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Preço de legumes está em queda em Salvador

Custo mais baixo e preocupação com a saúde devem elevar o consumo

As verduras e legumes nunca estiveram tão saborosos, principalmente para o bolso do consumidor. Nas últimas duas semanas os preços despencaram nas feiras da região metropolitana de Salvador, e a redução chega a mais de 70% em alguns hortifrútis.

No maior entreposto de abastecimento da Bahia, a Ceasa de Simões Filho, o preço da batata doce caiu cerca de 33%. A caixa do legume, que custava R$ 120, está sendo vendida por R$ 80. 

A queda de preços no atacado tem se refletido com intensidade ainda maior no varejo. A redução no preço do legume chegou a 65% na feira de São Joaquim, e agora o quilo pode ser encontrado por até R$ 2,50. Bem abaixo dos R$ 7 da semana passada.

As baixas cotações estão sendo registradas também no pepino e na berinjela. Eles tiveram os valores reduzidos em 50% na central de abastecimento. O quilo agora sai até por R$ 2. 

Até o tomate, que nos últimos meses vinha se consolidado como principal vilão da cesta de alimentos, está dando o ar da graça e registrou queda de 71% no atacado. Na Ceasa a caixa do tomate de mesa está custando R$ 40, cem reais a menos do que no início do ano. Nas feiras, o quilo da variedade salada chegou a custar até R$ 7, mas agora sai por R$ 3.

O consumidor se empolga e aproveita para comprar também o pimentão e o repolho que estão 25% mais barato do que no início do mês. Dá para levar ainda um pouquinho mais de batata inglesa que andava sumida da lista de compras, mas está 33% mais em conta. 

“Tem promoção geral estes dias, e está vendendo muito. Principalmente porque algumas frutas ainda continuam com os preços em alta. Aí muita gente acaba consumindo mais verduras”, diz o feirante Luís Vaz, da Ceasa do Ogunjá. 

FATORES

As causas das oscilações nos preços dos legumes e verduras são variadas.

No caso do tomate, a colheita está intensa nas principais regiões do país. Tem remessas boas saindo de Goiás, Minas Gerais e São Paulo, assim como das regiões produtoras da Bahia, onde cerca de 80% da safra de inverno já foi colhida. Na região de Irecê, a cotação deste alimento registrou queda de 22,39% na primeira quinzena de agosto.

Segundo a última pesquisa de oferta de hortifrúti no Brasil, divulgada pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), a desvalorização já era esperada.

“Com o aumento gradual das temperaturas nos últimos dias, a maturação dos tomates se acelerou. Além disso, a primeira parte da safra de inverno continua se intensificando. A qualidade dos frutos em geral é boa, atendendo às exigências do mercado: graúdos e sem manchas. Para a próxima semana, a tendência é que a oferta siga nos patamares dessa, ou até mesmo aumente, uma vez que as temperaturas devem continuar subindo”, diz o relatóri do Cepea.

O ritmo de colheita também está acelerado nas lavouras de batatas. Este mês, 35% da safra de batata inglesa já foram colhidas na maior parte do Brasil, e o percentual já ultrapassou os 60% em São Paulo. Isso fez aumentar a oferta nos mercados e reduzir os preços nas gôndolas.

A situação se repete com a batata doce. No município de Maragogipe, no recôncavo baiano, os agricultores estão em ritmo intenso de colheita. O município é um dos maiores produtores do estado. A expectativa é de que esta safra seja a maior dos últimos cinco anos.

“Sofremos no ano passado por causa da estiagem. Mas nos últimos três meses choveu bem. Os agricultores familiares estão muito satisfeitos porque a demanda pelo consumo está boa, tem cada vez mais gente procurando a batata doce, principalmente as pessoas que fazem exercícios e frequentam academias”, afirma Clerisvaldo Nascimento de Andrade, secretário de agricultura de Maragogipe. Nesta região do recôncavo, a caixa de batata doce que custava R$ 70, agora não passa dos R$ 30. 

