A concessão de financiamento para projetos através da Lei de Incentivo ao Esporte (LEI), a experiência cubana de iniciação esportiva e formação de atletas de alto rendimento, os desafios do paradesporto e a gestão de equipamentos esportivos foram os temas de destaque do segundo e último dia do II Fórum Internacional do Esporte, realizado no Centro Pan-Americano de Judô, na praia de Ipitanga, em Lauro de Freitas.
O criador do departamento de incentivo e fomento ao esporte Paulo Vieira, que atuou no Ministério do Esporte, entre 2009 e 2015, fez apresentação sobre o processo de inscrição e aprovação de projetos esportivos, ressaltando a portaria 155 do ministério que exige mais transparência e maior fiscalização na prestação de contas de verbas públicas.
Vieira deu dicas sobre como ter mais chance de aprovação de propostas. Entre elas, a apresentação de projetos em prazo bem anterior ao prazo final (15 de setembro) e com metas factíveis, pois a verba recebida terá que ser devolvida em caso de não cumprimento do que foi proposto.
“Gastou errado, haverá devolução. Se o responsável morrer, a família terá que pagar” – alertou. Ele informou que em 2017, 337 entidades captaram recursos para seus projetos junto ao Ministério do Esporte.
Experiência cubana – A ex-jogadora de vôlei Yumilka Ruiz, ganhadora de duas medalhas de ouro e uma de bronze em Olimpíadas, e a cônsul geral de Cuba para a região Nordeste, Lara Ivete Pujol Torres, arrancaram aplausos da plateia ao apresentarem a estrutura de formação de atletas e o resultado dessa política nas competições de alto rendimento.
Ruiz, integrante da comissão de esporte olímpico internacional, falou sobre a fase áurea do vôlei feminino cubano, ressaltando que suas companheiras hoje ocupam cargos de dirigentes esportivas e treinadoras em diferentes países, graças também à formação educacional.
Já a cônsul geral Lara Torres contou que os resultados internacionais ocorrem graças à experiência no esporte educacional, onde o ensino é gratuito e universal, da pré-escola à universidade. Segundo ela, o governo cubano investe 28% do orçamento nacional direta e indiretamente na educação e no esporte.
Torres falou ainda sobre as “difíceis condições” de Cuba para desenvolver o projeto esportivo educacional por causa do bloqueio econômico imposto pelos Estados Unidos. “Muitas vezes o professor ensina natação durante anos sem piscina. Onde há piscina olímpica, não chegam os produtos para limpeza e manutenção. O bloqueio impede ou encarece a compra de equipamentos” – relatou.
“Mesmo assim, o país obteve 220 medalhas (77 de ouro, 69 de prata e 74 de bronze) em 20 Olimpíadas de verão e figura como o 18º colocado no ranking”, relatou.
Experiência de Portugal – O diretor da arena multiuso de Odivelas, o português, Pedro Gaspar, expôs as iniciativas que transformaram o empreendimento estatal em um dos mais bem-sucedidos da Europa. Situado em uma área pouco conhecida da Região Metropolitana de Lisboa e construído sem levar em conta dados relevantes sobre o público-alvo, o empreendimento estatal utilizou pesquisas e ações de marketing esportivo para fazer alteração para se tornar superavitário.
A primeira grande alteração foi deixar de ser só uma arena para eventos e se transformar em local que oferece atividades todos os dias da semana para as famílias da região. Uma das mudanças foi a transformação da sala de xadrez em espaço para a prática de atividades aeróbicas, além da oferta de aulas de 15 atividades esportivas.
Outra medida adotada foi a redução da área de estacionamento de cinco mil para 1.500 vagas. Com isso, o espaço exterior também ganhou espaço para atividades esportivas (patinação, basquete, futebol, ecopista, dentre outras) ao ar livre e área para realização de concertos.
Sem preconceito, o equipamento gerido pela representação de esporte da Câmara Municipal de Odivelas passou a receber eventos religiosos, convenção de empresas e musicais – Wesley Safadão e a dupla Simone e Simaria fizeram shows para quatro mil pessoas. Em oito anos de atividade, foram realizados nove mundiais, 17 campeonatos europeus, 109 competições nacionais, 21 eventos empresariais, 16 musicais e 12 religiosos, que garantiram lucro anual de quatro milhões de euros e ocuparam a arena em 44 finais de semana por ano.
As ações de marketing trouxeram excelentes resultados. O uso de artistas e esportistas foi um deles. O cantor português Leandro, ídolo da juventude, foi convidado para participar de aulas de zumba, o que aumentou a frequência do local em 37%.
Foram firmados contratos com o Sporting, vice-campeão europeu de futsal, para a realização de jogos no local. Outra iniciativa foi a parceria para federações de judô, ginástica, dentre outras, realizarem competições sem custos para elas.
A gravação de um comercial nas instalações na arena para a maior rede de lojas esportivas do país rendeu 3h37min de noticiário para o complexo. As ações mais recentes foram o lançamento da candidatura de Odivelas como “Cidade Europeia do Desporto”, em 2020, e o acordo com a Nike para a pintura de um mural gigantesco com a foto de Cristiano Ronaldo e a palavra “believe” (acredite em português) para aproveitar o momento da Copa do Mundo. Com isto, segundo Pedro Vieira, ninguém mais terá dificuldade para localizar a arena.
Saúde e Direito esportivo – O médico Gildásio Daltro, chefe do serviço e do programa de residência médica de ortopedia e traumatologia do Complexo Hospitalar Universitário Professor Edgard Santos, apresentou o tema “ O esporte na perspectiva da Saúde e Inclusão Social”, no qual falou sobre benefícios e riscos da iniciação esportiva e da prática de atividades de alto rendimento, sem acompanhamento médico.
Milton Jordão, presidente do Superior Tribunal de Justiça Desportiva do Judô discorreu sobre as implicações do esporte com o direito civil, penal e trabalhista. Falou também sobre a importância dos gestores da área esportiva terem noção das leis e normas que regem as atividades esportivas.
Ascom/Sudesb