NOVA BAHIA 2024

Preço do cacau dispara e chocolate pode ficar mais caro no Brasil

Principal insumo do chocolate alcançou o maior valor em 50 anos

O chocolate pode ficar mais caro em breve, depois de uma alta acumulada de 13,61% em 2022, mais que o dobro da inflação média do país medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que ficou em 5,77% no mesmo período. O principal motivo é o preço do cacau, que disparou nos últimos meses e chegou a US$ 3.874 por tonelada em setembro, o maior valor em 50 anos.

Pelo terceiro ciclo consecutivo, a demanda por cacau está maior do que a oferta no mundo. E especialistas acreditam que isto pode se repetir novamente na safra 2023/2024.

“O preço do chocolate foi impactado, no mundo todo, pela alta do insumo principal, o cacau. A bolsa de commodities de Nova York registra um aumento de 49% na tonelada do produto. O açúcar também subiu 8%. Some-se a isso a quebra na safra dos dois maiores produtores mundiais de cacau, Gana e Costa do Marfim. No Brasil estamos no período de entressafra, outro elemento que altera valores de comercialização”, justifica Jaime Recena, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Amendoim e Balas (Abicab).  

O clima também afetou a colheita do cacau no Brasil e em outros países. “A estiagem na safra principal do Pará e as chuvas e o excesso de umidade na safra temporã da Bahia afetaram a produção interna. A Bahia tem duas safras (principal e temporã) e o Pará apenas uma. A perda é de até 30% se comparada com a produção do ano passado. Na África, o problema foi o excesso de chuvas”, afirma Lucimara Chiari, diretora da Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac).

Enquanto a oferta de cacau reduziu no mundo, a demanda pelo produto cresceu em mercados que não eram grandes consumidores. “No caso de alimentos, quando há uma variação tão grande assim de preço costuma ser algum problema de oferta porque dificilmente a demanda vai pressionar tanto. Mas nesse caso, curiosamente, a gente também tem efeitos de demanda, principalmente dos mercados asiáticos, que não compravam tanto cacau antes da pandemia. E esse consumo aumentou bastante a procura no período pós-pandemia”, explica Matheus Peçanha, economista da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Vírus em plantações de cacau

Para piorar as perspectivas sobre o mercado de cacau no Brasil, o Ministério da Agricultura e Pecuária identificou, no mês passado, a presença do Vírus do Mosaico Moderado do Cacau (CaMMV) em plantações no sul da Bahia. Segundo o órgão, a situação está sob controle e com monitoramento permanente. 

“Embora tenhamos identificado o vírus CaMMV no Brasil, estamos tomando todas as medidas necessárias para proteger a produção de cacau do país e garantir que a segurança alimentar e a sustentabilidade da cacauicultura nacional não seja comprometida”, ressalta a chefe da Divisão de Prevenção e Vigilância de Pragas, Juliana Alexandre.

Leite também mais caro

Além do aumento dos preços do cacau e do açúcar, o outro principal ingrediente do chocolate também está mais caro em 2023, mas com uma alta mais tímida do que os outros insumos. O valor do leite subiu 3,06% de janeiro a agosto, de acordo com o IPCA.

O aumento só não foi maior porque os produtores brasileiros estão importando leite da Argentina e do Uruguai, a preços mais baixos. Mas vale lembrar que o produto já havia aumentado 13,2% em 2022, na comparação com 2021. 

Mesmo num cenário difícil, os fabricantes de chocolate estão tentando evitar um repasse muito grande dos custos para os consumidores.

“Pelo menos até agora, os preços do chocolate aqui no Brasil ainda não refletiram esse aumento dos valores dos insumos. Pode ser que com a próxima safra ainda prejudicada e com os outros problemas, esse preço comece a subir no fim do ano ou a partir do ano que vem. Mas, por enquanto, a gente ainda não está sentindo muito isso na gôndola”, afirma o especialista da FGV. O preço do chocolate subiu 4,84% entre janeiro e agosto de 2023, segundo os dados do IPCA. 

SIEL GUINCHOS

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