Já as hortaliças, como a alface, continuam sendo beneficiadas pelas chuvas regulares das últimas semanas. Mais de 55% da safra de agosto já foi colhida, e a produtividade em alta favorece a queda de preços. Em Salvador, na Ceasa do Ogunjá, o preço da alface caiu pela metade, e a couve está 35% mais barata. 

EXCEÇÕES

Mas nem tudo está verde no mundo dos hortifrutis. As cotações da cenoura vão continuar em alta pelo menos até o fim de setembro, quando a colheita deve aumentar. Segundo o Cepea, o preço do legume chegou a subir 105% em relação ao mesmo período do ano passado. A redução na área de plantio teria sido um dos fatores. Muitos agricultores trocaram o cultivo por outros, como alho.

“Outro motivo que contribuiu para os preços altos é que a oferta nas praças de Cristalina, em Goiás, e Irecê, na Bahia, está extremamente baixa. Poucos produtores estão comercializando a safra de cenoura e o foco de produção mudou para outras culturas”, aponta o Cepea. 

No caso da cebola, a oferta pode até subir agora em agosto, mas os preços devem permanecer altos, porque a safra não será suficiente para atender todo o mercado. 

“Nesta temporada houve um recuo de área, e isto deve manter o volume reduzido”, afirma Marina Marangon, pesquisadora do Cepea. 

Muitos agricultores também vão esperar uma elevação de preços para escoar a produção. Até agora apenas 15% da safra de cebola de Irecê foi comercializada.

CONSUMO EM ALTA 

A queda nos preços atende a uma parcela da população que vem consumindo cada vez mais legumes e verduras. Segundo os analistas de mercado, a procura por estes alimentos está em expansão no Brasil. Os pesquisadores apontam que a tendência é de que o consumo de hortifrútis se eleve a partir de 2020 no país, caso as expectativas de recuperação da economia se confirmem. 

“A tendência de saudabilidade deve permitir crescimento do consumo de frutas e hortaliças frescas, e de industrializados saudáveis, como sucos e águas de coco. No curto prazo, a rentabilidade tende a ser positiva para estes alimentos”, afirma Fernanda Geraldini Palmieri, especialista em tendência de mercado do Cepea.

Outro estudo da consultoria Euromonitor Internacional também indica um avanço das dietas com vegetais e da procura por alimentos saudáveis. A pesquisa realizada com mais de 30 mil consumidores, de 21 países, aponta para um aumento na demanda por produtos minimamente processados e que valorizem os ingredientes regionais. A falta de tempo também tem favorecido a busca pelos chamados pratos frescos, com tempo reduzido de preparação e em porções pequenas.

“A recomendação da organização Mundial de Saúde é que as pessoas consumam no mínimo 400 gramas de hortaliças ou frutas por dia, em cinco ou mais dias da semana. Através do consumo adequado de legumes e verduras, o organismo obtém vitaminas, minerais, compostos bioativos, fibras em quantidade suficiente para a manutenção da saúde. Estes alimentos apresentam alta densidade de nutrientes com baixo valor energético, e contribuem com a manutenção do peso saudável”, afirma Sueli Longo, nutricionista do projeto Hortifrúti Saber e Saúde, especialista em nutrição e esporte.

Com foco neste nicho de consumo muitas empresas vêm desenvolvendo opções rápidas de refeições, com base em porções individuais. É o caso da chef de cozinha Maria Anjos. Ela mantém um serviço de entrega a domicílio, no qual oferece um cardápio diferenciado que inclui muitos pratos com vegetais e legumes.

“Em qualquer parte do mundo os alimentos que chegam à mesa são quase sempre os mesmos. O que muda são alguns ingredientes e, sobretudo, a forma de preparar. Montamos um cardápio com marmitas saudáveis, no segmento fit, utilizando ingredientes leves e acessíveis, mantendo a comida gostosa. A ideia é usar os mesmos ingredientes que utilizamos normalmente, mas com técnicas que permitam uma comida diferente da que temos acesso todos os dias”, afirma a cozinheira.

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