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Acidente na BR 101: donos da carreta coagiram funcionários a mentirem em depoimento

Para o delegado Alberto Roque, titular da Delegacia de Delitos de Trânsito, em Vitória, já está bem claro: os irmãos Leocir Pretti e Jacimar Pretti, donos da Jamarle Transportes, empresa proprietária do caminhão envolvido no acidente da BR 101 que vitimou 23 pessoas, no dia 22 de junho, são os principais responsáveis pela tragédia. Prova disso foram as interceptações telefônicas feitas com autorização judicial, que demonstram que, mesmo após a maior tragédia terrestre da história do Espírito Santo, eles continuaram com as mesmas práticas causadoras do acidente.

Leocir foi preso na quarta-feira (24) e Jacimar nesta quinta-feira. Após o acidente, os caminhões da empresa continuaram rodando sem manutenção, com excesso de carga e fugindo da fiscalização. Tudo orquestrado pelos irmãos que, nos áudios, orientam os motoristas a realizarem essas práticas. Mais grave ainda, ao saber que seus funcionários prestariam depoimentos, ele os aliciou, obrigando-os a mentirem e ameaçando-os com a perda do emprego, caso não o fizessem. Outros, que já haviam saído da empresa, ele orienta a mentirem, prometendo o emprego de volta.

“O que percebemos durante o trabalho de interceptação: ele estava orientando as testemunhas, os seus motoristas a mentirem aqui em juízo. Na quarta feira ele estava aliciando testemunhas, orientando a mentirem em depoimento, ou seja: omitirem o fato da manutenção dos veículos, excesso de peso, orientados a fugir dos postos de fiscalização da polícia e do DNIT”, afirmou o delegado.

As interceptações iniciaram no dia 27 de junho, três dias após a soltura de Jacimar (ele havia sido preso no dia 23 de junho).  Em outro áudio, Leocir fala com dono de pedreira para a qual prestava serviço que transportou 60 toneladas em pedras, enquanto na carreta são apropriadas até um máximo de 40 toneladas.

“Eles chegaram a transportar 50% a mais do permitido. Além dos freios estarem menos da metade da sua capacidade, além dos pneus carecas, além da ausência do tacógrafo, de não estar regulamentado, o velocímetro estava marcando 20km por hora a menos. Ou seja: se estava a 60km, estava marcando 40km”, revela o delegado.

Coagido a mentir

De acordo com o delegado, em depoimento, um dos funcionários mentiu ao ser questionado sobre as práticas irregulares dos irmãos donos da empresa, especificamente sobre a fuga da fiscalização por conta do excesso de peso. Ele não sabia que o áudio interceptado continha uma conversa dele com Leocir. Após o delegado ter dado voz de prisão a ele, em função do falso testemunho, ele contou a verdade.

“Em depoimento depois, sem a presença do advogado, ele abriu o jogo e contou a verdade que mesmo depois do acidente continuou trafegando com excesso de peso. Ele afirma que sempre carregou excesso de peso, sempre fugiu da fiscalização, fazendo a rota que passa por dentro de Aracruz, para sair em Jacaraípe e fugir do posto da Serra. Ele foi coagido a mentir, então foi vítima de um crime de coação à testemunha. Porque o Jacimar e o Leocir, na terça feira (22) fizeram uma reunião com ele dizendo que tinha que vir aqui falar que o caminhão era bem manutenido e que eles nunca orientaram ele a fugir de fiscalização e sempre transportou dentro do peso legal. E que se ele não fizesse isso ele ia perder o emprego. Em uma época de crise, em que tá todo mundo passando dificuldades, ameaçar alguém de perder emprego, eu entendo, o juiz entendeu como uma grave ameaça”, explicou o delegado.

Prisão preventiva e irregularidades contínuas

O mandado de prisão dos dois irmãos é de cinco dias, e o delegado já pediu prorrogação por mais cinco dias. Eles estão presos no Centro de Detenção Provisória (CDP) de Colatina. O delegado já avisa que vai pedir prisão preventiva dos irmãos.

“Provavelmente vou pedir prisão preventiva, já que foi uma conduta que praticaram várias vezes, ou seja, várias vezes aliciando testemunhas, ameaçando, o que é um risco ao processo e até à ordem pública social. A comoção do fato, a maior tragédia terrestre do ES, foi motivada bem claro agora pela ganância dos empresários, e eles continuam fazendo agora a mesma coisa. O dolo eventual já ficou provado”, frisou Roque.

Ele informou também que a empresa Jamarle, antes mesmo do acidente, já tinha se envolvido em acidentes, tinha vários autos de infração por má manutenção de caminhão, por tacógrafo, e por excesso de peso. “Houve uma autuação da PRF recente pela mesma coisa, semana passada ou retrasada, por excesso de peso. Ou seja, está bem provado que mesmo depois de tudo o que aconteceu eles continuam trabalhando da mesma forma”.

Confira o vídeo em que o funcionário confessa que foi coagido pelos irmãos a mentir no depoimento:


 

 

SIEL GUINCHOS

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