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Setor hoteleiro baiano cria estratégias para baixa estação

Empreendimentos investem em gestão financeira e ações de marketing para recuperar perdas por covid

Estrutura pensada para home office é um dos diferenciais desse novo momento – Foto: Divulgação | Solar das Artes

Com a chegada de abril, começa também o período da baixa temporada do turismo, impactando diretamente o fluxo de pessoas nos hotéis e pousadas. 2022 será um ano de recuperação para o setor hoteleiro baiano, mas terá desafios, principalmente por conta das incertezas econômicas nacionais e do cenário global, além de poucos feriados em dia útil. Investir em uma boa gestão financeira e pensar estratégias para atrair clientes são ações fundamentais.

Em Salvador, a expectativa para os próximos meses ainda é incerta e há pontos de atenção importantes para não perder de vista. Petúnia Maciel gerencia a Casa Petunia – Pousada Boutique, localizada na Barra, e comenta que desde fevereiro o movimento começou a esfriar: “Espero que melhore, não teve Carnaval e com a guerra na Ucrânia não sabemos se vai ter uma retração mundial, então a expectativa está sendo viver o dia a dia”, diz.

E os impactos com essas instabilidades econômicas já são sentidos nas pousadas. Petunia conta que está vendo o preço das coisas aumentarem. “Impacta muito, a energia mesmo já está mais cara e o café da manhã também virou uma fortuna. Porque se você quer botar um produto bom, você vai ter que gastar e isso mexe no preço final. Não temos margem de lucro como antes, achatou bastante”, descreve.

“Por agora não vai ter mais nenhuma data. Temos o São João ainda, mas normalmente não é bom para pousadas de Salvador porque todo mundo vai para o interior. Pelo menos está começando a chegar os turistas estrangeiros, mesmo que devagar. Salvador é um destino muito procurado, temos isso a nosso favor, mas até as passagens já começaram a aumentar com a gasolina”, fala Petúnia.

Em cenários como esse, uma das dicas é criar atrativos para turistas, e mesmo moradores da cidade, durante o período de baixa estação. Na Casa Petunia, o diferencial é o café da manhã, que “pode ser consumido por quem não é hóspede. Tem muita coisa bacana no circuito Salvador e estamos inclusive nos reunindo para pensar em eventos veganos também, para ter um diferencial”, antecipa Petunia.

O presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis – Bahia (Abih-BA), Luciano Lopes, destaca porém que há espaço para o retorno do turismo de eventos e de negócios, principalmente em Salvador. “Isso vai ser importante para minimizar essa baixa temporada que vai até junho. É um desafio muito grande, mas os hotéis estão permanentemente trabalhando para continuar recebendo um bom volume de turistas”.

“E nesse período, o setor investe em experiências para os clientes. Os hotéis fazem pacotes que sejam diferenciados, com novidades e foco em cultura e gastronomia. As comemorações também são bastante utilizadas. Por exemplo, o Dia dos Namorados não é feriado, mas os hotéis procuram fazer pacotes especiais que chamam a atenção e que chamam para virem à Bahia”, ressalta Luciano.

Outra dica que o presidente da Abih-BA dá é a de investir em um “controle forte dos custos do hotel para reduzir valores o mais breve possível. Esse aumento de preço com combustível, energia elétrica, tudo isso acaba fazendo com que os custos aumentem bastante e normalmente a proporção do aumento não é a mesma que da receita, fica muito apertado”.

“É então o hotel reduzir as despesas, trazer novas tecnologias para poder otimizar processos e ter um custo menor com um resultado equilibrado”, aponta Luciano. “E para 2022, esperamos ter boas taxas de ocupação até o final do ano. Estamos em uma crescente para chegar em 2023 com resultados similares ao período antes da pandemia da Covid-19”, informa.

Turismo interno

Miguel Diniz é gerente geral de Marketing e Vendas da Aviva, empresa que gerencia destinos turísticos como o Rio Quente e o Hot Park, ambos em Goiás, e a Costa do Sauípe, no litoral norte da Bahia. Para ele, “as pessoas mais do que nunca querem viajar e poder vivenciar momentos em família. Apostamos em ações para incentivar e minimizar os possíveis impactos econômicos”.

Desde o início da pandemia, os clientes de maneira geral estão com foco no turismo dentro do país, o que é vantajoso para as pousadas e hotéis brasileiros, que podem aproveitar essa tendência. “A cotação do dólar ainda está muito cara e há falta de clareza quanto à abertura total das fronteiras. Nós fizemos parcerias com companhias aéreas e acreditamos muito numa solução facilitada que compense financeiramente”, diz Miguel.

A elaboração de estratégias para atrair os turistas durante todos os meses também é importante para aquecer o setor. Tanto no Rio Quente Resorts, quanto na Costa do Sauípe, o planejamento foi pensar em eventos e meses temáticos ao longo do ano para sempre movimentar esses resorts.

“Isso tem se tornado um dos principais diferenciais dos destinos, com potencial de geração de demanda para o ano inteiro, amenizando assim os efeitos das baixas temporadas”, conta Miguel. Dentre os temas que serão abordados estão o da culinária brasileira, em abril e maio, e as atividades típicas de São João, em junho e julho.

Outro lugar que aposta em serviços diversos para atrair hóspedes e outros públicos é a Pousada Solar das Artes, que fica em Morro de São Paulo, no litoral sul da Bahia. “O café da manhã é aberto ao público e temos restaurante que funciona o dia todo. Temos também uma sala de massagem que é para os hóspedes, mas qualquer pessoa que queira pode fazer a massagem aqui, a gente marca”, diz Carmen Adamatti, proprietária da pousada.

“A baixa temporada está entrando e a questão da falta de feriados reflete muito, porque temos um mercado muito bom da própria Bahia, que vem nos visitar. Mas tem o home- office, de quem viaja e trabalha e temos boa internet, alguns quartos com salinhas com ambiente para isso, além de pequenas cozinhas para quem quiser algo mais prolongado”, comenta Carmen.

Em funcionamento há 25 anos, a Pousada Solar das Artes vivenciou diversos cenários do setor de turismo mas, no últimos anos, está há bastante tempo na expectativa de melhorar: “Tivemos o problema do óleo no Nordeste, depois a pandemia. Desde que reabrimos, teve um boom de turismo, mas em 2021 teve a segunda onda e as enchentes na Bahia, que desestimularam muitas pessoas a viajarem, tivemos cancelamentos”, menciona a proprietária.

“Vivemos com muita dúvida, mas vemos uma perspectiva melhor, as pessoas estão mais dispostas a viajar. Não esperamos uma melhora muito grande, mas que pelo menos voltemos ao normal do que era antes da pandemia”, torce Carmen.

*Sob supervisão da editora Cassandra Barteló

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