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Carnaval de São Paulo já tem mais desfiles de blocos que o Rio

A alta é de 12,4% ante o ano anterior, que teve 459, e é o triplo de 2014 (com 172). Já o Rio terá 498 cortejos (em 2018, foram 437)

Antes, eram só centenas de gatos pingados, arlequins perdidos e colombinas sem par. Antes de 2013, colocar um bloco nas ruas de São Paulo implicava mergulhar em um labirinto burocrático, tratar com despachantes e, eventualmente, se jogar na ilegalidade – saindo com pouca ou nenhuma estrutura e exibindo a “deprê” que um dia foi passar o carnaval na cidade.

Hoje, a folia de rua paulistana está, ao menos, e em vários quesitos, no mesmo patamar do tradicional carnaval de blocos do Rio. Em termos de número de blocos, por exemplo, São Paulo já está um pouco na dianteira.

Até 10 de março são previstos 556 desfiles, de 516 blocos oficiais, recorde da festa de rua na cidade. A alta é de 12,4% ante o ano anterior, que teve 459, e é o triplo de 2014 (com 172). Já o Rio terá 498 cortejos (em 2018, foram 437). A estimativa de público para São Paulo também é superlativa: 12 milhões. A expectativa é de 7 milhões no Rio.

E os megablocos cariocas já desembarcaram em São Paulo, como Sargento Pimenta, Bangalafumenga, Monobloco, Bloco da Preta e outros. Artistas como Alceu Valença, Daniela Mercury, Maria Rita e Pabllo Vittar também subirão nos trios elétricos da cidade. Se há dez anos um bloco como o Acadêmicos do Baixo Augusta era praticamente uma ação entre amigos e não arrastava mais do que 1,5 mil pessoas, hoje consegue puxar mais de 1 milhão.

A Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviço e Turismo divulgou pesquisa em que já coloca São Paulo em segundo lugar em faturamento de carnaval, com potencial de R$ 1,9 bilhão. Para o Rio, o faturamento previsto é de R$ 2,1 bilhões. Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Hotéis, seção de São Paulo, a taxa de ocupação dos hotéis é cinco vezes maior do que era há dez anos.

Nos hotéis mais econômicos localizados na rota de blocos de rua, a ocupação chegou a 85% dos quartos no último fim de semana, aumento que reflete a mudança no perfil do turista de carnaval em São Paulo. O Airbnb divulgou que a procura por hospedagem em São Paulo cresceu 87% em relação a 2018 – atrás só de Rio e Florianópolis.

Claro, nada disso é à toa. Nas últimas gestões municipais, o potencial financeiro da folia de rua não tem passado despercebido pelo poder público. Este ano, o patrocínio supera os R$ 16 milhões – com recursos para carros de som, ambulâncias, segurança e limpeza. A profissionalização e a capacidade dos blocos em angariar verba própria também cresceu. “Com a profissionalização, estamos fazendo um carnaval mais democrático, sem cordas e espalhado pela cidade”, disse Alan Edelstein, um dos sócios da Oficina da Alegria, produtora especializada para a folia.

Nos bastidores, a organização dos blocos que transitam entre o eixo Rio-São Paulo vê mais “boa vontade” das autoridades paulistanas. Neste ano, grupos cariocas tiveram dificuldade até de conseguir autorização para os desfiles (mais informações nesta página). “Em São Paulo, o carnaval tem sido encarado como solução para um período do ano em que a cidade ficava vazia e a economia não girava. Agora, a realidade é diferente”, diz Felipe Menasche, gestor de projetos do Pipoca, outra produtora especializada.

Turismo

O carnaval tem atraído também visitantes do interior, impulsionando excursões. A Denis Excursões, de Santos, traz foliões para a capital há quatro anos, mas, desta vez, ampliou para quatro datas. “O Bloco do Dennis (do Dennis DJ, que toca funk e foi às ruas no pré-carnaval) foi o que teve a maior procura (mais de cem pessoas). No ano passado, foi o Monobloco”, diz Denis Cardoso, dono da empresa de viagens, que também terá passeios para ver os blocos de Claudia Leitte e Preta Gil, no pós-carnaval.

Já a Vision Eventos, de Campinas, leva excursões para os blocos de São Paulo pelo segundo ano seguido. Em 2018, a viagem foi de van. Desta vez, será de ônibus. “Muita gente começou a procurar”, diz Laerte Machado Filho, sócio da empresa. Segundo ele, a procura maior é de foliões entre 18 e 30 anos.

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