A produção de cacau na África Ocidental e Central, região responsável por mais de 70% da oferta global, está sob forte pressão devido às mudanças climáticas. Segundo um estudo da Wageningen University & Research (WUR), alterações na temperatura e no padrão de chuvas estão tornando algumas áreas menos propícias para o cultivo, ao mesmo tempo em que outras podem se beneficiar dessas transformações.
Impactos Regionais e Perdas Projetadas
A pesquisa liderada pela cientista Paulina Asante, de Gana, utilizou um modelo computacional para simular os impactos climáticos até 2060 em quatro países produtores: Costa do Marfim, Gana, Nigéria e Camarões. Na Costa do Marfim, principal produtor mundial, até 50% das terras atualmente usadas para o cultivo de cacau podem se tornar inadequadas, comprometendo significativamente a produção. Em Gana, espera-se uma redução mais moderada das áreas cultiváveis. Por outro lado, Nigéria e Camarões podem se beneficiar do novo cenário climático, com previsões de aumento de 40% e 60% na produção, respectivamente.
Risco de Desmatamento e Sustentabilidade
O avanço do cultivo de cacau para novas áreas, especialmente em Camarões, onde ainda há vastas florestas tropicais, pode intensificar o desmatamento. “Cacau é frequentemente cultivado em terras que antes eram florestas tropicais, o que pressiona ecossistemas já fragilizados”, alerta o pesquisador Niels Anten, do WUR.
Para mitigar esses impactos, especialistas apontam a necessidade de adaptação das regiões produtoras atuais, evitando a expansão para áreas ambientalmente sensíveis. A implementação de políticas como o regulamento europeu EUDR, que busca garantir cadeias de suprimento livres de desmatamento, é vista como essencial para um futuro sustentável do setor.
Desafios e Soluções para os Agricultores
Os produtores africanos de cacau já enfrentam desafios significativos, como baixa renda e acesso limitado a recursos. Com as mudanças climáticas, esses problemas podem se agravar. Para amenizar os impactos, a melhoria da produtividade por hectare é crucial.
Práticas como o manejo eficiente do solo, fertilização direcionada e o uso da agrossilvicultura – cultivo de cacaueiros ao lado de outras árvores – podem ajudar. A presença de árvores de sombra, por exemplo, auxilia na regulação térmica e na retenção de umidade, aumentando a resiliência das lavouras.
“Selecionar as árvores certas é essencial, pois algumas podem competir por água com os cacaueiros e agravar os problemas de seca”, explica Danaë Rozendaal, outra pesquisadora envolvida no estudo. O desenvolvimento de variedades de cacau mais resistentes ao calor e à seca, aliado ao treinamento de agricultores, também é fundamental.
Impacto no Preço do Chocolate
A combinação de menor produtividade e custos de produção mais altos já está afetando o mercado de chocolate. Falhas nas safras, como as ocorridas recentemente na Costa do Marfim, elevaram os preços do cacau, impactando diretamente os consumidores. Algumas empresas estão adotando estratégias para reduzir o consumo do insumo, substituindo parte do cacau por ingredientes alternativos, como pedaços de biscoito.
Apesar dos desafios, Anten se mostra otimista: “Não acredito que o cacau se tornará tão escasso que o chocolate será apenas uma lembrança, mas o setor precisa se adaptar rapidamente”.
O Futuro da Produção de Cacau
A pesquisa sobre o impacto das mudanças climáticas no cacau continua em andamento. Os cientistas buscam entender melhor como o aumento do CO2 pode afetar a fisiologia do cacaueiro, bem como a influência do aquecimento global na floração e frutificação da planta. A evolução de pragas e doenças também está sob análise.
O setor precisa de soluções inovadoras para equilibrar a demanda crescente por cacau e a necessidade de preservação ambiental. Investir em pesquisas, promover práticas sustentáveis e garantir o apoio aos agricultores será essencial para que o chocolate continue sendo um prazer acessível a futuras gerações.