A campanha, que terá ações nos 417 municípios baianos, foi lançada na tarde desta quinta-feira (10), em Salvador
“Um caso que me marcou bastante foi quando eu tive a minha segunda experiência de trabalho, no programa de erradicação do trabalho infantil. Ao fazer uma visita a uma família no interior, para que ela inserisse o filho nas atividades da assistência social, a mãe, muito triste, me disse que o programa tinha chegado para eles, pois o filho já tinha desenvolvido uma lesão na coluna, por conta do excesso de peso nos trabalhos na feira e na zona rural. Isso acabou gerando perda de movimentos nas pernas”.
O relato da Superintendente de Assistência Social da Secretaria de Justiça, Direitos Humanos e Desenvolvimento Social (SJDHDS) do Governo do Estado, Leísa Sousa, mostra uma triste realidade que coloca a Bahia entre os primeiros na Região Nordeste – assim como no resto do país – quando o assunto é o trabalho infantil e a exploração sexual de crianças e adolescentes. A questão é que este caso, infelizmente, não é único.
De acordo com dados do Disque 100, canal nacional de denúncias dos mais variados tipos de violência, o sistema registrou, aqui na Bahia, em 2017, um número de 3.649 denúncias de violência sexual contra crianças e adolescentes e outras 222 denúncias quanto o assunto é exploração de trabalho infantil no estado.
Como forma de combater estas tristes realidades, a Secretaria lançou, na tarde de ontem, a campanha “O Trabalho Infantil e a Exploração Sexual não aparecem como esta propaganda”. O objetivo é o de reforçar a luta contra as formas as quais crianças e adolescentes são submetidas todos os dias. A ação é uma expansão de outra campanha já realizada pela gestão estadual, a “Fique de Olho”, que é realizada no Carnaval de Salvador há três anos.
“É importante para gente que possamos estar sempre alertando a sociedade sobre temas tão graves. Fazemos essa festa no período do Carnaval e agora fazendo próximo do tema do São João, que mobiliza todo o interior”, comentou o titular da SJDHDS, Cezar Lisboa.
Todos os 417 municípios do estado serão atingidos e a campanha ocorrerá em diversos períodos do ano, tendo maior ênfase em grandes eventos realizados nesses locais. A intenção, com isso, é a de chamar a atenção das pessoas uma conscientização sobre o assunto e a importância da denúncia, através do Disque 100, ajudando a fortalecer a rede de proteção a crianças e adolescentes. As peças serão divulgadas em outdoors, spots de rádio, redes sociais oficiais, entre outros.
“Como a gente tem uma necessidade muito grande de falar com os municípios do interior do estado, essa campanha tem um foco para o interior, pois nem sempre essas violências são visíveis. Estamos fazendo capacitações, com os municípios que tem o maior índice de trabalho infantil para trabalhar estratégias de enfrentamento. Já no final deste mês de maio, a gente vai trabalhar com os municípios para que eles implantem os seus comitês locais”, contou Leísa.
Meta
De acordo com superintendente, a Região Metropolitana de Salvador (RMS) e as cidades do litoral baiano são as localidades que tem os maiores problemas quando o assunto é trabalho infantil e exploração sexual de crianças e adolescentes. Só nos Centros de Referência Especializados de Assistência Social (Creas) da Bahia, 186 crianças e adolescentes estão em acompanhamento por situação de exploração sexual. Para mudar não apenas a realidade local, como a de todo o país, existe uma meta nacional, até o ano de 2026, de reduzir as piores formas de trabalho infantil no Brasil.
“A gente agora quer focar naquilo que não aparece, nas questões culturais inclusive, que envolvem o trabalho infantil. Quando a gente fala do tema com as pessoas, tem como resposta ‘melhor trabalhar do que roubar’. Só que as crianças que trabalham estão sujeitas a riscos e vulnerabilidades, interferindo na qualidade de vida dela. O diálogo com toda a sociedade neste caso é importante”, explicou Leísa.