Saiba quando a prova é enviada para a gráfica, como lidar com os textos compridos dos enunciados e mais.
Você pode achar que para tirar boas notas no Enem basta estudar. Sim, isso é essencial, mas também é muito importante conhecer bem a prova e, principalmente, as competências que ela exige do estudante. Sabe aquela história de ir para a batalha conhecendo bem o inimigo? A única diferença é que você não deve ver o exame como seu oponente, mas sim como uma chave para o seu futuro. Será com a ajuda dele que você abrirá muitas portas na sua vida. Acredite! Entendê-lo irá tornar a sua jornada de estudos muito mais proveitosa.
Abaixo, selecionamos dez questões que quase sempre deixam dúvidas. Para respondê-las, conversamos com um representante do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), responsável por preparar e aplicar o Enem, além de dois outros especialistas na área de educação.
1. Quando a prova é finalizada e enviada para a gráfica?
Uma das grandes preocupações para o Enem é o estudo das atualidades e muitos costumam perguntar até que mês eles devem ficar ligados nas notícias. Apesar de não ser divulgada a data do envio dos cadernos do exame para a gráfica (por motivos de segurança, já que todo o processo é fechado), é possível ter uma ideia da época por meio de questões aplicadas em anos anteriores. Quem diz isso é Fred Vilela, cofundador da Evolucional, empresa de consultoria educacional focada em Enem. “Analisando alguns textos de apoio de questões dos últimos exames, é possível estimar que a prova seja finalizada entre maio e junho para o Enem do mesmo ano”, explica. No entanto, esse dado não é importante para o aluno, segundo Fred: “São poucas as questões estritamente de atualidades, até porque as perguntas precisam ser pré-testadas e isso pode acontecer meses ou até dois anos antes”.
No Enem, o estudo de atualidades é necessário para o aluno ter conhecimento das discussões em debate na sociedade e não para ele responder diretamente a questões. Todos os eixos cognitivos que norteiam a produção das provas buscam avaliar de que forma o estudante se relaciona com o mundo e com a sua realidade (veja quadro). “Quando solicitamos a produção dos itens às universidades federais, buscamos questões que abordem assuntos de grande relevância nacional e não exatamente questões com assuntos recentes. A única prova que levamos em conta as atualidades e que começamos a trabalhar entre uma aplicação e outra do Enem é a de redação”, conta Eduardo Carvalho Souza, coordenador geral do Sistema de Avaliação da Educação Básica do Inep. Ele explica que não são escolhidos tópicos pontuais de grande chamada na imprensa, mas sim temas mais amplos muito discutidos nos meses anteriores à prova justamente por conta da importância para a sociedade, como foi o caso de “Caminhos para combater a intolerância religiosa no Brasil” (2016) e “A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira” (2015).
2. Vale a pena chutar o que você não sabe?
Sim! Quando você não sabe de jeito nenhum uma pergunta, vale a pena chutar. Há algum tempo foi espalhado o mito de que chutar poderia ser prejudicial. Isso aconteceu em 2009, após o Enem passar a usar a Teoria de Resposta ao Item (TRI) para dar as notas da prova. As pessoas não conheciam muito bem esse método de avaliação e deu-se aí a confusão. É preciso entender que a TRI avalia a coerência pedagógica das respostas. O que isso significa? Se uma pessoa acerta uma questão difícil, é natural que ela também acerte as fáceis e médias (ou seja, é coerente). Mas, se ela erra muitas questões básicas e acerta algumas difíceis, a chance de ter sido no chute é maior e isso é penalizado pelo sistema. “É estranho um estudante acertar as questões mais difíceis e não as fáceis. Isso significa que tem um problema na base do conhecimento dele”, diz Eduardo. Mas, ainda assim, a nota do chute certo é sempre maior do que apenas deixar o gabarito para a resposta em branco.
