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Famílias baianas se viram com salários abaixo do mínimo

Pesquisa do IBGE mostrou recuo de 2,4% em renda per capita domiciliar na Bahia

No bairro Pontal, um dos mais populares de Ilhéus, no Sul da Bahia, a dona de casa Elizabeth Conceição Santos de Jesus, 32, mora numa casa com três filhas e o marido, que vive de trabalhos temporários como ajudante de pedreiro. A única renda fixa da família são os R$ 424 que ela recebe do programa federal Bolsa Família. Às vezes ela recorre à mãe, a aposentada Valquíria Santos de Jesus, 70 anos, como fez por esses dias.

A mãe recebe aposentadoria e pensão do marido, falecido há 16 anos. A renda de dona Valquíria é de pouco mais de R$ 2 mil. “De vez em quando venho ficar aqui, minha mãe mora só, então eu a ajudo também”, falou.

A situação econômica de Elisabeth se enquadra na pesquisa sobre renda per capita familiar divulgada nessa quarta-feira (27) pelo IBGE. A pesquisa aponta que a renda domiciliar per capita na Bahia, em 2018, ficou em R$ 841, o que representa recuou de 2,4% em relação a 2017.

O valor é abaixo do salário mínimo do ano passado, de R$ 954, e é ainda menor que o rendimento domiciliar per capita médio do país (soma dos rendimentos de todas as fontes de cada morador do domicílio dividido pelo total de moradores), de R$ 1.373.

Com isso, a Bahia caiu seis posições no ranking nacional desse indicador, indo do 11º rendimento domiciliar per capita mais baixo em 2017 para o 5º mais baixo no ano passado, superando apenas os estados de Piauí (R$ 817), Amazonas 
(R$ 791), Alagoas (R$ 714) e Maranhão (R$ 605), que tinha o menor valor do país.

A Bahia também perdeu posições em relação aos demais estados do Nordeste. Em 2017, tinha o 2º maior rendimento domiciliar per capita da região, menor somente que o da Paraíba. 

No ano passado, caiu para a 6ª posição, continuando abaixo da Paraíba (R$ 898) e tendo sido superado por Ceará (R$ 855), Pernambuco (R$ 871), Sergipe (R$ 906) e Rio Grande do Norte (R$ 956), que tem o maior valor da Região Nordeste.

No ano passado, o rendimento domiciliar per capita médio na Bahia se manteve como 1/3 do valor do Distrito Federal, que tem a maior renda domiciliar per capita do país (R$ 2.460).

Além da Bahia, apenas outras 4 das 27 unidades da Federação tiveram queda nominal no rendimento médio domiciliar per capita entre 2017 e 2018. O Distrito Federal teve a variação mais negativa (-3,5%).

Explicações
Para economistas, a pesquisa mostra um cenário que é consequência da alta geração de empregos informais na Bahia, estado com maior número de beneficiários do Bolsa Família no Brasil, com 2.030.262 inscritos.

O presidente do Conselho Regional de Economia da Bahia (Corecon), o economista Gustavo Casseb Pessoti observou que em momentos de crise mais intensa, como a de 2016, quem mais sofre são as pessoas que possuem empregos informais.

“Quando temos uma crise, isso empata todos os negócios, devido a queda do poder de compra, que fica mais evidente, sobretudo no interior do estado, onde a quantidade de trabalho sem carteira assinada é maior”, afirmou.

Vista por empresários como necessária para que a economia do Brasil volte a crescer, a reforma trabalhista acentuará ainda mais o problema, na opinião de Casseb, também diretor de Indicadores e Estatísticas da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI), autarquia estadual. “Com a reforma trabalhista em curso, vai ter muito trabalho gerando baixos salários”, ele disse.

Ao fazer uma análise macroeconômica dos dados do IBGE, o doutor em Economia Aplicada Henrique Tomé da Costa Mata, professor do curso de Economia da Universidade Federal da Bahia (Ufba), declarou que ela representa a dinâmica populacional do estado, com concentração de renda em cidades-polo.

“Temos uma concentração grande de recursos na capital e em cidades-polo da Bahia, enquanto o resto acaba ficando quase sem recurso algum, dependente de repasses federais, e isso impacta diretamente na renda das famílias”, comentou.

Consultor econômico da Fecomércio, entidade que agrega vários setores de negócios na Bahia, Guilherme Dietze espera que a renda não só do baiano, mas do brasileiro de uma forma geral, aumente a partir da reforma da Previdência, em curso em Brasília.

“A classe empresarial está ansiosa para que ocorra essa reforma e possa fazer mais investimentos, gerando mais empregos e, consequentemente, mais renda para a população, o que aumenta seu poder de compra”, disse. A expectativa da entidade é que até o final do ano o setor varejista tenha crescimento de 3%.

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