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Cada vez mais conectados, 85% dos idosos usam internet todos os dias

Público da ‘melhor idade’ se conecta mais em busca de entretenimento e serviços do que por motivos de saúde

Quando pensar no perfil do usuário de redes sociais, não se deixe levar pelos estereótipos, porque a população idosa cada vez mais tem incorporado hábitos online na rotina diária. Segundo  pesquisa da Federação Brasileira de Bancos (Febraban-Ipespe), intitulada ‘A Inclusão Digital dos Idosos”, 85% destas pessoas dizem usar a internet todos os dias ou quase todos os dias, e apenas 14% usam algumas vezes por semana. 

O Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic) aponta que o número de acessos dos usuários acima de 60 anos na internet cresceu de 34%, em 2019, para 54% em 2021. Eles se conectam mais em busca entretenimento e serviços do que por motivos de saúde. 

De acordo com a pesquisa da Febraban, 34% dos entrevistados acima de 60 anos usam a internet para fazer consultas online, enquanto 75% usam serviços bancários digitais. Do total, 75% usam a internet para assistir a vídeos via streaming. Além disso, 78% baixam aplicativos no celular, mas 85% utilizam a internet para acessar as redes sociais.

Segundo Priscila Vitório, especialista em Insights do Consumidor, outro ponto importante de atenção nesses dados é que a população brasileira também está envelhecendo.

“Segundo as projeções mais recentes do IBGE, até 2060 um quarto da população brasileira vai ter mais de 65 anos, serão 58,2 milhões de idosos. Ou seja, cada dia mais a população sênior estará mais conectada, por isso é importante entender as necessidades individuais para garantir que os benefícios da transformação digital estejam acessíveis também para os idosos que já estão ‘on’ e começando a descobrir os benefícios da conectividade”, explica.

Uma pesquisa global que inclui brasileiros, publicada no relatório do Tgi Trends, revela que, entre 2015 e 2022, houve um aumento significativo na proporção de adultos com mais de 65 anos usando as redes sociais por semana. O Facebook foi a principal delas, passando de 11%  em 2015 para 67% em 2022.  

Ou seja, para cada novo usuário do Facebook com idade de 15 a 24 anos, uma média de 6 novos usuários acima de 65 anos começaram a utilizar a plataforma no mesmo período, o que mudou radicalmente o perfil de idade da plataforma.

A pesquisa também aponta que 77% dos respondentes acima de 60 anos concordam que ‘o mundo é melhor hoje em dia, com o avanço da tecnologia e os recursos digitais, que facilitam a vida das pessoas e as deixam conectadas mesmo à distância’.

“Esses dados revelam o quanto é importante não duvidar da capacidade de adaptação digital da população de maior idade que, no Brasil, apresenta uma atitude favorável em relação às inovações tecnológicas. Falar da conectividade dos idosos não é uma tendência passageira”, disse Priscila. 

A especialista ressalta que a conexão dos idosos nas redes sociais também foi acelerada pela pandemia da Covid-19, mudando hábitos da rotina e a comunicação interpessoal.

“Mudou drasticamente a forma como nos conectamos com o mundo, seja através de interações sociais ou realizando tarefas essenciais do dia-a-dia, como comprar, cuidar da saúde, buscar educação ou entretenimento. Não podemos negar que a conectividade trouxe mais autonomia e conveniência para o nosso dia-a-dia, inclusive para os idosos”.

No entanto, apesar do avanço da integração de idosos com a internet, 52% das pessoas que responderam a pesquisa da Febraban, na faixa acima de 60 anos, afirmaram nunca ter ouvido falar de inclusão digital para os idosos. Segundo Priscila, essa questão também se torna um desafio para ampliar as oportunidades de negócios dentro ou fora do ambiente digital.

“Isso significa superar cinco barreiras principais: facilitar o acesso à informação e instalação de aplicativos, fornecer conhecimento sobre como navegar no ambiente digital, fornecer um design de experiência simples, intuitivo e capaz de atender a necessidades específicas dos mais velhos, e garantir a segurança nas transações para conquistar sua confiança e fidelidade a longo prazo”, conclui.

Idosos nas redes

A aposentada Ana Lúcia Fernandes, de 73 anos, começou a usar a internet quando trabalhava em um banco. “Tínhamos uma maneira de nos comunicar internamente com colegas de outras praças por nota, o pessoal adorava. Quando me aposentei, passei a usar e-mail com mensagens, depois Facebook com os amigos daqui e de fora. Por último, foi o Instagram, que é o que mais gosto e esqueço dos outros”, diz Ana Lúcia. 

Ana Lúcia tem 73 anos e é assídua nas redes sociais|  Foto: Ag. A Tarde

A aposentada conta que começou a usar mais o Instagram e o Whatsapp quando comprou um celular. Hoje, ela também aproveita a internet de outras formas.

“Assisto muito Netflix, muita live do Instagram de saúde e de coisas interessantes como religião, música e shows. Só tem uma coisa negativa: é que deixei de ler”, comenta.

Os idosos não só estão fazendo uso das redes sociais, como também das ferramentas disponíveis em cada uma, como foi o caso da aposentada Maria de Fátima Bittencourt, de 69 anos. Com o costume de usar o Instagram para postar diversas fotos e vídeos, ela publicou um “reels” (formato de vídeo curto) de um conhecido colocando água para um passarinho em uma tampa de garrafa pet. O vídeo viralizou e atingiu mais de 20 mil visualizações.

“O passarinho estava andando e se aproximou do rapaz, ele começou a jogar água e eu comecei a filmar, foi lindo”.

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