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Pesquisadores da Ufba contestam governo sobre consumo de pescados

Para especialista, declaração de que frutos do mar do litoral nordestino podem ser consumidos carece de detalhes | Foto: Uendel Galter | Ag. A TARDE - Foto: Uendel Galter | Ag. A TARDE
Para especialista, declaração de que frutos do mar do litoral nordestino podem ser consumidos carece de detalhes | Foto: Uendel Galter | Ag. A TARDE – Foto: Uendel Galter | Ag. A TARDE

A declaração do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) afirmando que o consumo de frutos do mar oriundos do litoral nordestino está próprio para consumo desencadeou críticas de pesquisadores baianos. Segundo o diretor do Departamento de Biologia da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Francisco Kelmo, o estudo conduzido pelo Mapa ainda carece de detalhes.

Para o biólogo, a pequena quantidade de animais coletados e a falta de clareza na metodologia das análises lançam dúvidas sobre os resultados divulgados pelo Mapa na coletiva de imprensa da última segunda-feira, 11. “A gente não sabe que partes dos peixes foram estudadas, além disso, a amostra divulgada por eles foi muito pequena em relação à dimensão da costa nordestina, e eles também não disseram as quantidades de hidrocarbonetos encontrada nos animais”, frisou o pesquisador.

Coordenador de um grupo de pesquisa responsável por coletar amostras em três praias do litoral baiano, o professor Kelmo ressalta que, dos 50 animais colhidos e estudados por seus pesquisadores, todos estavam contaminados pelo óleo.

“Fizemos a análise desses animais e constatamos que dentro de todos eles havia resíduo de óleo no sistema respiratório, no digestório ou em ambos os sistemas. Foi a partir disso que surgiu o alerta para que a população evitasse consumir mariscos e pescados dessa região”, disse.

No entanto, o Ministério da Agricultura, por meio de nota, informou que “foram realizadas coletas de pescados, capturados na região atingida, recebidos nos estabelecimentos com registros no Serviço de Inspeção Federal (SIF), cujos resultados não revelaram risco para o consumo humano”. O ministério ressaltou ainda que as coletas continuam para o monitoramento e, “caso seja identificado eventual risco, o mesmo será comunicado à sociedade”.

Já a Bahia Pesca, empresa ligada à Secretaria de Agricultura da Bahia, por intermédio de seu presidente, Marcelo Oliveira, disse que “para preservar a qualidade do pescado e a saúde da população, a recomendação é que as pessoas não pesquem ou coletem mariscos em lugares onde tenha sido encontrada a presença de óleo”.

Marcelo Oliveira também informou que o órgão já coletou cerca de 240 amostras de pescados e mariscos em várias regiões do estado e que o resultado da análise desse material será divulgado até o próximo dia 22. “Essa pesquisa é para detectar se há ou não presença de petróleo dentro desses animais coletados. Assim, a população poderá tomar sua decisão de forma confiável para o consumo ou não desses produtos”, explicou

Intoxicação

A Secretaria Municipal da Saúde de Salvador (SMS) registrou um caso suspeito de intoxicação aparentemente relacionado ao contato com petróleo cru detectado em praia da cidade no dia 6 de novembro. Segundo informações da SMS, trata-se de uma mulher de 28 anos que, após ter tido contato com uma placa de petróleo na praia, apresentou sintomas como dor de cabeça, tontura, vômitos e mal-estar.

De acordo com a nota da secretaria, “o caso é acompanhado pelo Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), da SMS, e, diante do exposto, a pasta reforça a importância dos cuidados referentes ao contato com o óleo cru. Após qualquer reação, o recomendável é procurar uma unidade de saúde”.

Francisco Kelmo, biólogo e professor da UFBA, diz que quantidade de animais coletados e falta de clareza na metodologia lançam dúvidas sobre os resultados | Foto: Raphael Muller | Ag. A TARDE
Francisco Kelmo, biólogo e professor da UFBA, diz que quantidade de animais coletados e falta de clareza na metodologia lançam dúvidas sobre os resultados | Foto: Raphael Muller | Ag. A TARDE

*Sob supervisão da jornalista Regina Bochicchio | A Tarde

SIEL GUINCHOS

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