Segundo o Conselho Brasileiro de Oftalmologia, por conta da covid-19 mais de 2,3 milhões de procedimentos para diagnosticar a retinopatia diabética, doença que pode causar a cegueira, deixaram de ser realizados na rede pública do País. Em novembro, a entidade estimula uma série de ações para melhorar a assistência à população.
Após um período de queda significativa no volume de consultas, exames e procedimentos oftalmológicos no Sistema Único de Saúde (SUS) em decorrência do impacto da pandemia de covid-19, a normalidade volta, aos poucos, ao setor. Exemplo importante desse movimento foi apontado pelo Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO), a partir de dados extraídos do DATASUS, departamento de informática do Ministério da Saúde. De acordo com os números analisados pela instituição, com o suporte da consultoria 360° CI, no País, houve um crescimento de 46% na produtividade dos exames para diagnóstico de retinopatia diabética em 2021 com relação a 2020.
De janeiro a setembro de 2021, foram realizados 5.569.661 procedimentos deste tipo. O número é maior do que realizado no mesmo período de 2020 (3.810.020), mas ainda abaixo dos 5.854.835 registrados em 2019. Tomando a produção de dois anos como referência, desde então foram produzidos 2.329.989 procedimentos a menos. Apenas o exame de mapeamento de retina, fundamental para identificar a extensão de lesões, responde por 51% deste total.
Bahia – Na Região Nordeste, o desempenho do período foi ligeiramente superior, com um crescimento médio de 50%. Neste grupo específico, A Bahia realizou de janeiro a setembro de 2021 um total de 293.596 exames de diagnóstico para retinopatia diabética. No mesmo intervalo, em 2020, foram feitos 205.467 procedimentos. Mesmo com o desempenho estadual favorável, não foi possível superar o patamar de atendimentos de 2019, ano pré-pandemia, quando os dados apontam a execução de 358.881 testes do tipo.
Na avaliação do CBO, essa retomada gradual na produtividade do SUS demonstra o efeito positivo da queda dos indicadores de morbidade e mortalidade por conta da covid-19 e do aumento da cobertura vacinal contra essa doença. “A população se sente cada vez mais segura. Com isso, o temor de ir a um serviço de saúde por receio de se contaminar com o coronavírus deixa de ser um problema maior”, ressalta o presidente do Conselho, José Beniz Neto.
Fluxos – Além da mudança de comportamento da população, o CBO aponta a mudança nos fluxos assistenciais como outro fator importante para o aumento de produtividade. De acordo com o vice-presidente do Conselho, Cristiano Caixeta Umbelino, as agendas de exames e consultas em hospitais e outros serviços do SUS passaram a ser redimensionadas, com a ampliação do acesso.
A decisão também se relaciona com o perfil epidemiológico da covid-19, que tem permitido oferecer um número maior de atendimentos nas unidades e desbloquear o contingenciamento de unidades que, antes, estavam exclusivamente ou parcialmente dedicadas ao acolhimento de pacientes contaminados pelo coronavírus.
Contudo, apesar do movimento positivo, o desempenho do SUS ainda não alcançou o patamar pré-pandemia. Na análise dos indicadores do Sistema de Informações Ambulatoriais do SUS, o Conselho Brasileiro de Oftalmologia identificou que os números de atendimento a pacientes com diagnóstico ou suspeita de retinopatia diabética de 2021 ainda estão 5% abaixo do registrado em 2019.
Atendimento – Preocupado com a demanda reprimida e em colaborar com o processo de retomada dos atendimentos, o CBO decidiu estimular a realização de mutirões de atendimento para a retinopatia diabética em todo o País. Trata-se de uma complicação ocular que ocorre quando o excesso de glicose no sangue danifica os vasos sanguíneos dentro da retina. Sem diagnóstico e tratamento, evolui rapidamente e pode levar à perda parcial ou total da visão.
O problema de saúde pública envolvendo essa doença fez com que, liderados pelo CBO, oftalmologistas e entidades parceiras, ao longo de novembro passassem a promover inúmeras ações, em diferentes estados. Em cada iniciativa, pacientes com a suspeita da doença são avaliados por especialistas, passam por exames e são encaminhados para cuidados necessários.
