Situação afetou sobretudo a população que tem mais de 60 anos
Dados apurados pela Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) apontam uma realidade preocupante para os esforços de prevenção e combate ao câncer de pele no País. Na Bahia, durante o ano de 2020, momento mais crítico da pandemia da Covid-19, foram realizados 818 diagnósticos a menos dessa doença do que em 2019. Isso significa que o número absoluto de casos foi 40% menor do que no período anterior ao avanço do coronavírus.
Análise nacional indica que, de forma geral, os serviços de combate e prevenção ao câncer de pele foram comprometidos. Ao longo de 2020, estima-se que 17.227 diagnósticos deixaram de ser realizados em todo o país, o que significa uma queda de 24,7% em comparação a 2019.
Em linhas gerais, isso significa que milhares de casos de câncer de pele potencialmente devem iniciar seus tratamentos com atraso ou ainda nem foram descobertos pelos médicos, o que tem impacto direto nas chances de recuperação e cura dos pacientes.
Em 2021, nos seis primeiros meses do ano (de janeiro a junho), percebe-se um movimento de retomada gradual do volume de atendimentos, contudo os números ainda são inferiores aos registrados na etapa pré-pandemia.
Contaminação
Na avaliação dos especialistas da SBD, a retração do número de diagnósticos em 2020 tem relação com a Covid-19. Por conta do receio de contaminação pelo coronavírus, suspeitando que ele estaria mais presente nos ambientes ambulatoriais ou hospitalares, milhares de pessoas postergaram seus exames e consultas. Além disso, inúmeros serviços de saúde reorientaram suas agendas, restringindo o acesso de pacientes ou mesmo limitando seus atendimentos aos casos de covid-19.
De acordo com os números analisados pela SBD, com a consultoria da 360° CI, em 2020 foram realizados 52.527 diagnósticos para melanoma maligno da pele e outras neoplasias malignas da pele em todo o país. Este número é 24,7% menor do que os 69.754 notificados em 2019.
Os piores índices foram observados em abril e maio do ano passado (meses imediatamente após a decretação de calamidade pública no País) com uma queda de -51,7% e -57%, respectivamente, em termos de detecção.
Ao analisar os números sob a perspectiva da idade dos pacientes, fica evidente que as faixas etárias mais prejudicadas foram as que estão a partir dos 60 anos. As informações oficiais indicam que nestes grupos o déficit chegou a 11.906 casos absolutos na comparação entre 2020 e 2019.
Contudo, deve-se ressaltar que do ponto de vista proporcional a maioria dos seguimentos apresentou comportamento semelhante, com destaques para os grupos de 0 a 19 anos (-30%); 30 a 34 anos (-28,8%); e 75 a 79 anos (-27,6%). Separados por sexo, o número de diagnósticos sofreu queda de 26% entre as mulheres e de 23% entre os homens.
Os estados com maior redução no número de notificação de diagnóstico do câncer de pele foram: São Paulo (-4.115), Paraná (-2.838) e Rio Grande do Sul (-2395). Em termos percentuais, se destacam o Piauí, com queda de 46%, Mato Grosso (-43%) e Mato Grosso do Sul (-42%). Por outro lado, houve aumento de diagnósticos em oito estados, com números significativos em Amazonas, Rondônia e Sergipe.
No entanto, a SBD ressalta que os números podem não expressar a realidade epidemiológica no País, especialmente nas regiões Norte e Nordeste. Isso ocorre devido aos problemas de atualização das bases de dados existentes, o que sugere um quadro de subnotificação.
Em 2021, os números (dados/índices) ainda não superaram os anteriores à pandemia, levando-se em conta sobretudo os registros dos meses de abril, maio e julho. Contudo, no confronto com o que foi realizado em 2019, os números ainda estão 24% menores em termos globais.
Com respeito aos indicadores de mortalidade, percebe-se que não houve alteração significativa nos períodos avaliados. Apesar das quedas significativas nos totais de diagnósticos de novos casos de câncer de pele e mesmo de internações para seu tratamento, o número de mortes atribuído a essa doença apresentou apenas uma oscilação de 2% para menos, na comparação de 2020 (4.481 registros) e 2019 (4.594). Ao longo de 12 anos (desde 2008), calcula-se que 46.534 faleceram por conta desse problema de saúde.