MAIS DESENVOLVIMENTO

Quase 60% dos empreendedores jovens apostam no setor de serviços

Identificar oportunidades ao explorar a criatividade e tomar a iniciativa de, a partir daí, criar um negócio próprio é o que significa ser empreendedor. E essa vontade de comandar a própria empresa tem surgido cada vez mais cedo. Seja por necessidade ou a simples vontade de transformar aquilo que, muitas vezes, é um hobby em uma fonte de renda. Dia 5 de outubro se comemora o Dia do Empreendedor, mas quais as motivações e de que forma esses jovens embarcam no mercado?

Aos 19 anos, Jady Gabriella viu a oportunidade de empreender durante uma viagem. “Uma menina que conheci viu fotos de algumas maquiagens que eu tinha feito em amigas e quis saber quanto custaria para fazer nela”.

Jady faz parte de um grande grupo de jovens que empreendem no segmento de serviços, que, de acordo com dados de 2018 do Congresso Nacional de Jovens Empreendedores (Conaje), é o segmento que 57,3% baseiam seu negócio. Enquanto 30,1% vão para o comércio; 10,5%, indústria; e apenas 3,6%, agronegócio. O importante, explica Sarah Barros, presidente do Conselho Consultivo da Jovem Advocacia, é não achar que o mercado está saturado.

Estudante de odontologia, Jady se perguntou se não poderia se tornar maquiadora profissional. Com o aumento do boca a boca, ela percebeu que o negócio poderia dar certo. O negócio começou com a estudante usando as coisas que tinha, e a base e o pó das clientes. “Depois de um tempo, um tio que mora nos EUA trouxe diversos produtos para que eu atendesse apenas com os meus. Ele investiu cerca de R$ 1.500”. Há um ano com o Jady Gabriella Makeup (@jadygabriellamakeup), foi esse mesmo tio que financiou o curso de maquiagem que a estudante faz hoje junto com a faculdade.

Criatividade e renovação

“Hoje em dia todos estão tentando se destacar, e o empreendedorismo jovem nasce dessa criatividade. O jovem cria algo novo, muitas vezes a partir de algo que ele mesmo estava procurando, mas com algo a mais”, ela comenta. As áreas estão em constante renovação e sempre haverá algo novo para empreender. Por isso muitos jovens buscam negócios que fazem sentido e que estejam alinhados com seus propósitos de vida, explica Marcos Casais.

Presidente da Associação de Jovens Empreendedores (AJE) na Bahia, Marcos conta que ser um jovem empreendedor é ter a habilidade de aprender. “E se reinventar a cada desafio e adversidade, sabendo que não se constrói nada sozinho”. Quanto a idade, o presidente conta que a média dos 300 associados ao AJE é mais próxima dos 30 anos. “Porém entendemos que juventude é um estado: o nosso associado ‘jovem há mais tempo’ tem 77 anos e tem uma mentalidade muito jovial”.

Foi por volta dos 21 anos que a enfermeira de formação Jamile Caicó criou junto com o sócio Uellington Costa a loja online Babychik (@babychik1), que vende pijamas e babydolls. Com um investimento inicial de R$ 5 mil, Jamile, hoje com 26 anos, conta que o lucro chega a 100%. “Recebemos os pedidos online e fazemos a entrega em pontos específicos de segunda a sexta, no horário comercial”.

Ela explica que, para ela, abrir um negócio às vezes pode ser uma válvula de escape para quem está desempregado e que pode ou não acabar sendo o trabalho de sua vida. “O importante é estar ciente que ter empenho em todas as etapas é necessário”. A verdade é que o surgimento de tecnologias e a transformação digital nos negócios tradicionais oferecem muitas oportunidades para quem está começando, “onde tem problema, tem oportunidade!”, ressalta Marcos.

Importância da capacitação

E a capacitação é muito importante. Com MBA em gestão de negócios e graduada em gestão comercial, a ‘soteropaulistana’ Glaucia Sousa, de 33 anos, possui ainda três especializações, três certificações internacionais e é a CEO da Conexão de Valor, empresa especializada em consultoria financeira.

Após perceber o comportamento de consumo e gastos exagerados de colegas e alunos quando chegou à Bahia, ela começou a discutir sobre educação financeira. “Um grande divisor de águas foi quando um aluno meu se suicidou por conta da situação financeira. Naquele momento entendi que precisaria sair da sala e ganhar o mundo com esta temática”, ela conta.

A Conexão de Valor (www.conexaodevalor.net) está efetivamente formalizada desde maio de 2019, mas já atendia há quase quatro anos. Glaucia desenvolveu o programa de consciência financeira, onde a ideia principal é trabalhar o comportamento e as emoções que estão relacionadas ao consumismo e transformar de dentro para fora. “É saber o que realmente importa na sua vida e, ao olhar para o futuro, se perguntar: como você irá se manter quando não puder mais trabalhar?”.

Para a abertura da empresa e formalização, Glaucia investiu R$ 4.500 e acrescentou mais R$ 2 mil de reserva de emergência, já que ao expandir o negócio passou a atender a empresas maiores e, como os processos podem demorar, deixar em caixa um valor de gastos fixos garantidos. “Muitos empreendimentos fecham nos primeiros anos de vida. Falta de conhecimento de mercado, formação de preço de vendas deficitárias e má gestão financeira são grandes desafios de quem está começando”, comenta Marcos.

*Sob a supervisão da editora Cassandra Barteló

Veja também