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Superação: Brasileira estreia no UFC após vício em drogas e período em cracolândia

Priscila Cachoeira estava ancorada em um galão de tinta no meio de um matagal em Bangu, bairro do Rio de Janeiro, havia três dias. Não saía daquele local, uma espécie de cracolândia. “Parecia que eu estava acorrentada, uma coisa me puxava”. Foi quando uma mão se esticou: “vamos para casa”.

Era Rosiméri, mãe dela. Naquele momento, Priscila não deixava apenas a cracolândia. Ali acabou quatro anos de vício em crack. No dia seguinte, a carioca começava uma nova jornada e virava lutadora.

No dia 3 de fevereiro, cinco anos após o episódio no matagal, Priscila fará sua estreia no UFC. Em Belém (PA), ela enfrentará Valentina Shevchenko, na terceira luta mais importante do card.

Decepção no Fluminense a levou às drogas

O esporte foi a porta de entrada e de saída das drogas. O vício de Priscila começou com uma decepção quando ela era cotada para as categorias de base da seleção brasileira de vôlei. No Fluminense desde os 10 anos, a líbero ficou de fora de uma final. E não se recuperou.

“Fui titular o campeonato inteiro e, na final, não me colocaram para jogar. O olheiro da seleção estava lá e eu tinha chance de ser convocada. Aquele jogo decidiria se seria eu ou a líbero do Flamengo convocada”, relembrou Priscila. “Dediquei muito tempo ao Fluminense e no momento que precisei deles, me traíram”.

Priscila largou o vôlei e entrou em depressão. No fundo do poço, cavou ainda mais: maconha, cocaína e “loló” foram os estágios antes de se afundar no crack.

“Fiquei muito decepcionada. Larguei tudo e acabei caindo nas drogas. Já tinha sido molestada, meu namorado me traiu. Juntou um monte de coisas. Quando fui ver, estava afundada nas drogas”.

A transição entre os diversos tipos de drogas foi rápida: maconha dos 17 aos 18, cocaína aos 19 e, finalmente, o crack. “Fiquei presa ao crack dos 19 aos 24 anos. Era meu refúgio. Com tanta dor, sofrimento, me drogava para esquecer”.

Priscila tentou de tudo para largar as drogas: pediu ajuda dos narcóticos anônimos, iniciou um curso de cabeleireira, foi trabalhar na feira. Mas nada a satisfazia.

Depois dos três dias presa na cracolândia de Bangu, Priscila encontrou o muay thai. “Com dois meses já tinha feito quatro lutas. A luta estava me trazendo de volta à vida, àquela coisa que eu sentia no Fluminense: a torcida vibrando, a galera me aplaudindo. Precisava disso novamente e encontrei isso na luta”.

Gravidez e recaída na época do muay thai

Priscila ainda lutava contra o vício quando ficou grávida de Juan Marcelo, hoje com cinco anos. O período de gestação foi também o de maior abstinência. “Engravidei dele quando ainda era usuária. Quando descobri a gravidez, parei. Mas na gravidez eu bebia. A bebida supria minha vontade de me drogar. Assim que parei de amamentar, voltei a usar drogas”.

Mesmo livre do crack, as drogas ainda assombravam Priscila. No período de muay thai em Bangu, teve uma recaída com a maconha. O fim do vício ocorreu em sua chegada ao MMA, já como atleta da PRVT, a mesma de Jéssica Bate-Estaca.

“Hoje em dia, se uma pessoa passa com cigarro perto de mim, me dá náusea. Cheiro da maconha me dá náusea. Se eu sentisse antes, me dava vontade. Hoje, tenho nojo”.

Priscila fez oito lutas desde que entrou no MMA, vencendo todas. Fora do octógono, a carioca pensa em maneiras de ajudar pessoas que passam pela mesma experiência dela. “Eu passei por isso e sei como fazer. O que eu puder fazer para ajudar com as minhas próprias mãos, vou fazer”.

 

Fonte: UOL

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