Carlos Habib Chater é dono de um posto de combustíveis, em Brasília, que funcionava o “caixa eletrônico” da propina e ponto de lavagem de dinheiro.
Primeiro preso na operação Lava Jato, em 2014, Carlos Habib Chater é dono de um posto de combustíveis, em Brasília, que funcionava, segundo as investigações, como “caixa eletrônico” da propina e ponto de lavagem de dinheiro.
Depois de passar um ano e sete meses preso em regime fechado, e mais um ano em regime semi-aberto, ele hoje cumpre pena em liberdade e nunca fechou acordo de delação premiada, mas diz que foi ameaçado pelo ex-chefe da Polícia Federal (PF), Márcio Anselmo, para delatar.
“Ele disse que me envolveria com o narcotráfico, que eu ficaria mais de 20 anos na cadeia, que me livraria [da prisão] em uma semana caso eu dissesse quem eram os agentes público ou os políticos que recebiam [propina] aqui [no Posto da Torre]”, contou, em entrevista ao portal Uol.
Ao ser procurado pela reportagem, o delegado se disse disposto a dar entrevista, mas pediu para formalizar o pedido na assessoria de imprensa da PF em Curitiba, que repassou a demanda para a regional do Espírito Santo. Até a divulgação deste material, não houve um posicionamento definitivo sobre o assunto.
Ele disse que tentou denunciar o fato à corregedoria da PF. “Quando nós localizamos a escuta ilegal que estava nas celas, abriram uma sindicância e quem estava cuidando era o delegado responsável pelas investigações da Operação Lava Jato. Isso é uma piada, né?”, ironizou.
chater reconhece ter operado ilegalmente na conversão de moedas na década de 1980, mas nega ter lavado dinheiro e distribuído propina. “Eles não conseguiram apontar nem comprovar nenhum político que tenha recebido aqui. O que acontecia, isso está nos autos, [é que] eu tinha operações de crédito com o senhor Alberto Youssef. Eu tomava dinheiro emprestado [do Youssef] e, na hora de devolver, ele ou indicava algumas contas ou pessoas que vinham aqui receber. Para onde ia esse dinheiro eu não posso lhe dizer. O que eu posso afirmar é que não conheço nenhum desses políticos envolvidos. Agora, se esse dinheiro foi para algum político, foi por intermédio de algum motorista ou coisa assim. Eu nunca entreguei e nenhum político disse que recebeu de mim. Nem a polícia nem o Ministério Público provaram que eu tenha tido contato com qualquer político”, afirmou.
Ele também critica a Lava Jato e se diz injustiçado. “O juiz Sérgio Moro conseguiu me manter numa prisão preventiva por 570 dias. Essa é a nossa Justiça”.
Questionado se seria operador do doleiro Yousseff, ele também negou. “Não. Nós sempre fomos amigos. Eu conhecia o Beto como um cara que sempre operou o mercado de ações. Volta e meia, quando eu ‘tinha uma dor de barriga’ [financeira], eu recorria ao Alberto e ele me mandava dinheiro e nunca me cobrava. Por isso, eu sou completamente revoltado com essa situação de lavagem de dinheiro. Quem é que lava dinheiro sem cobrar? Se fosse para lavar dinheiro do senhor Alberto, eu teria que cobrar alguma coisa. É a lógica. Ninguém vai lavar dinheiro por lavar, para fazer bonito para alguém. Mas isso não é levado em consideração pelo juiz de primeira instância [Sérgio Moro]”.