Um grupo de cientistas da Universidade da Califórnia em Berkeley (EUA) diz ter testado com sucesso um novo dispositivo coletor de água no deserto, capaz de produzir água potável a partir do ar.
Nos resultados, publicados no dia 8 de junho na revista Science Advances, a equipe avança que a máquina coletora pode recolher água potável todos os dias e em ciclos noturnos, em condições de baixa umidade e com baixo custo. O novo dispositivo poderia, por isso, ser usado em partes áridas do mundo que são desprovidas de água.
“Não há nada semelhante a isto”, disse Omar Yaghi, da Universidade da Califórnia em Berkeley, que inventou a tecnologia por trás do “harvester”, em comunicado. “Essa jornada do laboratório para o deserto nos permitiu realmente transformar a captação de águade um fenômeno interessante para uma ciência.”
O dispositivo inventado opera à temperatura ambiente e à luz do Sol. Não requer nenhuma entrada adicional nem fonte de energia. A chave para a descoberta é umpó que se encontra espalhado no topo do dispositivo em forma de caixa, chamada de estrutura metalorgânica (MOF), que já tinha sido testado antes em outros lugares.
O MOF é um pó cristalino composto por átomos orgânicos e metálicos que absorve a água como uma esponja durante a noite, quando as temperaturas são mais baixas, mas a umidade é maior.
Depois, quando as temperaturas aumentam durante a manhã, as moléculas de água são empurradas para fora dos cristais, produzindo um pequeno copo d’água. Na realidade, o que acontece é que o coletor usa a luz solar para aquecer o pó, expulsando o vapor de água e condensando-o para ser usado.
O dispositivo é uma “caixa dentro de uma caixa”, nota a Universidade da Califórnia. O coletor contém uma caixa interna com grãos de MOF, com cerca de 0,2 metro quadrado.
Ao envolver este cubo, está outro cubo de plástico de tamanho semelhante que tem asextremidades e os lados transparentes. O topo é deixado aberto à noite para que o ar entre, mas é coberto durante o dia para aquecer o interior, como se fosse uma estufa.
Foi realizado um teste no dispositivo em Scottsdale, no Arizona, em outubro de 2017. Nesta região, a umidade atinge os 40% durante a noite, mais cai para 8% durante o dia. E o teste provou ser um grande sucesso.
Ao usar 1 quilograma de MOF, a equipe disse que podia conseguir produzir cerca de 200 mililitros de água – o que não é uma enorme quantidade de água, mas é suficiente paradespertar o interesse, pois pode ser posta em escala maior.
“O principal avanço aqui é que o dispositivo opera em baixa umidade, porque é isso que encontramos nas regiões áridas do mundo”, explicou Yaghi.
E também já existem planos para melhorar o design, com um novo MOF feito a partir de alumínio. O novo pó é 150 vezes mais barato e pode capturar cerca de duas vezes mais água. A equipe planeja fazer um teste de campo com o novo MOF ainda este ano, no Vale da Morte, uma das regiões mais quentes da Califórnia.