Professor Jorge Almeida vê semelhança nos focos de ACM Neto e Jerônimo Rodrigues, enquanto Jõao Roma e Kleber Rosa devem se posicionar como ‘o diferente’ entre os dois
As campanhas eleitorais do primeiro turno começaram nesta terça-feira (16), e os candidatos já estão focados nos desempenhos para conseguir conquistar os votos de 156,4 milhões de eleitores brasileiros. Os atos políticos vão até o dia 1º de outubro, um dia antes da votação do primeiro turno, e agora os políticos que estão na disputa eleitoral estão liberados para promover comícios, carreatas e caminhadas, distribuir material gráfico e fazer propaganda paga em mídia impressa e na internet.
O cientista político e professor de Ciência Política da Universidade Federal da Bahia (UFBA) Jorge Almeida pontuou alguns desenvolvimentos que podem ocorrer durante os atos políticos e esclareceu o que muda a partir de agora em relação às pré-campanhas. Ele também traça possíveis caminhos a ser seguidos pelos candidatos ao governo da Bahia.
A partir desta semana se iniciam oficialmente as campanhas dos candidatos às eleições de 2022. Quais serão as ações realizadas pelos candidatos?
Praticamente as campanhas já estão ocorrendo de fato, com todo tipo de ação de campanha e atividade, desde o início das pré-campanhas. O que tem faltado é a divulgação explícita do pedido de votos com o número dos candidatos. Creio que a partir de hoje as candidaturas vão poder dar ênfase justamente a isso, a divulgação do nome e do número explicitamente, utilizando os mesmo tipos de campanhas que já vêm sendo utilizados, isso até o dia 26 de agosto, quando vai começar o horário gratuito de TV e rádio.
O que esperar da campanha dos candidatos ao governo da Bahia?
As diferenças programáticas entre as candidaturas de ACM Neto e Jerônimo são muito pequenas. De fato, os programas de ambos são muito parecidos, principalmente se levarmos em conta o que foram as administrações de Rui Costa para o governo do estado e ACM Neto para prefeitura de Salvador. Neste sentido, eles vão para um lado, procurar basear parte da sua campanha em supostos bons resultados das suas ações, um como próprio administrador da prefeitura e o outro como parte de um grupo que vem governando a Bahia há praticamente 16 anos. O outro elemento de diferença deve vir a partir da candidatura de Jerônimo, que deve procurar se beneficiar da sua relação mais direta com Lula, porque este tem um apoio bem significativo na maioria do eleitorado baiano. Então, ele vai procurar colar sua candidatura com a de Lula. Por outro lado, as candidaturas de João Roma e Kleber Rosa vão procurar mostrar uma diferença entre eles e ACM Neto e Jerônimo. Ou seja, entre a candidatura que administrou a prefeitura de Salvador, e continuou administrando indiretamente, e a candidatura que representa o governo da Bahia, sendo que João Roma procurará capitalizar o voto do eleitorado bolsonarista, que é minoritário, mas é significativo para permitir que ele possa ter uma votação significativa. Ele vai tentar colar em Bolsonaro para permitir que com isso ele tenha votação, que não será baseada na sua própria performance pessoal. E enquanto isso, Kleber Rosa vai procurar mostrar suas diferenças com um conjunto das candidaturas. Se por um lado o pessoal de Kleber Rosa do PSOL apoia Lula para presidência da República, ele tem demonstrado, como aconteceu no primeiro debate na TV, um posicionamento bem claro e nítido, contrário as outras três candidaturas e ele procurará manter este caminho de diferença com todos demais. Já ACM Neto vai procurar manter um certo equilíbrio de alguma maneira e tentar capitalizar uma parte do eleitorado prol Lula, o que não é uma novidade no seu grupo político e de sua família, por que na campanha de 2002, o velho ACM já fez mais ou menos a mesma coisa, apoiando de maneira frouxa a candidatura de Ciro Gomes no primeiro turno e deixando correr a votação de Paulo Souto, em grande parte ligada ao eleitorado de Lula e no segundo turno ACM deu apoio explícito de Lula.
A corrida eleitoral no estado será acirrada? Com possibilidade de um segundo turno?
A disputa eleitoral na Bahia, especialmente para a candidatura de governador, continuará sendo acirrada, havendo grande possibilidade de existência de um segundo turno, por que provavelmente a somatória dos votos das candidaturas de Kleber Rosa do PSOL e João Roma do PL serem uma quantidade o suficiente para viabilizar um segundo turno entre ACM Neto e Jerônimo.
Muito tem se falado sobre as campanhas deste ano serem focadas em quem não votar, ou seja, os candidatos afirmando para não votar no concorrente. O que o senhor acha sobre isso?
Em toda campanha sempre existe uma parte do eleitorado que vota mais para derrotar uma outra candidatura do que por preferência daquela na qual ele vota. Porém, isso tem acontecido principalmente no segundo turno, esse ano devido à polarização eleitoral que vem acontecendo, provavelmente haverá uma maior quantidade de eleitores que vão votar dessa forma desde o segundo turno, principalmente na eleição presidencial. Muitos ou uma parte significativa dos que vão votar em Lula ou Bolsonaro votarão principalmente para derrotar o outro, do que por um apoio efetivamente ativo ao candidato. Na eleição presidencial passada, isso aconteceu principalmente em eleitores do Bolsonaro que votaram contra a candidatura de Haddad, que representava a candidatura do PT, um voto antipetista, desta vez entretanto, boa parte deste tipo de voto vai ser dado justamente para Lula, contra Bolsonaro, a partir da experiência negativa que tiveram com o governo.
É possível mensurar o impacto eleitoral nas redes sociais neste ano?
Certamente o peso da utilização das redes sociais do impacto da campanha nessas redes tendencialmente tem sido maior a cada ano que passa, porque o acesso à internet, especialmente pelo celular, tem se ampliado e tem havido uma redução das televisões, principalmente da aberta, inclusive com uma grande rejeição de uma parte do eleitorado a determinados canais de TV, mas o horário o horário gratuito de TV e rádio continuará tendo sua importância. Por outro lado, infelizmente, essa maior utilização das redes sociais vem se dando sem que haja um maior esclarecimento do processo eleitoral, uma informação mais sadia e rigorosa ao contrário das redes, que têm sido utilizadas principalmente para divulgação de ‘fake news’, reduzindo portanto a qualidade da informação ao eleitor.
Fonte: Bahia.ba