Há 12 anos, o técnico agrícola mineiro Carlos Tomich comprou uma fazenda de 140 hectares com lavouras de cacau cabruca (cultivo na sombra de florestas nativas) abandonadas em Uruçuca, a 43 km de Ilhéus, no sul da Bahia, para produzir a amêndoa.
Ele recuperou parte das áreas degradadas pela praga da vassoura-da-bruxa da Fazenda Capela Velha, mas, desestimulado com os baixos preços do cacau pago pelas indústrias, decidiu abrir sua propriedade para visitação, focando no turismo e na produção de chocolate e derivados.
Ele fabrica geleia de mel de cacau, licor, chá e mais 32 produtos, em uma pequena agroindústria que instalou na fazenda. O turismo impulsiona as vendas. A produção de amêndoas mesmo representa apenas 25% do faturamento da fazenda.
Neste ano, com os preços recordes do cacau, que passaram da média de R$ 200 a arroba para R$ 1.000, o produtor decidiu que é hora de “virar a chave” e investir pesado na lavoura, visando dobrar a participação da amêndoa entregue às moageiras no faturamento.
Ele obteve um financiamento de R$ 1,8 milhão junto ao Banco do Nordeste para recuperar 25 hectares de área da fazenda com o cultivo de cacau no sistema agroflorestal com açaí e árvores nativas.
O plantio começa em 2025. A expectativa de Tomich é colher os resultados do investimento em dois anos e meio ou três e passar a colher pelo menos 600 kg ou 40 arrobas por hectare. Neste ano, com a seca e as doenças, não conseguiu colher nem 250 kg (16 arrobas) por hectare na área produtiva de 80 hectares.
Novos investimentos
Em Coaraci, a 41 km de Uruçuca, outra fazenda antiga de cacau que pertencia ao avô de Fábio Novitsky, descendente de russos, também ganhou novos investimentos. Fábio, que mora no Canadá, onde trabalha em logística de set de gravações de filmes, vem pelo menos duas vezes por ano ao Brasil para acompanhar de perto a produção de cacau na propriedade que foi herdada por sua mãe.
Ele conta que a fazenda de 130 hectares nunca foi abandonada, mas a produtividade ficou abaixo de 20 arrobas por hectare depois da vassoura-de-bruxa. Há três anos, Fábio decidiu investir em poda, adubação e plantios de clones numa área de 20 hectares, seguindo o modelo que foi aplicado na Fazenda Iguatemi, comprada pelo irmão dele, Adriano, mas sem sair do sistema cabruca, que produz menos, mas demanda um investimento menor do que o sistema agroflorestal. Agora, em sua primeira safra, está colhendo bons resultados.
“O produtor de cacau e seus parceiros (temos 14 na fazenda) estão vivendo uma virada neste ano com renda muito boa, apesar da seca. É hora de ganhar dinheiro com cacau. Todos que investiram estão sendo recompensados. Nossos parceiros estão melhorando o manejo em suas áreas, comprando casas e carros.”
Na avaliação de Fábio, o consumo do cacau está em alta no mundo pela ascensão da classe média e os países africanos, que respondem por cerca de 70% do cacau mundial, vão demorar para recompor sua produção. Com isso, diz, a tendência é que o preço do cacau se mantenha em bons patamares para o produtor brasileiro nos próximos cinco anos, mesmo com a chegada da monilíase, uma nova praga que assusta os produtores e já foi identificada em plantas no Acre e Amazonas.
“O investimento em manejo controla as doenças e mantém a produtividade da lavoura ou não deixa cair tanto. Quem se segurou e investiu na produção está recebendo um presente agora.”
Relação de troca
Adilson Reis, analista do Mercado de Cacau em Ilhéus, diz que o produtor brasileiro, incluindo o agricultor familiar, está tendo neste ano a chance que nunca teve desde a praga da vassoura.
“Estou vendo muita transformação. As vendas de fertilizantes cresceram em torno de 40% a 60%, e a relação de troca melhorou muito. Antes, o produtor gastava uma arroba para comprar um saco de fertilizantes. Hoje, uma arroba compra 5 sacos.”
Ele acredita que, além da manutenção dos bons preços, 2025 será um ano de boa safra no Brasil porque neste final de ano as condições climáticas estão perfeitas, chovendo na hora certa, e os produtores voltaram a fazer os tratos culturais nas lavouras.
Indústria
Anna Paula Losi, presidente-executiva da Associação da Indústria Processadora de Cacau (AIPC), concorda que a hora é de investir. Ela acredita que em 2025 o cacau deve bater novos recordes de preço, já que, apesar das boas notícias sobre a produção futura dos países africanos, o mercado enfrenta um déficit global que já chega a 500 mil toneladas.
A executiva diz, no entanto, que é ilusório pensar que o preço do cacau vai ser sempre alto, e o produtor precisa dobrar ou triplicar a produtividade de sua lavoura para se manter na atividade no futuro. Mas, alerta, não adianta investir apenas em aumento de produtividade.
“Vai sobreviver quem tiver gestão da propriedade. E que olhe também para a sustentabilidade ambiental e social. Hoje, a indústria paga um plus pela rastreabilidade das amêndoas, mas vai chegar um momento próximo em que a rastreabilidade será uma exigência para todos.”
Atualmente, 25% do volume recebido pelas moageiras de Ilhéus é rastreável. As indústrias estudam lançar em 2025 uma cartilha visando aumentar o percentual de rastreabilidade em toda a cadeia.
Fonte: Globo Rural