“Deixar em branco? Nunca! Se o aluno deixar em branco é erro. Se chutar, pode acertar. Tudo bem que a pessoa pode ganhar poucos pontos, mas vai ganhar. Chutou e acertou sempre ganha. Se a coerência é menor, ganha poucos pontos. Se a coerência for maior, ganha muitos”, analisa o diretor de ensino do Colégio Bernoulli, Rommel Fernandes Domingos. Para ter mais chances de acertar, Fred Vilela aconselha a fazer um chute “consciente”. “Mesmo que você não saiba a resposta da pergunta, tente sempre eliminar algumas alternativas pela lógica. Uma dica é tentar evitar termos absolutos. Alternativas com expressões como ‘sempre’, ‘nunca’, ou alguma outra forma que generaliza demais uma situação, devem chamar a atenção do estudante porque há chances de estarem erradas”, orienta.
3. Por que dois estudantes com o mesmo número de acertos podem ter notas diferentes?
Por causa da TRI, mencionada na pergunta anterior. Duas pessoas com o mesmo número de acertos podem ter notas diferentes devido à coerência pedagógica de cada prova. Por exemplo, em uma delas, o estudante pode ter errado muitas questões consideradas fáceis pela TRI e acertado algumas difíceis pelo chute. Essas questões certas vão ter um peso menor do que a de um estudante que acertou mais questões fáceis e médias. Por isso não adianta tentar comparar resultados com colegas antes de sair a nota no site do Inep baseado apenas no número de acertos.
4. Uma edição do Enem pode ser mais difícil ou mais fácil que outra?
Segundo o Inep, não. Eduardo Carvalho Souza explica que uma das grandes vantagens da TRI é a capacidade de montar provas equivalentes entre os anos. “A TRI é eficiente porque levamos os itens (as questões) a campo no pré-teste. A sensação de que uma prova é mais fácil que a outra é muito subjetiva, depende de qual área a pessoa é mais competente. Se pegarmos uma prova de física que caiu questões cujo conteúdo eu não sou tão bom, vai parecer que é mais difícil. Mas, para outras pessoas, não. No conjunto das 45 questões, as provas são compatíveis”, afirma.
Eduardo, que já participou por muitos anos da preparação da prova no Inep, conta que todas as perguntas do banco do Enem são testadas com pequenos grupos de alunos antes de serem aplicadas para todo o Brasil. Depois, conforme o número de acerto de cada uma delas, é possível classificá-las de acordo com o grau de dificuldade (fáceis, médias e difíceis) e, a partir desses dados, montar provas que tenham o mesmo nível das edições anteriores para permitir que as notas sejam comparáveis entre um Enem e outro.
5. É possível zerar alguma prova do Enem?
Sim. Em duas situações: na prova de redação (saiba mais na questão 6) e caso o cartão de respostas de alguma área seja entregue totalmente em branco. “Não dar as respostas gera o zero. Preenchendo o gabarito, ou mesmo parte dele, já habilita a TRI a usar parâmetros para avaliar os itens e o estudante pode ter da proficiência mínima até a proficiência mais alta”, conta Eduardo.
A escala de proficiência é uma síntese do nível de domínio de competências dos alunos, definida pelo Inep na hora da escolha das questões que irão compor o exame. Ela nunca chega a zero (a não ser no caso apontado acima – deixando o gabarito todo em branco), mas sim a uma nota que pode ser considerada um “zero relativo” (a nota mínima atingida pelos candidatos representa a nota do grupo de estudantes que mais errou questões). Essa escala varia conforme a edição do exame. Ela é divulgada anualmente pelo Inep e serve de base para as universidades estipularem as notas de corte no Sisu, por exemplo.
6. Para que serve a redação do Enem? Precisa mesmo fazê-la?
A redação é o momento em que o estudante pode mostrar suas habilidades de escrita, seguindo as exigências dos eixos cognitivos do Enem. Por isso a prova é tão importante, principalmente para as universidades que usam o Sisu como meio de seleção. Então, se o seu objetivo é conseguir uma vaga no ensino superior via Sisu, ProUni ou mesmo o Fies, faça a redação e capriche!
