Minas Gerais manteve, no primeiro turno das eleições de 2022, a sua tradição de refletir os resultados nacionais da corrida presidencial.
As votações de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) no estado e no país foram quase idênticas, em termos proporcionais. Os dois disputam o segundo turno no próximo dia 30.
Com todas as urnas apuradas, Lula obteve 48,43%, e Bolsonaro, 43,2% das preferências dos eleitores brasileiros. Entre os mineiros, esses índices foram de 48,29% e 43,6%, respectivamente.
A ordem de colocação dos 11 candidatos nos rankings nacional e estadual também ficou praticamente igual, com Simone Tebet (MDB) em terceiro e Ciro Gomes (PDT) em quarto lugar, e assim sucessivamente, até Eymael (DC), em último.
A única diferença foi que, em Minas, Soraya Thronicke (União Brasil) terminou na sexta posição. A senadora foi superada no estado por Luiz Felipe D’Avila (Novo), candidato apoiado pelo governador Romeu Zema, do mesmo partido.
Para o segundo turno, um novo tempero na disputa mineira entre Lula e Bolsonaro é o apoio de Zema ao atual presidente. O chefe do Executivo estadual foi reeleito em primeiro turno com 56,18% dos votos.
Nas últimas eleições, os mineiros não tiveram nenhuma objeção à ideia de eleger presidente e governador de campos políticos opostos.
Em 2002, 2006 e 2010, o estado contribuiu para as vitórias nacionais do PT, primeiro com Lula e depois com Dilma Rousseff. Simultaneamente, manteve no comando local o então antagonista PSDB, com maioria nas urnas para Aécio Neves e Antonio Anastasia.
Neste ano, o voto paralelo em Lula e Zema também foi recorrente. Mesmo associados a ideologias contrárias, os dois foram os mais votados para os respectivos cargos no primeiro turno em 436 dos 853 municípios mineiros (51%).
Em cinco cidades de diferentes regiões, o ex-presidente e o governador reeleito conseguiram simultaneamente votações superiores a 65% dos votos válidos: Divisópolis (Jequitinhonha), Frei Gaspar (Vale do Mucuri), Pintópolis (Norte), Presidente Juscelino (Central) e Santa Rita de Ibitipoca (Zona da Mata).
Na disputa presidencial, o estado voltou a refletir a polarização observada desde 2006 entre o Sul e o Norte do país, mas com avanço do PT em relação aos resultados obtidos por Fernando Haddad em 2018.
Lula foi o mais votado em 630 municípios mineiros, e Bolsonaro, nos outros 223. No pleito anterior, o atual presidente havia saído com vantagem no primeiro turno em 481 cidades, conta 372 do ex-prefeito paulistano, hoje candidato ao Governo de São Paulo. Ou seja, no saldo, o PT conseguiu mais 258 cidades.
De 129 redutos petistas que haviam abandonado o partido em 2018 no estado, o PT conseguiu recuperou 106. Um deles é Juiz de Fora, na Zona da Mata, umas regiões mineiras em que Lula mais ganhou terreno. A cidade foi palco da facada sofrida por Bolsonaro há quatro anos.
Presidente Kubitschek, no Vale do Jequitinhonha, foi o município mais lulista e menos bolsonarista de Minas no primeiro turno deste ano. Os eleitores de lá deram 82,81% dos votos válidos para o petista e 12,63% para o atual presidente.
O oposto aconteceu em Monte Sião, na divisa com São Paulo, onde a apuração das urnas terminou com 70,26% das preferências para Bolsonaro e 23,22% para Lula.
Conforme mostrou a Folha antes das eleições, dados históricos corroboram com a máxima “quem ganha em Minas ganha no Brasil”. O estado tem o segundo maior colégio eleitoral do país (15,8 milhões de eleitores), só atrás de São Paulo (33,1 milhões).
Desde a redemocratização, todos os presidentes eleitos triunfaram nas urnas mineiras: de Fernando Collor (1989) a Bolsonaro (2018), passando por Fernando Henrique Cardoso (1994 e 1998), Lula (2002 e 2006) e Dilma (2010 e 2014).
O fenômeno só se repete no Amazonas e no Amapá, com a ressalva de que, neste segundo estado, FHC não alcançou a maioria absoluta dos votos (42,3%) em 1998, quando foi reeleito em turno único.
Os números, contudo, reforçam ser Minas Gerais a parte que melhor representa o todo, com os resultados mais semelhantes aos do país em diferentes indicadores.
No acumulado de todos os pleitos, o estado apresenta a maior sobreposição em relação às ordens ocupadas em ambos os turnos por todos os postulantes após a apuração, do mais ao menos votado.
Em 2002, por exemplo, as escolhas dos mineiros refletiram perfeitamente o ranking nacional, com Lula em primeiro, José Serra (PSDB) em segundo, e assim em diante, até Rui Costa Pimenta (PCO) na última colocação. Essa coincidência perfeita ainda se repetiu no estado em 2010 e 2014.
Testes estatísticos de correlação revelam ainda que Minas apresenta a maior similaridade entre os percentuais obtidos historicamente, por todos os candidatos, no país e nas unidades federativas.
Para citar dois exemplos, Dilma foi a preferida de 46,91% dos brasileiros e de 46,98% dos mineiros em 2010, enquanto Serra obteve 23,19% no país e 22,86% no estado em 2002, ambos no primeiro turno.
Segundo especialistas consultados pela reportagem, a principal explicação é o fato de o estado ser também o que melhor resume o país em sua diversidade, em termos geográficos, demográficos e socioeconômicos.
Localizado entre estados com perfis distintos, o território mineiro possui grande variedade regional. Reúne áreas ricas e pobres, rurais e urbanas, agropecuárias e industrializadas, representando assim uma boa amostra da realidade brasileira.
Dados das Nações Unidas apontam que, na média, Minas Gerais tem o nono Índice de Desenvolvimento Humano entre os estados (0,731), muito próximo ao do Brasil (0,727).
A desigualdade social também reflete o cenário nacional. Nova Lima, na região metropolitana de Belo Horizonte, tem um dos melhores IDHs do país (0,813), enquanto São João das Missões, no norte mineiro, um dos piores (0,529).
O Censo de 2010 também mostra o estado como aquele que mais se assemelha à composição étnica da população brasileira, com 45% dos mineiros autodeclarados brancos, 44% pardos, 9% pretos e 1% indígenas.
Cristiano Martins e Letícia Padua/Folhapress