O petista Jerônimo Rodrigues delimitou seu espaço no debate entre candidatos ao Governo da Bahia, na TV Bandeirantes, e citou o nome do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nove vezes, destacando a importância de uma parceria entre os governos federal e estadual.
Aliado de Jair Bolsonaro (PL), o ex-ministro João Roma foi além e falou do presidente 21 vezes, comparando a Bahia a um “barco que rema para o lado enquanto o país vai para frente”.
O ex-prefeito de Salvador ACM Neto (União Brasil) não citou Lula nem Bolsonaro –ele desistiu de ir ao debate. Mas certamente sequer falaria o nome da candidata à Presidência de seu partido, a senadora Soraya Thronicke.
O embate de estratégias para com a eleição nacional dá o tom do início da campanha eleitoral para o Governo da Bahia, quarto maior colégio eleitoral do país e palco crucial no pleito de outubro.
Candidato óbvio da oposição desde que deixou a prefeitura em janeiro de 2021, ACM Neto entra na campanha sem uma referência nacional.
Depois de 15 anos na oposição aos governos petistas, o ex-prefeito de Salvador voltou a se aproximar do poder central com a eleição de Bolsonaro. Mas acabou se afastando do presidente em 2020 em meio a divergências em relação à condução da pandemia.
Na prática, contudo, manteve o acesso ao governo por meio de deputados aliados, que costumam votar em pautas de interesse do governo e controlam órgãos federais cobiçados, caso da Codevasf.
A alta rejeição de Bolsonaro na Bahia fez ACM Neto se fechar em relação à eleição nacional, construindo pontes com bolsonaristas, aliados de Ciro Gomes (PDT) e até mesmo com apoiadores de Lula.
No discurso, atenuou o tom em relação ao petista, com quem tem um histórico de rusgas do período em que foi oposição na Câmara dos Deputados. E encontrou reciprocidade do outro lado: um Lula que tem evitado críticas a adversários locais do PT não alinhados a Bolsonaro.
Para tentar encerrar um ciclo de 16 anos de governos do PT, resgatou a imagem do avô Antônio Carlos Magalhães (1927-2007), político controverso que governou a Bahia três vezes, fez sucessores, mas encerrou a carreira política na oposição de forma melancólica.
No campo adversário, o PT aposta em uma estratégia de grupo para manter a hegemonia no estado. Ex-secretário estadual de Educação, Jerônimo Rodrigues tem a imagem do ex-presidente Lula como centro de sua campanha, seguindo uma estratégia de voto casado.
Estreando nas urnas nas eleições deste ano, Jerônimo foi escolhido em meio a uma série de atritos internos na base aliada do governador Rui Costa (PT).
Como não foi preparado para a disputa, ainda é um desconhecido —pesquisas apontam que 7 em cada 10 eleitores baianos não sabem quem ele é. Por isso, aposta em uma estratégia massiva de vinculação de seu nome ao de Lula e ao do governador Rui Costa (PT), que tem boa avaliação.
Se Lula e Rui Costa são seus trunfos, o seu trabalho como secretário de Educação é alvo de críticas pelos sucessivos desempenhos ruins da Bahia no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica).
Para contrapor os resultados que avaliam a qualidade do ensino, o petista aposta no perfil obreiro com a construção de escolas e nos programas de assistência estudantil que foram turbinados na última gestão.
Nas pesquisas, Jerônimo também parte de um patamar baixo. Levantamento da Quaest de julho aponta que o petista tem 11% das intenções de voto contra 61% de ACM Neto. Mas sua intenção de voto cresce quando o seu nome é vinculado ao do ex-presidente Lula.
Membros do comando das campanhas de Jerônimo e ACM Neto concordam que a tendência é que o petista comece a crescer a partir de 16 de agosto, quando começa a campanha eleitoral. Mas divergem sobre o ritmo do crescimento e se ele será suficiente para forçar um segundo turno.
O cientista político Paulo Fábio Dantas Neto, professor da UFBA, diz ver um descompasso entre a eleição nacional, polarizada entre dois candidatos de base popular, e a estadual, centrada em grupos políticos tradicionais.
“O PT trabalha para contaminar a campanha estadual com o clima da polarização nacional, mas até agora não conseguiu”, avalia Dantas Neto, apontando dois possíveis obstáculos: a avaliação positiva da gestão de ACM Neto e o histórico recente de afinidade com o governador Rui Costa (PT) durante a pandemia.
Para reverter este cenário, diz, será necessário que Lula arregace as mangas para criar esse clima de acirramento na Bahia, algo hoje considerado impensável frente à dura disputa que se avizinha na eleição presidencial.
O núcleo duro de ACM Neto prevê uma possibilidade de vitória no primeiro turno. Para isso, destaca ativos que a oposição na Bahia não teve nas últimas três eleições: base política sólida, coligação de partidos ampla, forte inserção nas redes sociais e mais tempo de TV do que os adversários.
Aliados de Jerônimo Rodrigues, por outro lado, destacam a força de ter o mesmo número de urna de um candidato popular na Bahia como Lula. Por outro lado, devem trabalhar para vincular ACM Neto a Bolsonaro e atacar o adversário, o apontando como autocentrado e sem sensibilidade social.
Em meio à briga entre petistas e carlistas que polariza as eleições na Bahia desde 1998, o ex-ministro da Cidadania João Roma (PL) aparece como uma opção para o eleitorado mais conservador.
Com uma trajetória política forjada nos bastidores do PFL e DEM, Roma foi assessor de ACM Neto e seu chefe de gabinete da prefeitura entre 2013 e 2018, ano em que se elegeu deputado federal.
Em janeiro de 2021, foi convidado por Bolsonaro e aceitou ser ministro da Cidadania. Rompeu com o seu padrinho político, que foi contra sua ida para o ministério, e desde então vem desferindo duras críticas a ACM Neto, de quem diz querer distância.
Ao contrário de outros aliados de Bolsonaro, não esconde o presidente, que é elemento central de sua campanha ao Governo da Bahia. Sua campanha tem duas propostas centrais: a redução de tributos e a criação de uma versão local para o Auxílio Brasil.
Entre aliados, há uma crença de que ele pode surpreender em votos alavancado pelos votos bolsonaristas. Mesmo que não vença, um bom desempenho o credenciaria como um líder político com luz própria.
Na outra ponta do espectro ideológico, concorre ao Governo da Bahia Kleber Rosa (PSOL), líder do movimento de policiais antifascistas. Na Bahia, o PSOL não se alinha ao PT e tem duras críticas ao governador Rui Costa.
Também disputam o Governo da Bahia o professor Giovani Damico (PCB) e o motorista por aplicativos Marcelo Millet (PCO).
João Pedro Pitombo, Folhapress