Salvador é a capital que menos gasta, proporcionalmente, com a saúde pública de seus habitantes no país. É o que aponta um estudo realizado pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), em conjunto com a ONG Contas Abertas. Em 2014, foram investidos apenas R$ 215,96 para cada habitante, ou seja, apenas R$ 0,59 por dia. Na Bahia, foram R$ 1,08 e, no Brasil, os governos federal, estaduais e municipais aplicaram, no mesmo período, R$ 3,89 por dia (R$ 1.419,84 ao ano) para cobrir as despesas públicas com saúde dos 204 milhões de habitantes.
Para o presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado da Bahia (Cremeb), conselheiro José Abelardo de Meneses, além do baixo financiamento, há um problema de gestão. “Em 2015, cerca de 15% do recurso para a saúde do país (R$ 16 bilhões) foi devolvido por falta de aplicação, ou seja, não houve execução orçamentária”. Segundo ele, essa ineficiência na gestão, faz com que haja também desvios de recursos: “Temos informações de que entre 2002 e 2015, R$ 14 bilhões foram desviados da Saúde. Isso representa 29% dos desvios de recursos do país”.
A falta de planejamento também contribui para esses números, garante Dr. Abelardo. Como exemplo, ele cita o Anexo II do Hospital Geral do Estado (HGE), que, segundo o próprio secretário Estadual de Saúde, Fábio Villas-Boas, ainda não foi inaugurado porque houve um planejamento inadequado da cozinha. “Houve uma falta de planejamento para uma estrutura básica. E a inauguração, que estava marcada para março do ano passado, ainda não tem data para ocorrer, pois dependerá agora de uma nova licitação para resolver esse problema da cozinha”.
O conselheiro chama atenção ainda para o fato do município de Salvador não possuir leito hospitalar. “A terceira maior capital do país não tem um leito hospitalar de responsabilidade do município. Todos os leitos de Salvador são de responsabilidade da Secretaria de Saúde do Estado, mas não é por isso que também um gestor vá lavar as mãos em detrimento da qualidade da assistência à população”, pontua ele, complementando: “A saúde pública em Salvador está em colapso. É preciso haver um entendimento entre os governos estadual e municipal”.