Dados da invasão a celulares de autoridades, procuradores e juízes da Lava-Jato foram fundamentais para a anulação quase que total da operação. Estelionatário pretendia cobrar pelas informações obtidas com o crime
O hacker Walter Delgatti Neto foi condenado, ontem, a 20 anos de prisão pela invasão a celulares de autoridades, procuradores e juízes da Operação Lava-Jato — episódio que ficou conhecido como Vaza-Jato. A decisão é do juiz Ricardo Augusto Soares Leite, da 10ª Vara Federal do Distrito Federal, que ressaltou a intenção do estelionatário em extorquir dinheiro das pessoas cujos aparelhos ele conseguiu acessar.
Um dos alvos de Delgatti foi o ex-juiz da Lava-Jato e atual senador Sergio Moro (União-PR). Os dois ficaram frente a frente na semana passada, na oitiva do hacker na CPMI do 8 de janeiro — quando foi ouvido como testemunha. Os dois se envolveram em um bate-boca e, ao ser indagado pelo parlamentar, o estelionatário chamou-o de “criminoso contumaz”.
O vazamento das mensagens foi alvo da Operação Spoofing, da Polícia Federal (PF). A sentença condenatória aponta que ficou comprovada a invasão dos celulares de diversas autoridades e diz que “a amplitude das vítimas é imensa e poderia render inúmeras ocasiões de extorsões”.
Exibicionismo
O juiz destaca que Delgatti, além de invadir os telefones, propôs vender o material hackeado para a imprensa por R$ 200 mil. “Seus ataques cibernéticos foram direcionados a autoridades públicas, em especial agentes responsáveis pela persecução penal, além da grande quantidade de alvos vítimas desta interceptação de comunicação telefônica (126 pessoas). É reincidente, conforme comprova sua ficha criminal, e possui outros registros penais (…). Personalidade que deve ser avaliada de forma desfavorável, ante o exibicionismo de suas condutas ilícitas e a qualificação, a seu juízo, de forma virtuosa de seus atos criminosos”, salientou Soares Leite na decisão.
O parecer do magistrado também considerou o hacker como “líder da organização criminosa” responsável pelas invasões. Além de Delgatti, foram condenados Gustavo Henrique Elias Santos, a 13 anos e nove meses; Thiago Eliezer Martins Santos, a 18 anos e 11 meses; Suelen Priscila de Oliveira, a seis anos; e Danilo Cristiano Marques, a 10 anos e cinco meses.
Atualmente, Delgatti está preso preventivamente, mas em função de outra investigação — que apura a invasão de sistemas do Judiciário e tentativa de fraudar as urnas eletrônicas usadas nas eleições do ano passado.