Sondagem aponta o ex-presidente com 51% das intenções de votos contra 42% de Biden; economia e imigração são pontos fracos na corrida pela reeleição
Uma pesquisa divulgada neste domingo levou más notícias ao presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, que buscará a reeleição no ano que vem. Segundo os números realizada em parceria pela ABC News e pelo Washington Post, o ex-presidente Donald Trump, provável indicado do Partido Republicano, está com 51% das intenções de voto, enquanto o democrata está com 42%. A popularidade dele é de apenas 37%, a menor desde o início das pesquisas realizadas pela ABC News, em 1986 — 56% reprovam o trabalho que desempenha à frente da Casa Branca.
Os pontos fracos são mais do que evidentes. Sobre a imigração e a situação na fronteira com o México, 62% dos entrevistados reprovam a forma como o governo Biden lida com a questão. Nos últimos anos, milhares de pessoas vindas principalmente da América Latina, mas também de locais distantes como Bangladesh e China, chegam à divisa com os Estados Unidos em busca de uma oportunidade de entrar no país, mas que muitas vezes se veem presas do lado mexicano, sem qualquer perspectiva de conseguir um visto ou um pedido de asilo.
Como esperado, o assunto vem sendo utilizado à exaustão pelos republicanos, que têm na retórica anti-imigração uma de suas principais bandeiras políticas. Donald Trump continua a prometer a construção de uma barreira na divisa com o México, algo que também norteou sua campanha vitoriosa em 2016, mas que não chegou exatamente a sair do papel. Na quarta-feira, o governador republicano do Texas, Greg Abbott — que não tem planos imediatos de concorrer à Presidência — declarou um estado de “invasão”, e disse que suas tropas serão enviadas à fronteira. E o governador da Flórida, Ron DeSantis, esse sim pré-candidato à Casa Branca, chegou a prometer usar mísseis para atacar cartéis mexicanos que usam as fronteiras para levar drogas aos Estados Unidos.
Outro ponto fraco de Biden é a economia. Apesar de alguns indicadores serem positivos para o democrata, como a inflação, de 3,8% em agosto, contra 8.26% no mesmo período do ano passado, e do desemprego estar abaixo dos 4%, apenas 30% dos entrevistados dizem apoiar a forma como Biden conduz a maior economia do planeta. Para 44%, a situação financeira pessoal piorou nos últimos anos, e, para 64%, ele faz um mau trabalho em um setor que, como já dizia o histórico estrategista democrata James Carville, é o que decide tudo no fim do dia.
Curiosamente, até um potencial problema que não necessariamente é culpa de Biden está sendo colocado na conta dos democratas. Hoje, os republicanos na Câmara não se entendem sobre o orçamento para o próximo ano fiscal, e a falta de um acordo pode levar à paralisação de serviços essenciais do governo federal, uma situação conhecida como “shutdown”. A raiz do problema está na ala mais radical do Partido Republicano, e o presidente da Câmara, Kevin McCarthy, republicano, não parece conseguir “domar” esses elementos.
No sábado, Biden disse que o impasse é de responsabilidade de um grupo de “republicanos extremos”, mas a pesquisa da ABC News/Washington Post mostra que, para 40%, a culpa de um eventual “shutdown” seria de Biden e dos democratas no Congresso. Os republicanos são responsabilizados por 33% dos ouvidos pelos pesquisadores.
Idade questionada
Além da desvantagem em relação a Trump na pesquisa nacional, de 51% a 42%, os números também confirmam uma tendência apontada por outras pesquisas nos últimos anos: muitos eleitores questionam se Biden, hoje com 80 anos, é capaz de ficar mais quatro anos na Casa Branca — segundo a pesquisa, 74% dizem que ele está muito velho para um segundo mandato, seis pontos percentuais a mais do que em maio.
Um efeito disso é que 62% dos eleitores que se identificam como democratas ou independentes mais próximos dos democratas defendem que o partido escolha outro candidato. Entre os mais citados aparecem a vice de Biden, Kamala Harris (8%), que não conseguiu obter o salto de popularidade que se esperava depois da vitória da chapa em 2020, o senador Bernie Sanders (7%) e o pré-candidato democrata Robert Kennedy Jr. (7%), conhecido por suas posições antivacina e adepto de teorias da conspiração.
Do lado republicano, a situação parece mais pacificada. Para 54%, Donald Trump deve ter mais uma chance de concorrer à Presidência, naquela que seria sua quarta disputa — ele concorreu e perdeu em 2000 e 2020, e venceu em 2016. O rival mais próximo é Ron DeSantis, que surge com 15%, dez pontos percentuais a menos do que na pesquisa de maio.
O tempo também parece ter melhorado a opinião dos eleitores sobre seu mandato: para 48%, ele fez um bom governo, contra 38% que diziam ter a mesma visão em 2021, quando deixou o cargo. Ainda sobre Trump, 29% dos entrevistados corroboram as alegações infundadas de que a vitória de Biden teria sido uma fraude, uma teoria da conspiração que até hoje está presente nos discursos do ex-presidente e de seus apoiadores.
Vale ressaltar que, ao contrário do que acontece na maior parte dos países, a eleição nos EUA adota um formato de disputas estaduais: cada estado corresponde a um número de eleitores que votarão no Colégio Eleitoral e, de fato, escolherão o presidente. Por isso, as sondagens podem ser lidas mais como tendências de momento do que uma vantagem nas urnas — em 2016, por exemplo, Hillary Clinton recebeu mais votos nacionalmente, mas perdeu no Colégio Eleitoral para Trump.
Além disso, diferenças de metodologia também podem trazer resultados diferentes. Uma prova disso é que uma outra pesquisa divulgada neste domingo, da NBC News, mostra um empate entre Biden e Trump, 46% a 46%. Contudo, as opiniões negativas sobre o governo do democrata se repetem em uma proporção bem similar.