Batata? No máximo, cinco unidades. Alface, tomate? A greve dos caminhoneiros, iniciada no dia 18 de maio, já compromete o abastecimento dos supermercados baianos. Os caminhões atravessados nas estradas atrasam a chegada de produtos às prateleiras dos mercados e às mesas das famílias. Além do medo de faltar comida, o temor também se estende aos prejuízos que podem ser causados ao setor. A Fecomércio calculou um prejuízo de até R$ 50 milhões por dia nos supermercados de Salvador e região metropolitana caso persista a paralisação e os estoques sejam esvaziados. A cifra sobe para R$ 150 milhões/dia na Bahia.
Os supermercados da capital evitam, até então, falar em estoques vazios. Mas, já há ausência de alguns produtos. A escassez reflete-se em ações adotadas pelo setor do varejo. Pelo menos três redes de supermercados adotaram limites na compra de produtos para administrar o estoque enquanto dura a greve. Nas sete lojas do Walmart em Salvador, os clientes podem comprar, no máximo, cinco unidades de cada produto. Nos 10 Supermercados Gbarbosa e Atakarejo, o limite de compra é de 10 unidades..
O eventual prejuízo causado pela greve aos supermercados ainda não pode ser mensurado em sua totalidade pelo setor. Na lista da Fecomércio, no entanto, o prejuízo nas vendas dos bens não duráveis como alimentos, remédios e gasolina “podem ser vistos como um primeiro alarme”.
Normalmente, calcula o assessor econômico da Federação, Fábio Pina, os supermercados de Salvador e Região Metropolitana faturam R$ 15 milhões por dia. Em São Paulo, por exemplo, o faturamento chega a R$ 200 milhões. O valor corresponde a 30% de tudo o que é vendido no varejo da região.
É preciso, então, correr para o mercado mais próximo? Pelo contrário. Fábio Pina responde: “Calma e cautela são essenciais. Claro, é preciso estar abastecido. Mas, se você sair correndo de casa para comprar alguma coisa, sendo que ainda há alimento nas prateleiras, você acelera o processo de vendas. O resultado é que sobem os preços”. O que não significa que não seja importante completar a dispensa ou evitar o esvaziamento do tanque de combustível, esclarece.
Hortifrutigranjeiros
Frutas, verduras, perecíveis e carnes são as principais preocupações durante a paralisação, afirma a Associação Baiana de Supermercados (Abase). Segundo a entidade, existe uma mobilização, por meio da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), em se buscar “uma sensibilização do Governo Federal, evitando assim, que a população baiana sofra com a falta de produtos”.
Faltar comida na mesa é justamente o receio da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado da Bahia (Faeb). De leste a oeste, o escoamento de leite já está impactado. Por dia, principalmente no extremo sul, sudoeste e região semiárida da Bahia, são produzidos 2,3 milhões de litros de leite, o que representa uma circulação de R$ 27 milhões.
“Os laticínios não estão sendo escoados. Hoje, já está pior que ontem. E a tendência é que amanhã seja ainda pior”, comenta o presidente da associação, Humberto Miranda Oliveira.
Outra questão é o abate de animais. “Os animais não estão sendo transportados. A nível nacional, se fala que 60% do abate está comprometido”, diz o representante, que acrescenta que ainda não é possível como mensurar o prejuízo total da pecuária com a greve. “Mas, evidentemente, ele é notório. O número de caminhões que consegue atravessar o bloqueio é muito pequeno. E todo o estado começa a sofrer as consequências”, acrescenta.
Na Bahia, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) notificou a existência de nove pontos de bloqueio nas rodovias até esta sexta-feira, 25. Nos municípios próximos, o estoque já está abaixo do normal. Entre às 6h e 7h, funcionários do Jai Supermercado, em Feira de Santana, vão ao Centro de Abastecimento, no centro da cidade, para comprar os produtos do dia. Nesta sexta-feira, 25, voltaram sem batata, chuchu, pimentão e melancia.
O responsável por levar à mercadoria ao supermercado até encontrou batata na Ceasa. Mas por um preço muito além do normal. “Veja, geralmente, o saco da batata, com 50 quilos, custa R$ 150 por aqui. Hoje, quando Gilson [o carregador do dia] chegou lá, estava custando R$ 240”, conta o repositor do centro comercial, Franklin de Jesus Silva, 35.
O comerciante acrescentou que o estoque só deve aguentar até amanhã, se continuar desse jeito”. Em outros três mercados contatados pela reportagem, faltava refrigerante e tomate.
Mais ao sul do mapa, em Itabuna, os principais produtos em falta são tomate e batata. O resto, todos hortifrutigranjeiros, estão em baixa no estoque, mas ainda são encontrados. O vendedor de um dos mercados da cidade, sob anonimato, afirmou que todo o estoque deve durar, no máximo, até quarta-feira. E que as vendas, no momento, estão 30% acima da média.
“O pessoal daqui está com muito medo do desabastecimento, aí está correndo todo mundo para os mercados”, afirma e conclui: “Que as vendas continuem altas até essa greve acabar”.