Jon Jones quebra o protocolo e abre mão da atividade para distribuir autógrafos e tirar fotos com os fãs. Após misto de reações, Daniel Cormier cativa os fãs ao discursar
A música agitada, típica de academia, ficou no volume mínimo. As luvas foram ignoradas, assim como a manopla. A trilha sonora que embalou o treino-aberto do UFC 214, nesta quinta-feira, na UFC Gym, em La Mirada, na Califórnia, foi tipicamente brasileira. E a responsável por isso atende pelo nome de Cris Cyborg. A atleta colocou uma pitada verde e amarela no octógono jogando capoeira e, literalmente, sambou no centro do octógono, ao som do pandeiro, tocado por seu irmão Rafael, e do berimbau afinado de Felipe Werdum, integrante de sua equipe e irmão de Fabrício, peso-pesado do Ultimate.
Especialista em muay thai, Cris Cyborg treinou umas posições de jiu-jítsu, mas foi através da capoeira que Justino – boa parte do público a chamava pelo sobrenome -, se destacou. Rubens Charles, o Cobrinha, responsável por afiar a arte suave da curitibana, jogou capoeira com ela. O faixa-preta bem que tentou ensinar os gritos de “paranauê, paraná” aos americanos, mas não conseguiu emplacar.
– Quando estou treinando jiu-jítsu, faço o aquecimento de capoeira, gosto da energia e das músicas. Eu quis mostrar um pouco da cultura brasileira para os fãs. Estou aprendendo também, não sei nada de capoeira, só um pouco, me enrolei um pouquinho. Agradeço ao pessoal da capoeira que vem torcendo por mim e manda várias mensagens – declarou a especialista em muay thai.
Descontraída, Cyborg – adversária de Tonya Evinger na disputa do título vago do peso-pena – se sentiu em casa diante de tanto apoio. Um torcedor mais exaltado berrava: “Eu te amo, Cyborg!”. À vontade e sorridente, a curitibana utilizou o som do pandeiro, então, para sambar no octógono. Renegada e, muitas vezes, maltratada pelo UFC, a curitibana mostrou seu show é garantido dentro e fora das “oito linhas”.
Lutadora mais aplaudida desta tarde, Cris Cyborg pegou o microfone para saudar os fãs e, com as mãos, sinalizou na cintura o que pretende conquistar no sábado, no UFC 214.
– Obrigado por virem, Nação Cyborg. Sábado colocarão o cinturão na minha cintura. Obrigado pelo apoio. Obrigado, Dana White, UFC e todo o meu time. Vejo vocês no sábado.
De volta a uma disputa de cinturão, Jon Jones, que encara o dono do título dos meio-pesados Daniel Cormier, na luta principal do evento, mostrou que, se a organização o destituiu da condição de campeão, ela jamais poderá remover a idolatria que os fãs têm por ele.
Jon Jones seguiu o cronograma traçado pelo UFC e foi o primeiro dos seis atletas escalados para o treino-aberto a aparecer. Entretanto, ao subir ao octógono, quebrou o protocolo. Com o microfone em punho, apresentou um a um os integrantes do seu time. “Bones” convocou Brandon Gibson (boxe), Israel Martinez (wrestling), Roberto Tussa (jiu-jítsu) e Michael Benefield, seu parceiro na luta olímpica.
Sem titubear, Jon Jones sequer esboçou qualquer simulação ou movimento de luta no cage. Reuniu os seus pares e foi aplaudido. Treinador de jiu-jítsu do atleta, Tussa afirmou ao Combate.com que o ex-campeão tem o hábito de demonstrar gratidão a quem o ajuda.
– Ele é querido pelos fãs porque dá essa atenção. Os fãs são o patrão dele. Ele vê essa energia como uma coisa positiva, gosta de ouvi-los. Isso dá confiança ao Jones. Ele falou que está feliz de estar de novo. Ele disse: “Eu amo fazer isso”. Ele não fala: “Que mer**, tenho que estar aqui”. Ele sempre dá valor aos técnicos, fala que sem a gente não conseguiria ser quem ele é. Isso é legal pra caramba.
Após descer do octógono, Jon Jones começou sua peregrinação através do cercado que a organização montou para a torcida. Pacientemente, autografou camisas, bonés, capas de celular, fotos, cartazes e até livros. Fora incontáveis selfies com cara de mau ou fazendo careta. Todos queriam arrumar uma maneira de eternizar a proximidade com o ídolo. As pessoas encostavam em Jon Jones e olhavam para o lado com ares de incredulidade. Crianças pediam um “hi five” e eram atendidas.
Durante mais de quarenta minutos, Jon Jones percorreu todas as áreas onde estavam os fãs. Ah, enquanto ele dava atenção ao público, Tonya Evinger, adversária de Cris Cyborg, se apresentava no cage. Um treino para lá de discreto, pouco notado pela plateia.