Pandemia do coronavírus põe fim a 10 anos de alta no emprego
WASHINGTON | THE WALL STREET JOURNAL Na semana passada, 3,28 milhões de trabalhadores americanos solicitaram benefícios de desemprego, um número recorde, dado o efeito do novo coronavírus sobre
a economia, o que pôs fim a 10 anos de expansão no nível de emprego dos Estados Unidos.
Os pedidos iniciais de benefícios de desemprego subiram a 3,28 milhões na semana encerrada em 21 de março. O nível semanal excedeu por muito o recorde semanal anterior, de 695 mil, registrado em outubro de 1982.
O nível recorde de pedidos surgiu durante uma semana na qual muitas empresas americanas anunciaram demissões e diversas autoridades municipais e estaduais ordenaram o fechamento de negócios não essenciais, em resposta à pandemia do coronavírus.
A grande máquina americana de criação de empregos estacou, como resultado da pandemia.
Até março, os empregadores americanos vinham aumentando o número de postos de trabalho disponíveis há 113 meses consecutivos, o que resultou em um crescimento de 22 milhões no número de pessoas empregadas nos Estados Unidos. No processo, milhões de pessoas —entre as quais trabalhadores horistas de baixa remuneração, pessoas deficientes, minorias, ex-detentos e outros— encontraram trabalho.
O índice de desemprego, que foi de 3,5% em fevereiro, era baixo como não se via desde a década de 1960. Os salários haviam começado a crescer, nos dois últimos anos, depois da inércia registrada nos anos iniciais da expansão que se seguiu à recessão de 2007-2009.
A força do mercado de trabalho manteve a economia dos Estados Unidos em expansão por uma década —apesar da crise da dívida nos países da zona do euro, do tsunami no Japão, da desaceleração na economia da China, da queda na produção industrial nacional, da instabilidade nos preços da energia e de uma guerra comercial internacional.
E de repente, em questão de dias, tudo mudou. Milhões de americanos, já temerosos de que o novo coronavírus os infectasse, ou às suas
famílias, agora têm duas novas preocupações: quando a máquina de criação de empregos recomeçará a funcionar? E eles conseguirão se aguentar até que isso aconteça?
“Não vimos uma queda livre dessa ordem no passado”, disse Keith Hall, antigo diretor do Serviço Orçamentário do Congresso e assessor do então presidente George W. Bush.
“Nem mesmo durante a Grande Depressão… foi como uma Grande Recessão
instantânea”.
Hall disse que o índice de desemprego pode se aproximar nos próximos meses dos 20% que alguns economistas calculam tenham sido atingidos durante a Depressão. Carl Tannenbaum, economista chefe da Northern Trust, disse que se metade dos trabalhadores nos setores mais atingidos, como restaurantes, varejo e serviços pessoais, perderem o emprego, o índice de desemprego pode subir em 10 pontos percentuais, para mais de 13%. Isso ficaria bem acima dos 10,8% que representam o maior desemprego no país depois da Segunda Guerra Mundial, atingidos no final da recessão de 1981-1982.
Jacqueline Martin, massagista que trabalha em Albuquerque, no Novo México, tipicamente atende a 16 clientes por semana, e cobra US$ 50 por uma sessão de meia hora. Ela não trabalhou durante boa parte deste mês e não tem direito a benefícios de desemprego, sob os programas existentes.
“Massagem é toque, e é pelo toque isso está se espalhando”, disse Martin.
“Não posso fazer massagens via Skype”. Se o país conseguir voltar aos negócios rapidamente, restaurantes, companhias de aviação, hotéis e outros talvez recontratem de imediato os trabalhadores que tiveram de demitir ou licenciar durante o choque.
Com ajuda de programas de apoio do governo, entre os quais o programa de resgate de US$ 2 trilhões que está sendo debatido no Congresso, o índice de desemprego poderia hipoteticamente disparar e em seguida recuar. Foi o que aconteceu na década de 1980, diferentemente dos longos períodos de desemprego alto registrados na década de 1930 e depois da crise financeira de 2007-2009.
Mas outros cenários são possíveis. Se o número de infecções e mortes associadas ao coronavírus crescer descontroladamente, o distanciamento social —o que significa combater a difusão do vírus ao manter um espaço de pelo menos dois metros com relação a outras pessoas, evitar saídas desnecessárias e não participar de ocasiões sociais com mais de 10 pessoas— poderia prolongar as dificuldades econômicas.
Mesmo que o governo federal abandone sua adesão ao distanciamento social —o que o presidente Donald Trump indicou que está considerando—, as autoridades estaduais e municipais, e os indivíduos, podem ainda assim decidir que não lhes resta escolha.
A crise de caixa que está atingindo as empresas e domicílios pode induzi-los a novos cortes de despesas, o que resultaria em um ciclo de baixa que se auto alimentaria. Tudo isso poderia abalar a confiança das empresas e dos consumidores, causando cicatrizes econômicas duradouras. Voltar ao trabalho, portanto depende da rapidez com que o vírus seja controlado.