão ser destaque, gerando uma rotatividade no estoque e estimulando os consumidores a retornarem às lojas para conferir as novidades do mercado.
De modo geral, a rede possui uma expectativa positiva para o ano de 2022, embora fatores como a inflação, as decisões do governo e a campanha eleitoral possam limitar parte desse crescimento.
Demanda reprimida
Outro fator que deve impulsionar as vendas em 2022 é a demanda reprimida. Com a forte inflação do ano passado, parte da população não encontrou espaço no orçamento para retoques tradicionais na casa, como a renovação da pintura.
O diretor do conselho fiscal do Sindicato do Comércio Varejista de Material de Construções, Carvão Vegetal e Lenha de Fortaleza, Rômulo Brito, lembra que a partir de agosto é normalmente registrada uma corrida por tintas, movimento que não aconteceu em 2021.
Dessa forma, compras que foram postegadas no ano passado devem se concretizar ao longo de 2022 caso os preços continuem estáveis e o cenário macroeconômico contribua para o crescimento do setor.
“Nós devemos registrar um crescimento em relação a 2021, mas de quanto vai depender muito do nível de emprego, da inflação, do aumento do frete”, afirma Brito.
Ele também lembra que um dos diferenciais do mercado brasileiro é a compra do material de construção parcelado, acomodando melhor o custo no orçamento das famílias.
Fonte: Valor Econômico