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Jiu-Jistsu: Heróis da resistência

Atletas da academia em Nova Brasília de Itapuã, se viraram para conseguir participar do Sul-Americano

Sem apoio, lutadores baianos recorrem a rifas e a vendas de produtos para conseguir disputar o Sul-Americano do Rio – Foto: Domingos Júnior / @junio.rphoto / Divulgação

Títulos estaduais, regionais, nacionais e internacionais. Para seis lutadores baianos de jiu-jítsu, nada disso é o bastante para atrair  investidores. Mas esses heróis da resistência mantêm vivo o sonho de viver do esporte. Mateus Fernandes, 18, Bosko Ribeiro, 31, Magda Souza, 36, Ítalo Esteves, 24, Gabriel Angeiras, 26, e Cauã Levi, 16 – todos atletas da academia Six Blades, localizada em Nova Brasília de Itapuã, em Salvador –  estreiam neste sábado, 14, no Campeonato Sul-Americano de Jiu-Jitsu, no Rio de Janeiro.

Para confirmar a participação no torneio, uma verdadeira ‘operação de guerra’ foi montada. Colegas, amigos e familiares se juntaram para fazer ações, como rifas, e contam também com ajuda/doação financeira.  Só as inscrições custaram entre R$ 222 e R$ 239 por competidor. Além disso, a própria Six Blades auxilia, dentro da sua realidade, nos custos e na preparação em geral  para os campeonatos. A equipe sequer conseguiu viajar junta, uma parte foi de ônibus no domingo, outra na terça-feira – uma viagem de quase dois dias –, enquanto Mateus e Bosko seguiram na madrugada de quinta-feira de avião.

Sem o suporte financeiro necessário para viver exclusivamente do esporte, os atletas aliam estudo e/ou profissão com os treinamentos, o que não é fácil. “Será minha primeira vez disputando um torneio internacional, então estou treinando intenso de segunda a sábado, fazendo dois a quatro treinos por dia. E minha maior dificuldade ainda é o colégio, eu estou no último ano. Porém, alguns professores ajudam. Eu consigo faltar alguns treinos pela manhã e recuperar meus treinos entre outros horários que antes não existiam na academia”, conta Mateus Fernandes, campeão baiano e do Nordeste.

Já Cauã Levi resolveu tomar uma medida ainda mais extrema para poder focar na carreira de lutador. Atual campeão brasileiro e bi-campeão sul-americano, ele abandonou os estudos, temporariamente. “Os atletas daqui da academia têm várias dificuldades. No meu caso, eu tive que abdicar da escola para focar 100% nos treinos e nas competições. Está sendo uma mudança de rotina muito grande, mas estou me adaptando”, garante.

Bicampeã brasileira e vice no Internacional Master, Magda Souza tem levantado fundos através de venda de camisas. “Este ano produzi várias camisas, consegui vender para amigos, colegas, fiz rifa. Porque se ficarmos só focando na dificuldade a gente não vai nunca atrás do que a gente almeja. Então, consegui juntar uma quantia para o Brasileiro, e agora ainda tenho o resto para o Sul-Americano. E para o ano que vem a gente já tá produzindo camisa também. É correr atrás do sonho e no final tudo dá certo”, motiva-se, antes de desabafar: “O esporte na Bahia tem que olhar mais  pelas mulheres, para a base. Se tiver mais mulheres na profissão, isso vai ser bom pra todo mundo. Se o governo  olhar mais para a gente, será ótimo”.

Metas e expectativas

Sensei da academia, ao lado do professor Diego Kalil, Bosko Ribeiro, também responsável pela preparação dos lutadores, falou sobre a preparação dos competidores  e enalteceu o ano dos atletas. “Tivemos um primeiro semestre muito bom, com três campeões brasileiros. Rodamos seis países, conquistamos mais de 12 medalhas. Primeiro lugar no ranking nacional com o nosso professor [Kalil], e estamos em busca do Sul-Americano. Estamos muito bem preparados e estamos atrás de mais suporte para que a gente consiga mandar cada vez mais atletas e realizar mais sonhos”, afirma.

Apesar de não ter ido para o Rio, o sensei Diego Kalil também compete pela Six Blades e já conquistou grandes títulos. Neste ano, focou no circuito de Abu Dhabi Jiu-Jitsu Professional (AJP). Ele não pôde estar nas principais etapas da AJP, e ainda assim ficou bem colocado no ranking da organização (6º lugar). Para ele, apoio financeiro seria o “ponto-chave” para que os atleta de todo o estado, pudessem focar apenas nas competições.

“Talvez, se eu tivesse recurso para pelo menos lutar nas principais competições, teria grandes chances de ficar em primeiro lugar no ranking. Isso representando a Bahia e também morando no estado, o que eu acho que nunca aconteceu aqui com nenhum atleta”, suspira Kalil.

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