A vasta experiência brasileira no diagnóstico laboratorial de doenças transmissíveis pela rede pública de saúde é reconhecida internacionalmente. Por isso, o Ministério da Saúde e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) realizaram, nos dias 6 e 7 de fevereiro, capacitação técnica de representantes de nove países das Américas do Sul e Central para o diagnóstico laboratorial do novo coronavírus. O treinamento foi realizado a pedido da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS) como uma ação de cooperação entre os países Latino-americanos.
A iniciativa teve como objetivo compartilhar experiências, fortalecer as capacidades de diagnósticos nacionais e regionais e garantir que os países participantes estejam preparados para responder à emergência sanitária com os mesmos protocolos de análise recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e já implementados no Brasil. Atualmente, são considerados laboratórios de referência nacional para diagnóstico do novo coronavírus, o Laboratório de Virus Respiratórios e Sarampo da Fiocruz, no Rio de Janeiro, o Instituto Adolfo Lutz, em São Paulo, e o Instituto Evandro Chagas (IEC), no Pará.
De acordo com o Secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Wanderson de Oliveira, a capacitação realizada é estratégica. “O coronavírus é um problema de saúde pública mundial e esta ação demonstra a capacidade do Brasil de contribuir com a sociedade global no enfrentamento deste desafio. O Ministério da Saúde também trabalha para ampliar a vigilância laboratorial, ampliando a capacidade dos laboratórios centrais e dos laboratórios de referência na resolução, identificação, diagnóstico e desenvolvimento de pesquisas”, comentou.
Os países que participaram da ação são: Colômbia, Uruguai, Argentina, Panamá, Bolívia, Chile, Equador, Paraguai e Peru. O treinamento foi conduzido pelo Laboratório de Vírus Respiratórios e Sarampo do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), no Rio de Janeiro, que já atua junto ao Ministério da Saúde e a OMS, há mais de 60 anos, como referência para diagnóstico de vírus respiratórios.
CAPACITAÇÃO
Durante a capacitação com os representantes dos países das Américas foram abordados temas relacionados à vigilância laboratorial, protocolo para o diagnóstico do novo coronavírus, recomendações sobre biossegurança, transporte de amostras e discussão geral com os países sobre a situação atual de cada local e as perspectivas em relação à vigilância. Além disso, foram formados grupos de trabalho para a realização de práticas laboratoriais, montagem de protocolos e revisão e análise dos resultados obtidos.
Segundo a representante da OPAS/OMS no Brasil, Socorro Grossi, a troca de experiências e a solidariedade entre os países é indispensável. “Uma das coisas mais importantes quando nós temos um novo vírus, um novo surto, onde temos uma situação na qual não conhecemos o comportamento da doença, como irá atingir a população, sua letalidade, é o compartilhamento de dados e conhecimentos entre os países, para a que resposta ao enfrentamento deste novo agente seja rápida, pois vivemos em um mundo globalizado, onde as doenças não ficam em um só lugar, elas se espalham e todos precisam estar preparados para estas situações”, explicou.
EXPERTISE LABORATORIAL DO BRASIL
O diagnóstico laboratorial e o conhecimento da circulação de vírus são fundamentais para o desenvolvimento das atividades da vigilância em saúde. Com os dados laboratoriais, é possível identificar agentes etiológicos causadores de doenças e, dessa forma, desenvolver medidas oportunas para subsidiar a tomada de decisão e de resposta em saúde pública referentes às ações de vigilância.
Atualmente, o Sistema Nacional de Laboratórios de Saúde Pública (Sislab) do Brasil é constituído por 27 Laboratórios Centrais de Saúde Pública (Lacen) distribuídos em todos os estados brasileiros com capacidade instalada para a vigilância laboratorial de influenza e vírus respiratórios. Como reconhecimento da capacidade laboratorial nacional, o país conta com três laboratórios participantes da Rede Global de Vigilância de Influenza, classificados como Centros Nacionais e Influenza. São eles: a Fiocruz; o Instituto Evandro Chagas, no Pará e o Instituto Adolfo Lutz em São Paulo. Além destes, o Laboratório de Vírus Respiratórios e Sarampo da Fiocruz é o Laboratório de Referência Nacional para essas doenças.
PASSO A PASSO PARA TESTAGEM DO NOVO CORONAVÍRUS
De acordo com as diretrizes laboratoriais do Ministério da Saúde, que segue o padrão da Organização Mundial da Saúde (OMS), a realização de coleta de amostras respiratórias está indicada sempre que o paciente atender à definição de caso suspeito para o novo coronavírus em serviços de saúde públicos, que são: apresentar febre e, pelo menos um sinal ou sintoma respiratório, e ter viajado para área de transmissão local, a China, nos últimos 14 dias.
O profissional de saúde deverá coletar uma amostra respiratória, como saliva ou secreções nasais para a realização de exames laboratoriais. Esta amostra é dividida em duas partes, uma fica no Lacen que coletou o material, e que irá realizar exames para vírus respiratórios mais comuns.
Já a outra parte da amostra respiratória é encaminhada a um dos três Laboratórios que são os Centros Nacionais de Influenza, que irá realizar o exame de biologia molecular para identificação do novo coronavírus e também o painel viral completo para pesquisa de vírus respiratório que prevê a testagem para 21 vírus. Caso haja necessidade, os pesquisadores avaliarão se será indispensável realizar a análise metagenômica.