Cerca de 30% dos alimentos produzidos no Brasil são jogados no lixo, o que equivale a aproximadamente 40 milhões de toneladas por ano, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A questão do desperdício de alimentos é tão séria em todo o planeta que, em 2020, a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) instituiu o dia 29 de setembro como sendo o Dia Internacional da Consciência sobre Perdas e Desperdício de Alimentos.
A nutricionista Marion Cerqueira dos Santos, que desde 2004 trabalha no Programa Mesa Brasil, do SESC, além de ser servidora pública da Secretaria Estadual de Saúde, lotada no Núcleo Regional de Saúde Centro Leste, em Feira de Santana, vem acompanhando a questão do desperdício de alimentos, buscando soluções que envolvam a participação da iniciativa privada, bem como o trabalho de entidades e de representações da sociedade civil.
“Estima-se que a maior parte do desperdício de alimentos ocorra dentro de nossas casas. Muitas vezes jogamos fora uma cenoura apenas por ela estar com a pontinha quebrada. É assim que milhões de toneladas de alimentos são desperdiçadas no Brasil, o que nos situa entre os dez países que mais perdem alimentos no mundo. É um dado muito preocupante, principalmente considerando que existem 33 milhões de pessoas passando fome no país”, pontua Cerqueira, destacando que, por meio do programa Mesa Brasil, do SESC, foram estabelecidas parcerias com os supermercados varejistas, com as centrais de abastecimento e com os feirantes de São Joaquim. “Há indústrias de alimentos também colaborando conosco. Tentamos sensibilizar todos os comerciantes que costumam trabalhar com alimentos e que têm excedentes de produção. Recolhemos esses alimentos e distribuímos para as entidades que trabalham com pessoas em situação de vulnerabilidade”, diz Cerqueira.
Desperdício Generalizado
Trabalhando na Secretaria Estadual de Saúde com as ações de alimentação e nutrição junto ao SUS, a nutricionista diz que sempre se emociona quando observá a felicidade de uma família, em situação de fome, que recebe a doação de alimentos. “Saber que estamos contribuindo para minimizar a situação de fome no meu estado, na minha terra natal, é uma sensação indescritível. Vou completar 20 anos trabalhando com o Mesa Brasil. Não tem como descrever. É esse sentimento solidário que alimenta o trabalho da gente diariamente”, emociona-se.
Estudos da ONU indicam que o desperdício de alimentos acontece em diversas etapas da cadeia alimentar, desde a produção até o consumo. Na produção, os alimentos são perdidos devido a questões como mau planejamento, falta de infraestrutura adequada e problemas climáticos. Na distribuição e comercialização, alimentos são descartados devido a padrões exigentes de aparência e estética, além de problemas logísticos. Já no consumo, os alimentos são desperdiçados devido a compras excessivas, falta de planejamento de refeições e descuido com a conservação.
De acordo com Tiago Pereira, coordenador do Programa Bahia Sem Fome (BSF), o processo de desperdício é alarmante. “Se tudo que é desperdiçado fosse reaproveitado e de fato chegasse até a população que vive em vulnerabilidade extrema, nós não teríamos um contingente tão grande de pessoas vivendo em situação de insegurança alimentar”, avalia o coordenador, lembrando que o BSF, para além de estar comprometido com as questões emergenciais relacionadas à fome, preocupa-se também com a conscientização da população.
Pereira explica que o desperdício ocorre no processo de logística, no transporte, no acondicionamento e que um dos eixos do Bahia Sem Fome prevê a elaboração de estratégias para diminuir o desperdício. “Temos feito um diálogo frequente com o setor produtivo, com a iniciativa privada e com grandes redes, como a Carrefour, para que nos enviem os alimentos que estão perto da data de vencimento de validade, de modo que possamos encaminhar para as entidades”.
No território do Velho Chico, informa Pereira, o BSF já vem realizando uma parceria com os consórcios de prefeitos e prefeitas para efetivar o funcionamento dos bancos de alimentos. “Esses bancos de alimentos vão se aproximar e receber dos pequenos estabelecimentos produtos alimentícios que serão encaminhados para quem mais precisa. Estamos agindo em duas frentes: uma, com o setor público municipal; e a outra, com o setor produtivo”, diz Pereira.
Para o coordenador, o programa Mesa Brasil é uma das grandes referências da iniciativa privada. “É um programa estruturado e articulado que já trabalha com o desperdício de alimentos e nós estamos nos aproximando desse programa em alguns municípios, como Feira de Santana. Nossa ideia é estabelecer parcerias com essas empresas e estimular a implantação de cozinhas comunitárias e solidárias, restaurantes populares e bancos de alimentos”, diz Tiago Pereira.
Fonte: Ascom/Bahia Sem Fome