Cerca de 500 percussionistas comandaram o encerramento do Carnaval de Salvador em homenagem ao Ilê
A multidão que esperava por Carlinhos Brown no Farol da Barra foi surpreendida com uma chegada emocionante. Por volta das 12h, o cacique chegou ao Farol da Barra correndo, com um cocar em homenagem ao Ilê Aiyê, acompanhado de centenas de percussionistas do projeto Zárabe. Assim o artista iniciava um encontro histórico: pela primeira vez, Ilê Aiyê, Olodum e os Zárabes se reuniam para encerrar o tradicional Arrastão da Quarta-Feira de Cinzas.
Um pai-nosso, uma ave-maria e o padê marcaram o início do desfile, que reuniu cerca de 500 percussionistas dos convidados e centenas de foliões. “O Ilê é uma casa que abrange o mundo, me acolheu, acolheu o Axé Music e acolhe os grandes cantores, que hoje são molas propulsoras de sucesso no Brasil para o mundo”, disse o cacique, que, junto ao Ilê, abriu e fechou o Carnaval de 2024.
Na bateria do Ilê, o técnico em Segurança do Trabalho Aldenízio Rocha, 39 anos, celebra o encontro promovido por Brown nesta quarta. Em 18 anos na percussão do bloco, essa foi a primeira vez que desfilou no encerramento da folia. “Esse encontro fortalece a nossa negritude, a nossa ancestralidade, as nossas raízes”, disse.
O encontro histórico no Arrastão representa o encerramento do Carnaval, mas é muito mais que isso neste ano. Isso porque, em 2024, o Ilê Aiyê celebra 50 anos de existência, enquanto o Olodum comemora 45 anos. “Estamos muito felizes e conscientes de que esse momento é um marco na história do Carnaval da Bahia. É uma honra enorme celebrar os 50 anos de bloco afro através dos nossos irmãos do Ilê”, disse o presidente executivo do Olodum, Jorginho Rodrigues.
O Olodum colocou na rua cerca de 120 percussionistas para celebrar esse momento histórico. O presidente ainda informou que pretende realizar mais ações para celebrar essa data histórica. “Vamos fazer disso uma série de eventos que se repitam e que enalteçam e valorizem a cultura afro-brasileira”, concluiu.
O Vovô do Ilê, fundador e presidente do bloco, não esteve no Arrastão. A reportagem tentou contato, por telefone, mas não obteve sucesso.
Ao longo do percurso, Carlinhos e os cantores dos blocos puxaram canções que representam a história do Olodum e do Ilê. No repertório, estavam os clássicos ‘Que Bloco É Esse?’, ‘Canto da Cor’, ‘Charles Ilê’, ‘Protesto do Olodum’ e ‘Alfabeto do Negão’. Na multidão, muito swing, emoção e representatividade.
Embalada pelos tambores dos blocos, a professora Marivalda Barreto, 61, comemorou o encontro no Farol da Barra. “A importância desse encontro é de valorização da cultura afro-baiana, que é uma das maiores culturas do Carnaval. As pessoas se valorizam enquanto negras, enquanto importantes como negras”, afirmou.
A cantora Tatiane Brito, conhecida como Tati Brito, trabalhou todos os dias do Carnaval de Salvador 2024. Apesar do sol escaldante desta quarta-feira, a artista fez questão de curtir o Arrastão atrás de Brown, do Zárabe e dos blocos Ilê e Olodum. “A importância desse momento é ratificar a nossa negritude, a nossa ancestralidade, renovar as energias do ano inteiro, porque o arrastão é o melhor do Carnaval, é pra lavar a alma”, disse.
Ao chegar em Ondina, Brown finalizou o desfile com outra participação especial: Mariene de Castro, que acompanhou todo o desfile. Esse foi o momento em que o cacique subiu ao trio – ele conduziu as baterias no chão, durante todo o circuito – e cantou o hino do Senhor do Bonfim ao lado da cantora.
“Nunca vi tanta gente aqui [no Arrastão], provando que o trabalho do Ilê Aiyê vale e valeu para todos nós. Que Neguinho do Samba continue nos nossos ouvidos, ensinando-nos a missão do amor e do toque sonoro. Que Vovô do Ilê tenha força, que João Jorge teha força”, disse ao finalizar o circuito em Ondina, com centenas de pessoas na rua.