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Por que Donald Trump é cada vez mais favorito a cinco meses da eleição nos EUA

A corrida presidencial da América não está empatada, diz nossa previsão

O índice de aprovação de Joe Biden na presidência é de 39%, colocando-o praticamente empatado como o presidente de pior avaliação nesta altura de seu mandato na história das pesquisas americanas. Em todos os seis estados que poderão ser decisivos em novembro, ele está perdendo por uma diferença entre um e seis pontos percentuais. Nos dois estados onde ele está mais próximo, Wisconsin e Michigan, as margens dos candidatos democratas tiveram no resultado final um desempenho inferior em uma média de seis pontos nas duas eleições mais recentes. Mesmo que ganhe em ambos, Biden ainda precisaria de mais um estado decisivo para garantir os 270 votos eleitorais necessários para a reeleição.

Esses números sugerem que a corrida dificilmente será decidida por um pequeno número de votos. É verdade que os cinco meses que antecedem a votação dão a Biden tempo para recuperar terreno, e as pesquisas podem subestimar o seu verdadeiro apoio. Mas também é possível que o candidato a ser beneficiado por eventuais erros nas pesquisas seja Donald Trump.

Em 2016, a maioria dos especialistas considerou incompreensível que um candidato claramente desqualificado como Trump pudesse ganhar a presidência. Este preconceito foi reforçado por pesquisas que colocaram consistentemente Hillary Clinton na liderança. Agora, depois de uma presidência que resultou em dois pedidos de impeachment e em um motim no Capitólio, a perspectiva de que os eleitores possam devolver voluntariamente ao cargo um homem recentemente condenado por 34 crimes parece quase igualmente estranha.

O ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump gesticula ao chegar no Tribunal Federal de Manhattan, em Nova York, Estados Unidos Foto: Spencer Platt/AP

No entanto, as pesquisas sugerem que o mais provável é que isso aconteça. O modelo estatístico eleitoral da Economist – que se baseia apenas em pesquisas, resultados anteriores e dados econômicos, e não leva em consideração o histórico de Trump no cargo ou nos tribunais – dá a Biden 33% de chance de reeleição. Isso significa que uma vitória de Biden contaria apenas como uma ligeira surpresa, um pouco mais provável do que a percentagem de 30% de dias em que chove em Londres. Quatro anos atrás, esse modelo deu a Biden uma chance de vitória de 83%.

Nosso modelo combina dois tipos de dados: pesquisas do tipo “corrida de cavalos” e “fundamentos”, ou expectativas baseadas em precedentes históricos. Seu ponto de partida, baseado no trabalho de Alan Abramowitz ,da Universidade Emory, é uma “previsão baseada em fundamentos” de alcance nacional que procura prever a parcela de votos do partido no poder (excluindo candidatos de outros partidos) com base em três fatores: o índice de aprovação do presidente, incumbência e a economia. Reinterpretamos a vantagem da incumbência de Abramowitz como a ausência de uma “penalidade de mandato” sofrida pelos partidos que pretendem ocupar a Casa Branca por mais de oito anos, um feito realizado apenas uma vez desde 1950. Também consideramos o enfraquecimento da ligação entre o desempenho da economia e a parcela de votos dos incumbentes que buscam a reeleição, por causa da crescente polarização do eleitorado em campos partidários comprometidos.

Como sabe qualquer pessoa que tenha acompanhado a política americana em 2000 ou 2016, vencer no voto popular não é garantia de prevalecer no colégio eleitoral de cada estado. Nosso modelo também inclui uma previsão dos fundamentos para cada estado, baseada em grande parte no quanto os seus resultados anteriores foram mais democratas ou republicanos do que os Estados Unidos como um todo. Por exemplo, em 2020, Trump venceu na Flórida por 3,3 pontos percentuais, enquanto perdeu no nível nacional por 4,5 pontos, colocando a Flórida 7,8 pontos à direita do país.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, discursa na Casa Branca, em Washington Foto: Evan Vucci/AP

Nosso modelo busca então as verdadeiras intenções de voto em cada estado, a cada dia, levando em consideração as pesquisas de opinião publicadas até o momento. Ele se ajusta ao impacto dos métodos nos resultados da pesquisa, ao tamanho das amostragens, aos vieses dos pesquisadores e ao uso de filtros de eleitores mais prováveis. Diariamente, o modelo gera 10.001 cenários diferentes possíveis para a eleição. Os cenários mais comuns chegam perto dos resultados das pesquisas e de suas previsões baseadas em fundamentos. Mas também inclui um bom número de grandes surpresas, para permitir o risco de erros significativos nas pesquisas.

Em 2012, o quadro geral traçado pelas pesquisas no nível estadual revelou-se mais preciso do que as pesquisas nacionais; quatro anos depois, o inverso era verdadeiro. Para evitar a ponderação excessiva de qualquer tipo de pesquisa, o modelo trata as eleições como um quebra-cabeças gigante, no qual as parcelas de votos em cada estado têm de somar o total nacional. Uma pesquisa nacional de resultado particularmente expressivo para um candidato produzirá percentagens de votos esperadas mais elevadas em todos os estados. Por outro lado, uma pesquisa de resultado surpreendentemente fraco no nível estadual para um candidato reduzirá as expectativas do modelo não apenas nesse estado, mas em todo o país, especialmente em locais geograficamente próximos e demograficamente semelhantes.

Por que as coisas parecem ruins para Biden

Começando com os fundamentos nacionais, a expectativa do nosso modelo para Biden (antes de ver uma única pesquisa do tipo “corrida de cavalos”) é que ele obtenha 50,5% dos votos bipartidários – um pouco acima de sua participação atual de 49,4% nas pesquisas nacionais, embora abaixo os 52,3% que ganhou em 2020. O modelo acredita que é um pouco mais provável que ele ganhe terreno em relação a Trump durante os próximos cinco meses do que perca: em média, espera-se que Biden ganhe meio ponto percentual, gerando um empate no voto popular nacional.

Infelizmente para o presidente, as pesquisas no nível estatal não sugerem que a vantagem eleitoral que Trump desfrutou em 2016 e 2020 tenha diminuído materialmente. Biden está atrás por cerca de cinco pontos em estados disputados Cinturão do Sol como Arizona, Geórgia e Nevada, que votaram nele há quatro anos. Nosso modelo lhe dá apenas 24% de chances de se manter vitorioso na Geórgia, onde a sua perda de popularidade entre os eleitores negros é mais prejudicial, e 31% e 36% de probabilidade no Arizona e no Nevada, onde as suas perdas entre os latinos o prejudicam.

As pesquisas de Biden tiveram melhor desempenho nos estados indecisos do Cinturão da Ferrugem, de população relativamente branca, como Michigan, Pensilvânia e Wisconsin. Trump lidera por pequena margem nos três estados. Nosso modelo considera todos os três próximos de um empate técnico. A parcela de votos no nível estadual na região dos Grandes Lagos tende a flutuar de uma eleição para outra. Seria necessária apenas uma pequena melhoria nos números de Biden ou um erro nas pesquisas a seu favor para lhe entregar os três estados e um segundo mandato.

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