Não faltam opções de oferta de cacau no mercado atualmente, o que não é nada bom para os produtores da commodity.
Como todas as matérias-primas, o cacau oscila de preço com base em seu volume de produção; neste caso, suas sementes.
Mas o valor do fruto também é influenciado por outro fator: a quantidade de sementes processadas a cada trimestre por confeiteiros na América do Norte, Europa e Ásia, que juntos respondem pela demanda por chocolate e outros quitutes feitos com a commodity.
O que também torna o cacau único é o fato de que quanto maior for a quantidade de produtos processados no mercado, como manteiga, pó e licor de cacau, maior será o preço da matéria-prima em si. Isso difere, por exemplo, dos produtos refinados de petróleo, como a gasolina e o diesel, que se desvalorizam por causa do excesso de oferta, o que também acaba pesando sobre o valor do petróleo em si.
Na semana passada, o cacau futuro negociado na ICE Futures de Nova York atingiu as máximas de 3 semanas de US$ 2650 por tonelada, diante de sinais de demanda mais forte por chocolate na América do Norte
O rali ocorreu depois que a Hershey (NYSE:HSY), maior produtora de chocolates da América do Norte, apurou vendas de produtos de confeitaria de US$ 2,22 bilhões no 1º tri na região, acima do consenso de US$ 2,07 bilhões, além de elevar a previsão de crescimento das vendas líquidas para todo o ano para 10%-12%, contra a projeção anterior de 8%-10%.
A Associação Europeia do Cacau também reportou um crescimento de 4,4% no processamento do fruto no continente durante o 1º tri na comparação ano a ano, para 373.498 toneladas, maior volume em mais de uma década.
Isso contrastou com a queda de 3% nos preços durante o mês de março, uma vez que as preocupações com a demanda pesaram sobre o mercado, depois que a Associação Norte-Americana de Confeiteiros informou, em 22 de abril, que o processamento de cacau na região havia caído 2,8% ano a ano, para 114.694 toneladas, no 1º tri.
Além disso, a Associação do Cacau da Ásia, registrou uma queda ano a ano de 0,25% no processamento de cacau na região, para 213.313 toneladas, durante o 1º tri.
Nesta semana, a história é diferente: na segunda-feira, o cacau futuro para entrega em julho na ICE recuou pela quarta sessão seguida, atingindo a mínima de uma semana e meia, com o dólar alcançando as máximas de 20 anos, o que pesou sobre o universo de commodities precificadas na divisa americana.
Mas o cacau não caiu apenas por causa da valorização da moeda dos EUA. Sinais de oferta abundante de sementes também impactaram o mercado, já que a Costa do Marfim, uma das grandes produtoras do fruto, informou que seus agricultores haviam enviado aos portos um volume acumulado de 2,06 milhões de toneladas no período de 1 de outubro a 8 de maio, quase igualando o pico de produção de 2,07 milhões de toneladas na safra anterior.
Isso ocorreu apesar de uma matéria da Bloomberg informar que mineradores artesanais de ouro em Gana, segundo maior país produtor de cacau do mundo, haviam danificado grandes faixas de terras no ano passado, o que piorou a perspectiva para a safra de cacau.
Mais de 19.000 hectares, ou cerca de 2% das plantações de cacau, foram destruídos pelos chamados “galamsey”, pequenos mineradores que geralmente operam ilegalmente, segundo a Bloomberg, citando um porta-voz do Conselho de Cacau de Gana. As autoridades também alertaram que Gana provavelmente não atingirá sua meta inicial de produção de 850.000 toneladas neste ano.
“Os preços do cacau em Nova York caíram por causa de operações de liquidação”, declarou Jack Scoville, analista-chefe de agricultura do Price Futures Group, de Chicago, na segunda-feira. “O clima é favorável a atividades de colheita na África Ocidental. As remessas de cacau de Gana ficaram abaixo dos níveis do ano passado, mas as da Costa do Marfim superaram as do ano passado.”
A abundante produção de cacau destoa da tendência registrada na maioria das outras commodities, desde energia e metais até grãos, já que os distúrbios nas cadeias de fornecimento desde o início da pandemia de coronavírus reduziram o volume de matérias-primas disponíveis para os compradores, o que acabou elevando os preços e a inflação nos EUA até as máximas de quatro décadas.
Chocolate, sorvete, bolos e bebidas à base de cacau são considerados produtos festivos e de luxo, cuja demanda costuma subir em momentos de bonança econômica e cair quando as coisas não vão muito bem.
O cacau se desvalorizou quase 19% em março de 2020, durante a primeira disseminação global da Covid-19. Mas conseguiu encerrar o ano praticamente estável, na esteira da recuperação econômica mundial. No ano passado, o cacau subiu apenas 3% e, neste ano, acumula queda de 3%.
Corroborando os fundamentos, a perspectiva técnica para o cacau é pouco promissora, com indicações de que a queda pode se estender até as mínimas de agosto de 2021 de US$ 2350, mais 4% abaixo dos níveis atuais.
“O cacau está perdendo a mínima do mês passado, significativamente abaixo das principais médias móveis nos gráficos diário e semanal”, afirmou Sunil Kumar Dixit, estrategista técnico chefe do site skcharting.com.
Os gráficos mostram que o cacau está no lado fraco da média móvel simples de 100 dias, a US$ 2564, de 200 dias, a US$ 2554, e da média móvel exponencial de 50 dias, a US$ 2557, no gráfico diário, complementou o analista.
“Em vista das condições sobrevendidas do estocástico no gráfico diário e semanal, o potencial de queda pode se limitar a US$ 2400 e 2350”, acrescentou.
“No entanto, a leitura sobrevendida do estocástico de 7/15 e 4/18 nos gráficos diário e semanal podem provocar uma recuperação até as áreas de suporte de US$ 2500-2550 no curto prazo”.
Aviso de isenção: Barani Krishnan utiliza diversas visões além da sua para dar diversidade às suas análises de mercado. A bem da neutralidade, ele por vezes apresenta visões e variáveis de mercado contrárias. O analista não possui posições nos ativos e commodities sobre os quais escreve.
fonte: Investing.com