Congresso que reúne melhores práticas de governança aliadas ao stalkeholder termina nesta quarta, 18
Fernando Bonfim é produtor de cacau em Camamu, no sul da Bahia, e foi um dos pioneiros na estratégia de negócio com a Dengo Chocolate, que consistia basicamente no relacionamento direto com os pequenos produtores da fruta.
“Quando a Dengo começou a fazer o primeiro lucro, na questão da compra do cacau, foi quando eu comecei a organizar o grupo de produtor da região. Na primeira reunião que tivemos com um dos CEOs da empresa, havia 13 pessoas. Muitas depois desistiram porque não acreditavam mais no cacau na região logo após a Vassoura de Bruxa. Só restaram os pequenos produtores rurais. Não tinha empresa que desse a mínima para o pequeno produtor rural. Então, quando a Dengo surgiu lá com esse propósito de comprar cacau de agricultura familiar, a nossa família e todo o pessoal da região abraçou”, explica o produtor.
O objetivo da Dengo era o de desenvolver a região, que mirou exatamente na produção de cacau para melhorar a renda dos produtores e as condições socioeconômicas da localidade. Basicamente, a Dengo Chocolate compra cacau da mão de produtores da fruta, no sul da Bahia. Há um enorme processo para que sejam escolhidos aqueles que possuem maior qualidade, e por isso o investimento na região precisa sempre estar condizente com o alto valor investido na compra dos cacaus. Segundo Tulio Landin, CEO da Dengo Chocolate, esse valor pago é 70% maior do que o preço da commodity.
“É uma maneira também de proporcionarmos uma valorização digna aos produtores. Nós tivemos pouca atratividade quando nos lançamos no mercado. Empresas de chocolate não reagiram muito bem a esse tema de fazer o bem, de pagar uma renda diferenciada para os produtores. E mesmo assim, em 2017 nasceu a Dengo, que remete ao carinho e preocupação. Seis anos depois, a empresa está se aproximando de 40 lojas no Brasil e tem mais uma loja em Paris.
Essa estratégia de ampliar os olhares e relacionamento entre clientes, fornecedores, pessoal interno, conselho, investidores e todos os agentes voltados à governança empresarial é uma das práticas imprescindíveis para a perenidade e sustentabilidade dos negócios. É isso que acredita o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), que realiza nesta terça e quarta-feira, 17 e 18, o seu 24° Congresso, em São Paulo.
Com o tema Governança em rede: Conectando stakeholders, o congresso aborda sobre a necessidade de atender às demandas globais, como a hiperconexão e relacionamento com os outros agentes em torno da empresa que vão além dos acionistas e investidores. Além disso, o evento vai trazer nas discussões sobre a litigância climática e a responsabilidade dos administradores, práticas ESG em relação aos stakeholders, pautas relacionadas ao mercado de carbono, flexibilização das leis estatais e nas regras da bolsa de valores, e inteligência artificial e entre outros
Quem abriu o evento foi R. Edward Freeman, professor emérito de administração de empresas, da Darden School of Business da Universidade de Virgínia, responsável pela criação da teoria de stakeholders, que basicamente diz respeito às partes interessadas que devem estar de acordo com as práticas de governança corporativa executadas pela empresa.
“Ganhamos mais consciência quanto à desigualdade, â pobreza, ao racismo, à desigualdade de gênero, também quanto ao aquecimento global. Hoje tivemos a informação que a Amazônia gerou mais carbono do que absorveu, e junto com isso, estamos enfrentando o ressurgimento do terrorismo, que impacta todo o mundo.”
“É preciso realizar mais reformas de propostas, para propor um capital mais inclusivo através da importância de investir em empresas socialmente responsáveis . É uma nova era de negócios, de pensar de uma maneira mais ampla, concluiu o filósofo.
Para Marcos Sampaio, coordenador geral do IBGC Núcleo Bahia, o congresso é uma ótima oportunidade para conectar outros agentes da empresa, que também são responsáveis pela durabilidade das ações governamentais, para aderir às melhores práticas de diversidade e inclusão.
“A gente, que acompanhou a curadoria, o desenvolvimento e a fomentação do congresso, a gente consegue ter aqui um espetáculo de união da teoria e da prática, a gente tem uma prática de inclusão de diversidade. Diversidade na plateia, em prática de diversidade, de inclusão no palco principal e uma fantástica inclusão de todas as pessoas. Então, a Bahia tinha que estar presente nisso. Nós temos aproximadamente 12 pessoas do estado que vieram exclusivamente para o congresso, que estão super engajadas e estamos transformando essa realidade, ou tentando transformar essa realidade da cultura, da governança corporativa lá na Bahia”, disse Sampaio.
O evento contou com representantes do cargo de governança e liderança de grandes companhias brasileiras e internacionais como European Corporate Governance Institute, Virtuous Company, Grupo Boticário, KPMG , B3, Piccadilly Company, Zilor, Grupo Adcos, Évora S.A, Comissão de Valores Mobiliários (CVM), Coordenação e Governança das Empresas Estatais e outras organizações empresariais.
Fonte: A Tarde