À Polícia Federal, o ex-ajudante de ordens já prestou ao menos seis depoimentos
A defesa de Jair Bolsonaro (PL) descarta contestar neste momento a delação premiada de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente, homologada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) sem o aval da Procuradoria-Geral da República (PGR).
No entanto, aliados do ex-chefe do Executivo questionam a veracidade das eventuais provas que o militar possa apresentar contra o ex-chefe.
“Ninguém da defesa do presidente sequer conversou, cogitou ou aventou referido movimento”, disse nas redes sociais o ex-secretário especial da Comunicação Social da Presidência da República e advogado de Bolsonaro, Fabio Wajngarten, sobre a contestação da delação sem o aval da PGR. “Sequer pensamos nisso neste momento”, declarou a defesa ao R7.
A delação de Cid foi homologada pelo ministro Alexandre de Moraes, que também concedeu liberdade provisória ao tenente-coronel, com imposição de medidas cautelares como o uso de tornozeleira eletrônica e a proibição de sair de casa. O magistrado ainda afastou o ex-ajudante de ordens de suas funções no Exército.
A delação é um tipo de acordo que suspeitos podem fazer para conseguir a redução ou a extinção da pena ou o perdão judicial em troca de passar informações sobre o crime que contribuam para a investigação. Ela só pode ocorrer quando o investigado fornece informações determinantes para a solução ou o esclarecimento dos fatos apurados. No acordo, não basta que as informações sejam apresentadas; elas têm de ser comprovadas pelos órgãos.
O episódio da delação causou certa apreensão em aliados de Bolsonaro com relação à veracidade das eventuais provas que Cid pode apresentar. Um ex-líder do governo na Câmara dos Deputados afirmou que a “única coisa que sabe é que qualquer homem, ao ver sua família na mira de um ataque frontal, será capaz de falar até o que não viu, jurando que viu”. Um senador do entorno do ex-presidente fala em “nada de novo” na delação de Cid, e sim “forçar a barra para construir um fato novo” que incrimine o ex-presidente.
“Eu acredito que Cid está sofrendo a maior pressão de sua vida. Ou delata, mesmo com falta de provas materiais, ou vai ver a sua vida e de sua família virar um inferno. O sistema quer não apenas tornar Bolsonaro inelegível, mas rebaixá-lo ao nível de Lula, colocando a pecha de corrupto”, disse outro aliado de Bolsonaro. “O único objetivo desse circo de horrores que se transformou a Justiça em nosso país é acabar com o mito, e isso não pode ser por meio de prisão sem antes vir a desmoralização”, completou.
Cid, que estava preso desde maio, é investigado por participação em um esquema de fraude em cartões de vacinação e em uma tentativa de golpe de Estado. O tenente-coronel do Exército também é investigado no caso das joias sauditas dadas a Jair e Michelle Bolsonaro e no dos atos extremistas de 8 de janeiro. À Polícia Federal, o ex-ajudante de ordens já prestou ao menos seis depoimentos.
Após a decisão de Moraes, o Exército informou que atendeu à ordem e vai afastar Cid de suas funções, mas ele continua a receber o salário, de R$ 27 mil. A instituição informou que o tenente-coronel vai ficar agregado ao Departamento-Geral de Pessoal, sem ocupar nenhum cargo.
Como mostrou o R7, Cid deve se apresentar nesta segunda-feira (11) à Vara de Execuções Penais de Brasília, uma das imposições dadas por Moraes ao conceder a liberdade provisória ao militar. O ex-ajudante de ordens terá de se apresentar toda segunda-feira ao órgão.