O mercado internacional do cacau vive mais um capítulo de forte volatilidade, com os contratos futuros registrando disparadas impulsionadas por uma combinação explosiva de oferta restrita, preocupações com a qualidade da safra e instabilidade política na Costa do Marfim — maior produtora mundial da commodity.
O contrato de julho oscilou bruscamente nesta quinta-feira, atingindo mínima de US$ 9.651 e máxima de US$ 10.681 por tonelada. O fechamento se deu em US$ 10.257, uma alta de US$ 338 no dia. Foram negociados 10.410 contratos, com um volume total de 24.997, enquanto o interesse em aberto — indicador da disposição dos investidores em manter posições — subiu para 103.112 contratos, reforçando o apetite especulativo diante do cenário atual.
O estopim para a nova escalada de preços está nas condições adversas da nova safra na Costa do Marfim. Relatórios recentes indicam não apenas uma colheita menor, mas também um declínio acentuado na qualidade dos grãos. Isso agrava ainda mais a escassez global, já sentida nos últimos meses, pressionando os estoques e os preços.
Além dos fatores agronômicos, cresce a apreensão no campo político. A possível candidatura de Tidjane Thiam — ex-CEO do Credit Suisse — como nome de oposição ao governo atual vem acirrando tensões internas. Observadores internacionais temem que o avanço de Thiam possa desencadear protestos ou instabilidade, afetando diretamente a logística e a produção agrícola no país. Esse risco político adiciona uma camada extra de incerteza para um mercado já pressionado.
Nos Estados Unidos, os estoques certificados nos portos monitorados pela ICE subiram para 2.130.965 sacas, o que trouxe um pequeno alívio no lado da oferta, mas ainda insuficiente para conter a escalada dos preços diante das dúvidas sobre os próximos embarques africanos.
Enquanto isso, os demais mercados financeiros continuam atentos ao comportamento macroeconômico. Em Wall Street, os índices seguem positivos, impulsionados por uma inflação mais fraca em abril e pela possibilidade de flexibilização na política monetária. Contudo, os investidores mantêm cautela diante do quadro global incerto.
No câmbio, o contrato futuro do real frente ao dólar com vencimento em 31 de junho é negociado a R$ 5,705 na CME, refletindo o ambiente de volatilidade nos mercados emergentes.
Ainda hoje, os dados de construção de novas casas e permissões para novas edificações nos EUA serão divulgados, podendo oferecer novas pistas sobre a saúde da economia americana. Mas, por ora, o protagonista do dia segue sendo o cacau — com um mercado nervoso, atento às nuvens que se formam sobre a África Ocidental.
Fonte: mercadodocacau