Empresas enfrentam dificuldades para contratar mão de obra, elevando custos e impactando prazos de entrega
A situação tem gerado uma reação em cadeia. Com menos trabalhadores disponíveis, os salários aumentam, e os custos das obras também sobem. Francisco Pereira, carpinteiro há 30 anos, exemplifica essa realidade.
“Eu amo essa profissão. Eu gosto de trabalhar e é minha sobrevivência. É o sustento que eu levo pra casa, pra minha família”, disse ele.
A escassez atinge diversas funções essenciais.
“É muito normal faltar entre 20% e 30% de mão de obra em cada canteiro que a gente administra. Mão de obra é hoje o nosso grande gargalo”, afirmou Sylvio Pinheiro, diretor da G+P Soluções.
Os profissionais mais difíceis de encontrar são eletricistas, mestres de obra, pedreiros, encanadores e instaladores.
“Não tenho mais tão técnico como tinha antigamente”, destacou Pinheiro.
Essa falta impacta diretamente os custos. Entre os itens que compõem o índice de inflação da construção civil, a mão de obra teve a maior alta nos últimos 12 meses: 9,75%. Já o custo de materiais, equipamentos e serviços também subiu, mas em ritmo menor.
A falta de profissionais tem atrasado a conclusão de empreendimentos. Em uma obra de um prédio de 20 andares, 70 funcionários estão trabalhando, mas seriam necessários mais de 100. Com menos trabalhadores, o prazo de entrega foi estendido, e cada dia a mais representa um aumento no custo final dos apartamentos.
A pesquisa aponta que 21% das empresas já estão atrasando entregas e 18% precisaram reajustar os preços das obras.
“A economia está aquecida de uma forma geral. Ou seja, todos os setores estão demandando mão de obra. Supermercado, o comércio de uma maneira geral e a construção formal. Uma pessoa física quer fazer uma pequena reforma vai se deparar com essa situação, com a falta de mão de obra. Então é uma questão que também vai afetar quem deseja produzir suas pequenas obras, suas pequenas reformas, porque está faltando mão de obra de uma maneira geral”, explicou Ana Maria Castelo, coordenadora de Projetos de Construção do FGV/Ibre.
A falta de trabalhadores não impacta apenas grandes empreendimentos, mas também pequenas reformas. Rebeca e Fernando enfrentam esse problema há dois meses devido a um vazamento no ar-condicionado. O casal encontrou um profissional experiente, mas precisou pagar mais caro e ainda esperar na fila de atendimento.
“Os bons profissionais estão sendo muito demandados e você tem que esperar por ele para fazer uma boa obra e fazer uma vez só”, disse o arquiteto Fernando Santos.