Camaronês luta de igual para igual com campeão mundial dos pesos-pesados de boxe e é derrotado por decisão dividida em superluta na Arábia Saudita
Francis Ngannou não saiu de Riad com uma vitória oficial, mas saiu com uma vitória moral. O ex-campeão do UFC e atual lutador da PFL lutou de igual para igual no boxe com o campeão mundial dos pesos-pesados da modalidade, Tyson Fury, em superluta realizada na Arábia Saudita neste sábado.
O camaronês derrubou o britânico com um knockdown no terceiro assalto, foi até o gongo final e fez luta parelha. No entanto, os juízes apontaram vitória do campeão do Conselho Mundial de Boxe (WBC) por decisão dividida (95-94 Ngannou, 96-93 Fury, 95-94 Fury).
Lutar boxe era um sonho antigo de Ngannou, que ganhou força quando ele se consagrou campeão peso-pesado do UFC em março de 2021, chamando a atenção de Tyson Fury. Apesar disso, muitos especialistas criticaram a ideia, assegurando que o pugilista profissional brincaria com o lutador de MMA. O presidente do Ultimate, Dana White, se recusou a liberar Ngannou para a superluta e garantia que não haveria interesse do público. O camaronês precisou esperar o final de seu contrato com a organização para perseguir seu sonho.
O público, porém, apareceu. A arena montada em Riad ficou lotada – não só de fãs comuns, mas de celebridades, e não só do boxe e do MMA. Compareceram nomes como Ronaldo Nazário, Cristiano Ronaldo, Sadio Mane, Luís Figo e Rio Ferdinand, do futebol, e os rappers e empresários Kanye West e Eminem. Além deles, lendas do ringue como Evander Holyfield, Sugar Ray Leonard, Manny Pacquiao e Roy Jones Jr, e lendas do cage como Chuck Liddell, Randy Couture, Rampage Jackson, Conor McGregor, Junior Cigano e Frank Mir.
E na parte da luta, Ngannou provou que tinha lugar no ringue junto com Fury. O ex-campeão do UFC começou devagar, mas acertou duros golpes, incluindo um knockdown – apenas o sétimo sofrido na carreira do britânico, que segue invicto em 35 lutas oficiais de boxe. Entrando nos dois rounds derradeiros, o camaronês estava à frente na pontuação de muitos observadores, e Fury venceu graças a um tanque de gás melhor.
A LUTA
Fury até tentou acelerar logo no começo com um cruzado de direita, mas desde o primeiro round Ngannou não parecia fora de seu elemento no ringue. O inglês venceu o assalto inicial com bons jabs e alternância de golpes no corpo e na cabeça. Mas o lutador de MMA rapidamente ganhou confiança. No segundo assalto, já conectava boas esquerdas no corpo e viu Fury agarrá-lo no clinche, tentando cansá-lo.
Foi no terceiro período, porém, que Ngannou abriu os olhos de Fury e do mundo. Quando o britânico trocou de base e tentou uma combinação de jab e direto, o camaronês voltou com um contragolpe de esquerda, e Fury caiu sentado. Animado com o knockdown e empurrado por uma plateia que agora torcia pelo azarão, Ngannou foi para cima no quarto round e acertou duros jab e direto logo de início. O campeão de boxe voltou a buscar o clinche e o tiro quase saiu pela culatra: se desequilibrou no jogo agarrado e precisou se apoiar nas cordas.
No quinto round, porém, o lutador de MMA pareceu diminuir o ritmo. Fury começou a se movimentar mais confortavelmente e acertou um bom direto, que Ngannou absorveu. O camaronês ficou mais plantado a partir do sexto round, tentando trabalhar no contragolpe. A esta altura, Fury era mais rápido e ia cutucando o adversário com jabs enquanto dançava pelo ringue.
No sétimo assalto, Ngannou encontrou um novo ânimo ao alternar para a base canhota. Assim, ele conectou um bom direto, que fez Fury imediatamente retornar à base ortodoxa. O camaronês conectou outros dois bons diretos de esquerda, no rosto e no corpo. No oitavo, Fury voltou a acertar boas direitas, mas Ngannou respondeu com um direto de esquerda duro. Na saída de um clinche, Ngannou acertou uma sequência de cruzados, e Fury respondeu com um duro cruzado de direita. Os dois trocaram golpes francos no melhor round até ali.
Ngannou acertou mais dois bons cruzados no nono assalto, mas voltou a estar mais plantado e mostrar sinais de desgaste nos dois assaltos finais. Fury respondeu com muito movimento, conectando com jabs e saindo da distância do lutador de MMA. Os dois foram ao décimo round com muitos especialistas apontando luta empatada. Apesar disso, foi o assalto mais estudado da luta. Ngannou estava bem mais lento que antes. A plateia tentava apoiá-lo com gritos de “Francis! Francis!”
Na metade final do round, Fury voltou a conectar seus jabs. Ngannou tentou um “Superman punch”, sem sucesso, sua última investida antes do soar do gongo. Os dois se abraçaram e Fury parabenizou o adversário pelo valente esforço. Ngannou foi erguido por sua equipe e muito aplaudido pela plateia.
– Isso (knockdown) não estava no roteiro! Francis é um grande lutador, forte e um boxeador muito melhor do que esperávamos. Ele é um cara muito estranho, é um bom golpeador, e o respeito muito. Ele não estava vindo para frente, estava tentando contragolpear e me deu talvez a minha luta mais difícil nos últimos 10 anos – reconheceu Tyson Fury, que disse não ter se machucado muito ao sofrer o knockdown. Além disso, desconversou sobre a potencial luta de unificação dos cinturões do peso-pesado contra Oleksander Usyk, especulada para dezembro.
– Estou muito feliz. Não terminou como eu queria, mas gostaria de agradecer a chance de provar que as pessoas estavam erradas novamente. Posso estar ferido, mas posso morder. Sou um lutador e posso lutar a qualquer hora. Esta foi minha primeira luta de boxe, foi uma ótima experiência. Não vou dar desculpas. Vou voltar com mais experiência e mais força. No começo, eu estava nervoso, mas agora sei que posso fazer essa m***. Preparem-se! – afirmou Ngannou.
– Eu vim de uma longa recuperação, de uma cirurgia, mas não dou nenhuma desculpa. Trabalhei duro, dei meu melhor, e sei da minha capacidade. Eu e meu time vamos ver o que melhorar em seguida. Hoje foi medo da água, e agora sei qual é a temperatura da água e estou pronto para vir aqui e dominar – acrescentou o camaronês.