Menos engessado do que o realizado pela mesma Bandeirantes com os presidenciáveis, na semana passada, o debate entre os candidatos a governador da Bahia, promovido ontem à noite, deu uma primeira oportunidade para quem o assistiu de conhecer um pouco melhor os postulantes. Foi favorecido pelo número menor de candidatos: seis. Ponto alto também para a regra que permitiu aos debatedores se questionarem mutuamente, oportunidade limitada por sorteio, mas ainda assim capaz de revelar mais dos candidatos do que eles certamente gostariam.
A surpresa da noite foi o candidato José Ronaldo, da coligação “Coragem para Mudar a Bahia” (DEM, PSDB, PSC, PTB, PRB, PV, PPL e Solidariedade), que mostrou que sabe falar e usar a palavra muito bem para confrontar um adversário, no caso o governador Rui Costa, da coligação “Mais Trabalho por Toda a Bahia” (PT, PSB, PSD, PP, PC do B, PR, PDT, PRP, PMB, PTC, PMN, Podemos, Avante e Pros), candidato à reeleição e favorito ao pleito, segundo as pesquisas, e, por este motivo, alvo preferencial das críticas e questionamentos durante uma parte do evento.
O governador foi dos que, visivelmente, se mostraram surpresos com a agressividade de Ronaldo. Mas não só com a dele. Sujeito natural da maioria dos questionamentos num dado momento do confronto, Rui revelou estar pouco afeito ao revide pronto e controlado, consequência provavelmente da pouca experiência que tem tido com embates diretos nestes mais de três anos e meio em que exerce o governo da Bahia. Deve ter percebido o quanto o poder, com o séquito de puxa-sacos que arregimenta e aparentemente protege, também fragiliza seu detentor ante a realidade e a disputa.
Com experiência vasta na vida pública, representada pelo exercício entre outros cargos do de ministro, João Santana, da coligação “Pra mudar de verdade” (MDB, DC), teve desempenho incapaz de o colocá-lo à frente do concorrente do DEM na corrida para ser o maior adversário do governador. Produziu uma frase interessante, ainda que não tenha parecido proposital, ao declarar, para firmar seu histórico de agente público íntegro, que “ninguém nunca me ofereceu um relógio”. Relógio…, relógio, relógio!? Mais oportuno para um debate entre os candidatos ao Senado.
O bem vindo fator entrópico, aquele que desorganiza o coreto, foi representado muito bem pelo candidato Marcos Mendes, da coligação “Vamos juntos sem medo de mudar a Bahia” (PSOL), tão veterano em debates quanto em disputas majoritárias. Portando sua submetralhadora giratória, disparou contra Rui, Ronaldo, ACM, avô e Neto, Michel Temer e até o presidente da Câmara de Vereadores de Salvador, Leonardo Prates (DEM), que, do jeito que gosta de votos, devia estar correndo atrás deles em algum rincão do interior enquanto a bagaceira se desenrolava.
O representante do PSOL mostrou que estava ali mais para confundir do que esclarecer, mas ainda assim produziu duas boas frases de efeito: A “cinquenta tons de ACM” e a subsequente, a “cinquenta tons de Temer”, para dizer que todos, à exceção dele próprio, naturalmente, eram farinha do mesmo saco derramado, daquela encontrada na Cesta do Povo, cuja privatização lamentou. Em um dos confrontos com Rui, sapecou outros dois pensamentos supimpa: “Voce tem uma equipe carlista de frente”, disse, referindo-se aos principais aliados do governador, todos egressos do carlismo. Mas não parou por aí.
“Você defende um modelo hospitalicêntrico”, inventou, provavelmente provocando um rápido curto-circuito nos neurônios cansados da audiência que tinha conseguido acompanhar o embate até aquele momento, para criticar o fato de, ao falar sobre a saúde, o governador ter elencado as construções que fez no setor para a população. Por algum motivo, a candidata da coligação “Sustentabilidade pela Bahia” (Rede), Célia Sacramento, rendeu menos do que o esperado. Ficou uma arara com um questionamento sobre ter migrado da base de ACM Neto, de quem foi vice-prefeita, para a Rede, da pura e ilibada Marina Silva, a Santa.
Também não conseguiu dizer a Rui, pelo que se depreendeu, que Michel Temer, atacado várias vezes pelo governador, só virou presidente por ter sido escolhido vice de Dilma Rousseff pelo PT e Lula. Precisava de um ponto e teria um se fosse uma candidata rica. Quanto à passagem pela vice-prefeitura no governo de Neto, não escondeu a mágoa com o prefeito, que a preteriu em favor da escolha de Bruno Reis (DEM) para vice em seu segundo mandato: “já fui vice, apesar de o prefeito ter me dado o golpe”, afirmou, ao falar sobre onde, na sua carreira política, tudo começou.
O candidato João Henrique, da coligação Aleluia, irmão!, ou melhor, da “Bahia acima de tudo, Deus acima de Todos” (PRTB, PSL), pode mostrar mais uma vez como nasceu para o vídeo e as câmeras o acolhem. Com certeza, enrolaria todo mundo e entregaria para venda, não fosse já um grande conhecido do ilustríssimo eleitor. Foi um dos que se colocaram muito bem, menos pelo conteúdo do que pela forma. Com certeza, se Deus, estando acima de todos, passasse por cima da legislação e lhe desse mais tempo no horário eleitoral, ia causar algum estrago. Até Rui lhe deu trela.