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Cineasta se dedica à produção de cacau biodinâmico no sul da Bahia

Pode-se dizer que todo dia tem filme e documentário de Zelito Viana passando em algum lugar do mundo. E todo dia também tem gente consumindo produtos que saem da fazenda da família dele. Seja o próprio leite ou derivados do gado girolando, sejam iguarias de búfalas, seja o fino cacau biodinâmico.

A obra no cinema conta com vinte documentários e nove longa-metragens, alguns deles restaurados por ninguém menos do que Martin Scorcese, ganhador de Oscar e autor de muitos sucessos, como “O touro indomável” e “Táxi driver”. Pois esse premiado diretor é fã do grupo do qual Zelito Viana fazia parte, nos anos 60, e que deu origem ao movimento chamado cinema novo brasileiro. Aliás, o Zelito é o produtor de “Terra em transe”, o filme de Glauber Rocha, considerado subversivo e proibido pela ditadura e depois consagrado mundialmente.

3 mil cabeças de gado e 3 mil hectares de fazenda
Mas partindo para a fazenda de Zelito em Itororó, no sul da Bahia, começamos com uma curiosidade: a tropa de cavalos dele tem sangue de garanhões que o Zelito ganhou do irmão, Chico Anysio. A fazenda tem três mil cabeças e a movimentação de rebanhos é intensa. O sistema de criação é o de pastejo rotacionado, com suplementação a cocho.
A propriedade é grande: tem três mil hectares. Aninhada entre duas serrinhas, é toda recortada de pastos, áreas agrícolas, com morros delicados em segundo plano. A sede centenária, a graciosa igrejinha, as ruas calçadas, as fachadas que lembram instalações industriais e comerciais falam de um passado fervilhante.

“Tal filho, tal pai”
Uma história de amor real, sessenta anos atrás, uniu Zelito Viana com a hoje reconhecida educadora e produtora Vera de Paula. Eles são pais do ator Marcos Palmeira que, de berço, representa com muita naturalidade personagens ligados ao campo, como fez na novela “Velho Chico”.

Em Teresópolis, região serrana do Rio de Janeiro, fica a fazenda do Marcos. Ali, o sistema de produção dele é 100% orgânico. Vinte anos atrás, quando comprou a propriedade, ele montou um plano simples e viável de recuperação: cercou as nascentes, a reserva legal, as áreas de preservação permanente e deixou a vegetação nativa se reconstituir naturalmente. O verde foi ganhando cara. Hoje, já tem até uma RPPN – Reserva Particular do Patrimônio Natural.
O alinhamento da propriedade de Zelito com a produção orgânica começou com um impulso que veio do filho, Marcos Palmeira.

Cacau biodinâmico
O passo mais ousado que Zelito deu foi no cacau, o negócio embrionário do sogro do sogro quase um século atrás, na intenção de conquistar mercado lá fora. Para alcançar o propósito de exportar cacau de alta qualidade orgânico, biodinâmico, a fazenda contratou um suíço, Felipe Voucher, que era auditor ambiental na Suíça.
A fazenda trabalha já no sistema Cabruca, o modelo agroflorestal da cooperativa dos produtores orgânicos do Sul da Bahia. A ele Felipe Voucher agrega os princípios biodinâmicos. Na serapilheira, o chão da mata, e na folhagem do cacau sombreado, ele aplica os preparados chamados de quinhentos e quinhentos e um.
Uma das práticas da biodinâmica usa o pó de sílica, que é o cristal triturado em um pilão de ferro. Pó que, em porções ínfimas, é dinamizado em água pura, de preferência, de chuva. Outro ingrediente básico está a um metro de fundura. O estrume enterrado se mineraliza e em pitadas minúsculas é usado na pulverização.
Na barcaça de secagem, Zelito e Vera namoram o cacau natural, que não leva adubo, nem o orgânico, nenhum veneno. Amargo no ponto, baixa acidez, amanteigado. O produto biodinâmico tem alcançado classificação de cacau fino ou gourmet. Neste ano, o cacau especial beirou as quinhentas arrobas.

6 mil litros de leite por dia e homeopatia
Matéria-prima pra esse chocolate especial não vai faltar: há décadas a cabana da ponte é referência em produção de leite. Tem lacticínio próprio. Tira em média seis mil litros por dia. Mas não é tudo que é certificado. A pecuária leiteira orgânica em grande escala tem desafios de custos que demandam anos para se superar. A produção de leite de búfala já está toda certificada. São mil litros por dia.
Doutor pela USP de São Paulo, onde tomou conhecimento dessa terapia alternativa, o veterinário baiano Jorge Del Rei foi quem migrou o rebanho da fazenda de alopático para homeopático. Lá tem de tudo para as tais doses infinitesimais dos preparados. Extratos indicados para combater carrapato, diarreia, febre tristeza, vermes… A diluição é feita em açúcar – orgânico, claro.

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Fonte: Globo Rural

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