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Escandaloso: Bolsonaro usou cartão corporativo para bancar ‘motociatas’

Gastos com hospedagem, combustíveis e alimentação coincidem com mobilizações que Bolsonaro e seus apoiadores diziam ser “espontâneas”

São Paulo – Dados do cartão corporativo do Palácio do Planalto demonstram que as “motociatas” realizadas pelo ex-presidente Jair Bolsonaro para demonstrar a própria popularidade eram “abastecidas” com dinheiro público. Seja em São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul ou Roraima, gastos atípicos em restaurantes, padarias e lanchonetes coincidem com essas agendas de mobilização, que Bolsonaro e seus seguidores diziam ser “espontâneas”. Pelas redes sociais, parlamentares que fizeram oposição ao governo anterior manifestaram indignação com os gastos e várias coincidências surgidas no mapeamento dos gastos.

As informações sobre os gastos de Bolsonaro foram obtidas pela agência Fiquem Sabendo, por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI). As informações divulgadas nesta quinta-feira (12) indicam que o ex-presidente torrou R$ 27,6 milhões, nos últimos quatro anos.

Em 15 abril de 2022, por exemplo, integrantes do governo gastaram R$ 62,2 mil na lanchonete Tony & Thais, na zona sul de São Paulo. Foram seis pagamentos no valor de R$ 9.000, e um outro de R$ 5.206. Às vésperas da Pascoa, naquela sexta-feira santa, o então presidente reuniu seus seguidores para a “motociata” Acelera para Cristo, entre a cidade de São Paulo e o município de Americana, a 130 quilômetros da capital. A lanchonete parece ser a preferida do staff presidencial, em São Paulo, já que os gastos no local somam R$ 626,3 mil, entre 2019 e 2022.

Naquele mesmo dia, Bolsonaro ainda pagou R$ 8,5 mil no hotel Blue Tree Premium, na Faria Lima. E mais R$ 4,1 mil no hotel Monreale Plus Midtown, em Campinas. Além disso, as motos da comitiva abasteceram 23 vezes no Auto Posto Moraes e Moraes, em Americana, somando R$ 1.187,26 em gastos com combustíveis.

Quentinhas

Entre os dias 28 e 29 de setembro de 2021, Bolsonaro esteve em Boa Vista, onde realizou “motociata” com seus apoiadores locais. Nesses dois dias, o cartão corporativo registrou gastos de R$ 42.750 no restaurante Sabor de Casa. Menos de um mês depois, em 26 de outubro, Bolsonaro voltou à capital de Roraima, quando visitou um dos abrigos da Operação Acolhida, coordenada pelo Exército para receber migrantes venezuelanos. Novamente, ele e seus assessores foram muito bem acolhidos no Sabor da Casa. Naquele dia, os gastos no restaurante somaram R$ 109.266.

Somados, os gastos chegam a R$ 152 mil no restaurante. A página do Sabor da Casa no Facebook mostra que, naquele período, o estabelecimento vendia marmitas com preços entre R$ 12 e R$ 18. Ou seja, com o valor total, a turma do ex-presidente consumiu entre 8 mil a 12 mil quentinhas oferecidas pelo restaurante.

Come e dorme

Entre os dias 9 e 10 de julho de 2021, Bolsonaro esteve na Serra Gaúcha e em Porto Alegre. Mais uma vez, foi acompanhado por apoiadores em motos. Foram outros R$ 166 mil gastos no cartão corporativo, com despesas que incluem hospedagem, alimentação e combustível.

Ainda no início da sua gestão, em 26 de maio de 2019, integrantes da comitiva presidencial gastaram R$ 55 mil com o cartão na padaria Santa Marta, no Rio de Janeiro. A data coincide com a primeira manifestação a favor do governo, dessa vez, ainda sem motos. O ato ocorreu uma semana depois após o chamado Tsunami da Educação, como ficaram conhecidos os protestos registrados em todo o país, contra os cortes em universidades federais promovidos pelo então ministro Abraham Weintraub.

Bolsonaro e seus assessores voltaram outras 19 vezes à mesma padaria, nos últimos quatro anos, com gastos totais de R$ 313.490 gastos. Em 22 de maio de 2021, por exemplo, outros R$ 33 mil foram gastos no estabelecimento. Dessa vez sim, as despesas ocorreram às vésperas de mais uma “motociata”, realizada no dia seguinte, na capital fluminense.

A fatura do cartão corporativo de Bolsonaro deve ser ainda maior. Isso porque a lista divulgada ontem não inclui gastos que até aqui ainda estão em sigilo. Assim, os decretos de sigilo de 100 anos de Bolsonaro, ainda estão em análise pela Controladoria-Geral da União (CGU).

O atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu prazo de 30 dias para que o órgão reavalie esses decretos, tornando públicas todas as informações que não têm ligação com dados pessoais, nem afetem a segurança nacional.

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