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Com falta de oxigênio e em colapso, Índia registra seu pior momento da pandemia

Pelo quinto dia consecutivo, país bate recorde de novos casos de covid-19 e registra mais de 300 mil contaminações em 24 horas. Preocupação é que a pandemia ‘fuja do controle’ com variantes mais perigosas.

Pelo quinto dia consecutivo, a Índia voltou a bater recorde de novos casos de covid e registrou mais 300 mil infectados pelo vírus

São Paulo – Pelo quinto dia consecutivo, a Índia voltou a bater recorde no número de casos de covid-19 em 24 horas e registrou mais 352.991 infectados nesta segunda-feira (26). Trata-se do maior número de casos reportados em único dia na comparação com todos os outros países do mundo, conforme aponta o monitoramento da Universidade John Hopkins, o que torna o país asiático o atual epicentro da pandemia do novo coronavírus, posição antes ocupada pelo Brasil. 

De acordo com o Ministério da Saúde indiano, o total de infectados já ultrapassa os 17,3 milhões. O número de mortos também está em alta pelo 10º dia consecutivo. Ao menos 2.812 pessoas perderam a vida até esta segunda, elevando para 195.123 o total de óbitos até o momento. Com a explosão de casos e de mortes, autoridades nacionais e internacionais já reconhecem que a Índia passa pelo seu “pior estágio” da pandemia de covid-19. 

Na última sexta (23), a morte por asfixia de 20 pacientes infectados pelo coronavírus no hospital Jaipur Golden, em Nova Déli, capital do país, escancarou que o peso dessa segunda onda está fazendo ruir também o sistema de saúde. A falta de oxigênio já uma realidade na Índia e tem levado hospitais ao colapso. Na quarta-feira (21), pelo menos 22 pacientes haviam morrido asfixiados após uma interrupção no fornecimento de oxigênio causada pelo vazamento de um tanque na cidade de Nashik, no oeste indiano. 

Colapso sanitário e subnotificação

O segundo maior país do planeta, com 1,3 bilhão de habitantes, já vive também falta de medicamentos, equipes médicas e até de vagas na UTI, com enfermos da covid-19 morrendo à espera de leitos. O cenário de crise e sobrecarga é visível nos crematórios e cemitérios da Índia. Reportagem da Folha de S. Paulo revela que os corpos chegam a ficar estirados por horas antes de serem cremados ou sepultados. Em alguns lugares, familiares têm queimado corpos de seus entes sobre piras em trilhas nos crematórios depois de não conseguirem achar vaga. 

O jornal ainda destaca o relato de um faxineiro do maior crematório de Nova Déli, o Nigambodh Ghat. Segundo Vikas Kumar, 349 corpos foram cremados no sábado (24), apesar de a capacidade total do estabelecimento ser de 160 plataformas. Quem vê de perto essa realidade denuncia que o total de óbitos ultrapassa as cifras oficiais. Com base em levantamentos independentes em hospitais e no aumento de cremações, especialistas estimam que o total de mortos seja 30 vezes maior do que o divulgado.

As estatísticas de mortes em proporção à população ainda são mais baixas do que no Brasil, por exemplo, que vinha registrando mais de 3 mil óbitos diários, mas com aproximadamente seis vezes menos habitantes que o país asiático. Apesar da diferença, a comunidade internacional já se mobiliza para o envio de oxigênio, equipamentos, máscaras, medicamentos e insumos para a produção de vacinas contra a covid-19 à Índia. Levantamento do colunista e correspondente internacional do UOL, Jamil Chade, identifica que tanques de oxigênio estão sendo enviados ao país pelo governo de Cingapura. Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, União Europeia e Rússia também se organizam para o envio de ajuda. 

Ajuda internacional

Os Estados Unidos também anunciaram no final de semana que irão providenciar inclusive insumos para a produção de vacinas, além de testes e respiradores. O governo do Reino Unido prometeu o envio de oxigênio para a Índia. A imediata resposta internacional, como compara Jamil Chade, contrasta com a “reação tímida” que os países tiveram em relação ao Brasil, que também vive o pior estágio da pandemia. 

A avaliação, contudo, é que por trás da preocupação internacional estaria o medo do surgimento de novas variantes do vírus e da falta de controle da doença. O que poderia atrasar o retorno à “normalidade” principalmente da Europa e dos Estados Unidos.

Recentemente, as autoridades sanitárias indianas descobriram uma mutação do coronavírus que pode ter tornado a doença ainda mais transmissível. Batizada de B.1.617, a variante é relacionada pelos especialistas ao aumento de casos de covid-19 após meses de estabilidade. A explosão de casos também vem sendo atribuída ao relaxamento das medidas de prevenção e aos erros na estratégia de vacinação. O governo indiano ignorou os alertas sobre a possibilidade de uma segunda onda e chegou a declarar “vitória” sobre o novo coronavírus. 

Considerada uma das maiores produtoras mundiais de imunizantes, a Índia também está atrasada no plano de vacinação, o que pode inclusive prejudicar o fornecimento de doses e insumos a outros países dependentes, como o Brasil. Para o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom, a situação do país é um “lembrete devastador do que o vírus é capaz de fazer”. 

Redação: Clara Assunção

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