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Queda internacional do cacau repercute no Brasil pressionando preços ao produtor

A forte desvalorização do cacau no mercado internacional nos últimos dias já começa a refletir de forma contundente no cenário brasileiro. A retração nas bolsas de Nova York e Londres provocou ajustes imediatos nas cotações internas, com redução significativa nos preços pagos aos produtores nas principais regiões produtoras da Bahia e do Pará. O movimento tem sido acompanhado por um comportamento mais cauteloso das indústrias processadoras, que seguem reduzindo o ritmo de compras de matéria-prima e revendo estoques.

De acordo fontes ligadas ao setor, a queda da demanda por derivados industriais de cacaucomo liquor, manteiga e pó, tornou-se um dos principais fatores de pressão sobre o mercado interno. Com os preços internacionais em correção e o consumo global de derivados em desaceleração, as indústrias chocolateiras brasileiras intensificaram a substituição de insumos e reformulação de produtos, buscando reduzir custos e preservar margens. Essa mudança inclui desde o uso de menor teor de cacau em algumas formulações até o aumento da participação de gorduras vegetais e sucedâneos, fenômeno que se repete em outros polos consumidores do mundo.

Essa tendência, somada ao enfraquecimento das exportações de derivados e à maior disponibilidade de produto local, tem levado um rebaixamento gradativo dos preços nas praças produtoras. Na Bahia, compradores industriais relatam maior seletividade nas aquisições, priorizando lotes certificados ou de alta qualidade, enquanto reduzem o volume de compras gerais. No Pará, a entressafra naturalmente reduz a oferta, mas a ausência de demanda firme mantém o mercado estagnado, com produtores evitando novas negociações diante da baixa rentabilidade.

O impacto direto é o aumento do desânimo entre agricultores, especialmente os que haviam retomado investimentos após o período de preços elevados. Revendas agrícolas relatam queda nas vendas de fertilizantes, defensivos e insumos nas últimas semanas, sinalizando que parte dos produtores tende novamente a adiar tratos culturais e podas de renovação, o que pode comprometer o potencial produtivo das próximas safras.

Em síntese, a queda internacional do cacau tem desencadeado um efeito dominó no Brasil: retração da demanda industrial, substituição de produtos com menor teor de cacau e redução dos preços pagos aos produtores. O setor volta a enfrentar um ciclo de desestímulo, em um momento em que buscava consolidar avanços em produtividade e qualidade. Caso o mercado global não apresente sinais de recuperação nas próximas semanas, o país poderá encerrar o ano com uma das mais fortes compressões de margem do produtor da última década.

 

 

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