“A defesa da saúde ocular da população é um compromisso do CBO. Desde 2014, temos realizado ações coletivas de saúde, visando a prevenção, o diagnóstico e o tratamento precoces dos casos de retinopatia diabética. Contudo, em 2020, fomos obrigados a suspender nosso trabalho devido às restrições impostas pela pandemia. Este ano percebemos que era o momento de retomar nossa atuação, o que deve ajudar a recolocar o atendimento contra a RD nos trilhos”, explica Pedro Carricondo, coordenador do projeto 24 horas pelo diabetes, que o CBO lançou.
Maratona on-line – Além da mobilização nos estados e municípios, que garantirá ao atendimento efetivo a milhares de pessoas, o projeto 24 horas pelo diabetes inclui uma maratona de atividades on-line que acontecerá no dia 20 de novembro (sábado), a partir de 9h. Por meio de seu canal no Youtube e de outras plataformas digitais, o CBO oferecerá à população de forma gratuita a uma série de conteúdos educativos sobre a retinopatia diabética.
Serão entrevistas, debates, palestras e reportagens que apresentarão cuidados com a doença, ajudarão a identificar sinais e sintomas e orientarão os interessados sobre o que fazer em caso de suspeita. Também serão oferecidos acessos a sessões individuais de teleorientação, durante as quais médicos oftalmologistas e de outras especialidades vão responder às dúvidas dos interessados.
Detalhamento – O relatório inédito do CBO avaliou os registros dos quatro tipos de exames para o diagnóstico da retinopatia diabética disponíveis no SUS: biomicroscopia de fundo de olho, mapeamento de retina, retinografia colorida binocular e retinografia fluorescente binocular. O detalhamento dos números mostra que todos estes procedimentos registraram aumento no número de produção neste ano em relação a 2020. Os percentuais variaram de 40% a 55%.
Em 2019, de janeiro a setembro, foram realizados, em média, cerca de 650,5 mil exames desses quatro tipos a cada mês. No ano seguinte, quando foi decretada a pandemia, esse total baixou para 423,3 mil mensais. Em 2021, com o início da retomada da normalidade nas atividades assistenciais, a média subiu para 618,8 mil procedimentos, número ainda inferior ao de dois anos atrás.
“A rotina de prevenção, diagnóstico e tratamento foi gravemente afetada com a pandemia. O afastamento da população provocou um atraso do laudo sobre o estado de sua saúde ocular. Apesar dos índices animadores que registramos hoje, temos que percorrer um longo caminho para atingir o ideal e minimizar os impactos de médio e longo prazos que a covid-19 causou na visão dos brasileiros” avalia o presidente do CBO.
Estados e regiões – Ao avaliar a produção de exames para retinopatia diabética a partir da sua distribuição geográfica, é possível constatar que a melhora da cobertura ocorreu nas cinco regiões, com destaque para o Regiões Norte (88%), Centro-Oeste (80%) e Nordeste (50%). Em seguida, estão Sudeste e Sul com aumento de 43% e 34%, respectivamente.
Porém, nas três regiões mais populosas, os indicadores continuam abaixo do que foi registrado antes do início da pandemia. O déficit é de -6%, no Sudeste; – 7%, no Sul; e de -17%, no Nordeste. Em termos absolutos, isso significa que as três regiões produziram em 2021, um total de 464.163 mil exames para retinopatia diabética a menos do que em 2019. Na comparação com 2020, a produção de janeiro a setembro desse ano, foi inferior em 1.452.824 procedimentos.
Os dados das unidades federativas confirmam a tendência de queda, apesar do desempenho positivo anotado em alguns locais. Em valores absolutos de procedimentos, as maiores perdas foram observadas em São Paulo, Rio Grande do Sul, Pernambuco, Bahia, Santa Catarina, Espírito Santo e Minas Gerais. Apenas esses seis estados deixaram de realizar 2.110.565 exames de diagnóstico para retinopatia diabética nos intervalos analisados em 2020 e 2021.
Fonte: 360° Comunicação Integrada