NOVA BAHIA 2024

Empreendedora indígena que começou vendendo frutas desidratadas hoje tem sua própria marca de chocolates

Katyana Xipaya vê em seu empreendimento a oportunidade de deixar o legado do empreendedorismo para os seus parentes.

Katyana Xipaya é líder da comunidade indígena Ribeirinha de Jericoá 2. Divulgação

Katyana Xipaya, 36 anos, é líder da comunidade indígena Ribeirinha de Jericoá 2, em Altamira, no Pará. Em busca de formas de conseguir renda com seus conhecimentos agrícolas, ela lançou a marca Sidjä Wahiü, que significa mulher guerreira, e começou com a produção de frutas desidratadas, em 2022. Com o lançamento de uma linha de chocolates neste ano, o negócio tem tido um crescimento além do esperado.

“Nós plantávamos apenas para a comunidade em pequena quantidade, então decidimos passar a ter uma renda com isso”, conta Xipaya. Na escolha do nome do negócio, a empreendedora quis representar as lutas e a força das mulheres indígenas. “Não é fácil para nós mulheres, são muitas barreiras”, diz.

O início se baseou na produção artesanal de frutas desidratadas, que é feita com a exposição delas ao sol. As espécies são majoritariamente nativas e produzidas conforme cada safra do ano. Há desde as mais conhecidas, como a banana, até outras menos popularizadas, como o Cajá. “Queremos que as pessoas realmente conheçam as frutas nativas, que muitas vezes são destruídas na Amazônia”, afirma.

Já a produção do chocolate começou com o apoio do Belo Monte Empreende, que promoveu orientação sobre a plantação do cacau na região do Xingu. Após entender sobre o cultivo da planta e a produção do chocolate e fazer um curso de chocolatier, a empreendedora apresentou a ideia de negócio no projeto. Segundo ela, trata-se do primeiro chocolate produzido na região.

“Conseguimos destaque porque mostramos que todo o nosso produto era sustentável. A gente desenvolveu até as próprias embalagens, que são feitas de biofibras”, explica Xipaya. As embalagens são biodegradáveis e ainda possuem sementes de árvores colhidas na comunidade – assim, à medida que o material volta para a natureza, uma nova árvore pode nascer.

Com a visibilidade, a Sidjä Wahiü firmou uma parceria com a Cacauway, onde os chocolates passaram a ser produzidos, enquanto a comunidade não tem os equipamentos necessários. Xipaya diz que 50% dos lucros vão para o seu negócio e a outra metade fica com a empresa.

Os chocolates são 72% cacau, utilizando o cultivo da comunidade como insumo, e não têm adição de açúcar. Segundo ela, as frutas desidratadas adicionadas por cima do produto contribuem para que ele fique mais doce.

Os produtos são vendidos na comunidade, na cidade de Altamira, em feiras e nas lojas da Cacauway. Além de serem usadas na produção dos doces, as frutas desidratadas são vendidas para outras empresas, que as utilizam em diferentes produtos. As embalagens produzidas pela Sidjä Wahiü também chamaram atenção e hoje são fornecidas para outras marcas, segundo Xipaya.

A empreendedora não abre o faturamento, mas conta que as vendas estão sendo constantes desde o lançamento do chocolate. “Está vendendo muito bem, a nossa expectativa não era tão grande”, conta.

O objetivo, agora, é se estruturar para realizar todo o processo da fabricação do chocolate. Mas Xipaya conta que a sua principal meta com o negócio é mostrar para a sua comunidade a possibilidade de empreender. “Estamos acostumados a passar os nossos conhecimentos para o branco, e temos uma riqueza muito grande na Amazônia que está sendo levada por países estrangeiros. Então quero deixar um legado de luta e força.”

Fonte:Um só planeta 

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