O diretor de ensino Rommel lembra que a redação também é a única prova em que há a certeza de que o estudante pode atingir a nota mil e isso pode fazer ser decisivo para cursos mais concorridos, como Medicina e Direito. “O aluno não pode abrir mão da redação porque ela tem uma variação de nota muito grande (de 0 a 1000). Se ele escrever qualquer coisa, pode até zerar e essa nota baixa vai jogar a aprovação dele no lixo. Por outro lado, se ele se preparar e escrever um texto coerente, seguindo as competências exigidas pelo Inep, ele pode tirar uma nota acima de 800 ou 900 que fará muita diferença na média dele”, explica.
7. Precisa ficar decorando fórmulas e fatos?
Sim e não. Vamos explicar: nos últimos anos, as questões têm ficado mais conteudistas, ou seja, cobrando não tanto apenas interpretação de fatos dados nas questões, mas sim conhecimentos que o estudante adquire durante o Ensino Médio. Fred Vilela explica que isso aconteceu porque o Enem tomou proporções de vestibular ao dar acesso a universidades e, por isso, se tornou uma prova mais exigente. Ele, no entanto, alerta que só saber fórmula de cor não adianta. “Não basta só decorar. Para dominar o assunto existe a parte da memorização, óbvio, mas só isso não é suficiente”, acredita.
Para o diretor Rommel, do Colégio Bernoulli, o aluno precisa dar atenção redobrada às fórmulas de física e química. Em matemática, é necessário pelo menos saber as mais importantes. Já na prova de Ciências Humanas não é preciso decorar datas, mas é útil ter o que o professor chama de “noção temporal”. “Quando a prova se referir, por exemplo, à Abolição da Escravatura, você sabe que está falando do final do século 19 no Brasil. Basta saber a data dos eventos mais importantes, como a Lei Áurea (1888), mas das leis menores dessa mesma época não tem necessidade”, diz Rommel.
8. Precisa ler todos os textos da prova, até mesmo os maiores?
Uma das principais reclamações dos estudantes é sobre o tamanho dos textos de apoio que aparecem no Enem. Segundo Fred Vilela, a extensão dos textos e das alternativas segue uma tendência de diminuição e, atualmente, é difícil aparecer no Enem um texto que não seja útil para a resposta, como acontecia no passado. Como precisa ler todos eles, para ganhar tempo é importante que seja feita uma leitura otimizada. “É interessante que o aluno leia o enunciado primeiro, porque depois ele pode correr o olho no texto e conseguir fazer uma leitura dinâmica, já buscando a resposta pedida”, aconselha o diretor de ensino Rommel. Para ele, como o tempo é escasso, o aluno precisa fazer uma leitura mais rápida (mas ainda assim atenta) porque senão pode não dar para responder a todas as questões.
9. Tem como achar a resposta certa no próprio enunciado?
Antes isso era mais frequente, mas nas últimas aplicações do exame tem se tornado cada vez mais difícil. “O Enem é muito ligado à interpretação e a reposta não é algo direto”, conta Rommel. Existem questões mais fáceis, como as que podem ser resolvidas por meio de interpretação de gráficos ou leitura de índices, localizados na própria questão, mas isso requer um esforço interpretativo do aluno. Eduardo explica que isso também acontece muitas vezes na prova de Linguagens. “Não é que seja uma questão de bater o olho e responder. É preciso trazer a experiência da sala de aula para a prova e, algumas vezes, existem questões que não utilizam o conteúdo formal do Ensino Médio, ou seja, não demandam dados externos, apenas os dados da própria questão”, argumenta.
10. Até quando vale a nota do Enem?
Como a nota do Enem tem uma infinidade de usos, é preciso avaliar caso a caso. No entanto, para os principais programas do governo (Sisu e ProUni), só vale a nota do ano anterior. Por exemplo: para concorrer às vagas em 2018, é preciso fazer o Enem em 2017. Já para o Fies, vale qualquer edição a partir de 2010. É recomendado que o estudante sempre esteja atento ao edital dos processos seletivos que usam o Enem para verificar quais edições do exame são adotadas pelas instituições.