A avaliação é de que não há unidade de comando na campanha, que falta esforço conjunto em uma única direção, além de foco e até mesmo comprometimento
Aliados do presidente Jair Bolsonaro relataram à CNN que as chances reais de derrota para o ex-presidente Lula nas eleições deste ano cresceram e acenderam um “sinal amarelo” no comando da campanha e no próprio governo.
A avaliação é de que não há unidade de comando na campanha, que falta esforço conjunto em uma única direção, além de foco e até mesmo comprometimento. Um interlocutor de Bolsonaro afirmou que todos estão vendo o inimigo se aproximando para derrotar o presidente e, embora dizendo estarem preocupados, nada estariam fazendo. Concluem o raciocínio dizendo que preocupação não é ação tática e que é preciso reagir.
Concomitantemente a essas leituras, tem sido feita também a análise de que o tempo de reação é escasso. O final deste mês de junho tem sido dado como prazo-limite para que ações sejam feitas, tanto em razão da legislação eleitoral que restringe atos de governo, quanto pelo tempo que seria necessário para que os atos consigam ser revertidos em intenções de voto. Por isso a pressa do governo em aprovar o pacote dos combustíveis. A cúpula da campanha estima que o impacto nas pesquisas possa ser de um crescimento de 5 pontos de Bolsonaro nas pesquisas.
Há ainda a leitura de que o PT percebeu que a carestia é o grande tema da eleição deste ano e acertou no discurso, ao passo que a campanha governista ainda tenta desviar o centro de gravidade da campanha para questões políticas que não são, segundo interlocutores do presidente, a prioridade do eleitorado. Por exemplo, os ataques à urna eletrônica.
Aliados do presidente inclusive já teriam dito a ele que é preciso um outro tratamento no discurso da campanha sobre inflação pois, segundo essa fonte, não basta apontar que a a alta dos preços decorre da guerra da Ucrânia e que outros países do mundo passam pelo mesmo problema. O eleitor quer mesmo é resolver a vida no mercado que ele frequenta para abastecer sua casa.
O próprio presidente do PL, Valdemar da Costa Neto, teria feito uma análise interna nessa linha. Contou que no auge da crise do mensalão em 2005 quando havia uma percepção semelhante de que o presidente não se reelegeria pelas acusações de corrupção, disse a Lula que a população quer mesmo é saber de comida na mesa. O governo petista na época então investiu bastante no Bolsa-Família, que acabou ajudando na vitória do petista em 2006.
Há percepção também de que o coordenador-geral da campanha, senador Flávio Bolsonaro, não tem experiência em eleições presidenciais. Para complicar, ele e seu irmão Carlos Bolsonaro divergem sobre a estratégia de marketing. Além disso, parte do comando da campanha cuida também de suas bases, como o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, que tem viajado ao Piauí frequentemente para tentar eleger governador o ex-prefeito de Teresina, Silvio Mendes (PSDB), e sua vice, a ex-mulher de Ciro, Iracema Portela (PP-PI).
Outro aliado que foi determinante nas eleições de 2018, Onyx Lorenzoni, também está cuidando de sua campanha a governador no Rio Grande do Sul. E o próprio PL também tem como meta paralela à eleição de Bolsonaro eleger a maior bancada da Câmara. Esse cenário faz com que aliados do presidente avaliem que esses operadores estejam trabalhando com objetivos paralelos ao da eleição do presidente, o que ajudaria, nesta ótica, a tirar o foco da eleição presidencial.