Você acorda, aciona a Alexa e pede para que as cortinas do seu quarto sejam abertas. Em seguida, a assistente virtual coloca uma playlist de músicas para embalar as tarefas matutinas que antecedem sua saída de casa. Junto disso, sua cafeteira automaticamente prepara o café, enquanto uma série de notificações e lembretes tomam a tela do seu celular que, posteriormente, é usado para chamar o Uber que o levará até o trabalho. Há um tempo, esse cenário – só possibilitado pela tecnologia 5G – parecia distante. No caso do Brasil, foi até mesmo colocado em xeque por causa de conflitos políticos e ideológicos.
Agora, completando um ano desde que sua chegada foi permitida no País, a tecnologia de quinta geração tem vivido uma expansão rápida. É o que afirma Carlos Roseiro, diretor de soluções da Huawei, líder global no desenvolvimento da tecnologia 5G na América Latina.
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Pelo cronograma da Anatel, a tecnologia deveria estar disponível apenas nas 27 capitais estaduais e distrital, porém, já é uma realidade em 462 cidades, segundo dados disponibilizados pela própria agência.
Ao todo, são 14.944 estações licenciadas na faixa de 3,5 GHz. “China e Coreia, países que investiram muito nessa tecnologia, demoraram cerca de dois anos para atingir uma base de 20% de usuários. No caso do Brasil, estamos na faixa dos 11% apenas em um ano”, afirmou Roseiro.
Além do investimento em marketing pelas operadoras, Roseiro associa a boa performance do 5G no Brasil às últimas atualizações no valor de aquisição de smartphones pelas varejistas.
“Um dos fatores importantes para o início da massificação é que os aparelhos fossem vendidos abaixo da referência de 300 dólares [R$ 1,5 mil]”, disse Roseiro. Essa queda no preço foi percebida com maior intensidade no primeiro semestre deste ano.
“No terceiro trimestre do ano passado, 7% dos aparelhos vendidos no Brasil estavam abaixo de R$ 1,5 mil. Hoje, cerca de 50% dos aparelhos estão abaixo desse valor.”
Apesar dos bons resultados compartilhados pelo diretor dae soluções da Huawei no Brasil, dados divulgados pela Anatel apontam que há um grande caminho pela frente. Enquanto o 5G representa 7,31% das estações espalhadas pelo País, o 4G lidera (37,67% das estações), seguida pela terceira geração (31,40%) e as da segunda geração (23,61%).
“Investir em tecnologias recentes, como as de quinta geração, é o mesmo que investir em transformação digital.”
Carlos roseiro diretor Huawei BRASIL
Roseiro diz que um dos grandes desafios frente à ampliação do 5G é a acessibilidade, tanto para os que consomem quanto para os que realizam a venda.
Independentemente da quantidade de antenas de 5G, é preciso que as pessoas tenham aparelhos compatíveis com a tecnologia. E aí entra em cena um clássico agravante da economia nacional. “A questão dos impostos é sempre pertinente. Afinal, as taxas cobradas sobre a tecnologia costumam ser altas.”
Como ressalta Roseiro, isso é um impacto tanto para consumidores quanto para os varejistas. Além da variedade de produtos, escolha de aparelhos e a dinâmica concorrencial, o desafio também está atrelado à mudança de hábitos de consumo e ao surgimento de novos tipos de serviços.
“Algo interessante é o que a gente chama de ecossistema, que é a existência de aplicativos e serviços novos que levam as pessoas a usá-los cada vez mais”, afirmou. Na era TikTok e do mercado de influência, os serviços de vídeo em alta resolução são considerados pelo diretor da Huawei como a principal mudança de comportamento digital com impacto na realidade 5G.
“A gente observa que mesmo nas redes sociais, 70% do tráfego é vídeo. Com a tecnologia de quinta geração, é muito melhor.”
Carlos roseiro diretor Huawei BRASIL
Entre os avanços e os desafios, na opinião de Roseiro, o investimento em tecnologias recentes para redes móveis e banda larga – como é o caso do 5G – é sinônimo de transformação digital. Mencionando o setor empresarial, ele afirma que uma grande sacada é a utilização do 5G no âmbito privado.
“Estamos falando do uso além das redes públicas. São empresas colocando as redes 5G para o uso delas mesmas, gerando melhoras na eficiência.” Nessa perspectiva, o diretor nos encaminha diretamente para os galpões da Amazon, que recentemente anunciou seus robôs autônomos. “O 5G pode colaborar com a logística desses armazéns, através de robôs que transportam mercadorias de ponto a ponto e exigem um tempo de resposta muito baixo”, afirmou o diretor.
Partindo para a manufatura nas indústrias, Roseiro nos leva a imaginar o seguinte cenário: uma série de produtos saindo de linha de montagem e sendo verificados manualmente, um a um, por uma pessoa. A cena nos encaminha para o óbvio: a questão do tempo. “Agora, imagine esses produtos sendo analisados em tempo real por uma câmera que, através do algoritmo de inteligência artificial, verifica se existe um defeito ou não.” É desse mundo que se trata o 5G.
5.5G será 10x mais rápido que 5G
Apesar de ser considerada uma tecnologia nova, lançada globalmente há quatro anos e no Brasil há apenas um ano, o 5G deve ganhar uma atualização em breve.
Com um investimento de 25% de seu faturamento em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), somando, nos últimos dez anos, mais de US$ 132 bilhões, a gigante chinesa Huawei divulgou que pretende impulsionar inovações rumo ao 5.5G. Segundo Carlos Roseiro, diretor de soluções da companhia no Brasil, o 5.5G será dez vezes mais veloz que o 5G, atingindo até 10Gbps.
Com lançamento previsto para 2024 ou 2025, Roseiro afirma que ainda é cedo para revelar os impactos que o salto tecnológico poderá proporcionar. Porém, espera-se que o campo da internet das coisas (IoT) seja uma das impactadas pela atualização. “Vamos ser capazes de identificar objetos pela sua forma. Uma espécie de sonar”, afirmou Roseiro.
Divagando sobre possibilidades, ele afirmou que as operadoras poderão expandir os serviços oferecidos. Além da comunicação e telecomunicação, também será possível dispor de serviços de natureza sensorial. “Conseguiremos detectar intrusos em um determinado perímetro se configurarmos a rede. Ou até mesmo detectar um acidente na estrada. Tudo sob uma perspectiva sonar.”
Em uma era onde 82% do conteúdo consumido se dá por vídeo, de acordo com levantamento de 2022, da Cisco, as possibilidades sensoriais que giram em torno da atualização devem aprofundar ainda mais a relação com os produtos que oferecem experiências visuais. “Vídeos imersivos e games cada vez mais interativos e realistas representam nossa principal expectativa para os consumidores finais”, disse Roseiro.
Comum em roteiros de ficção, a imagem tridimensional pode vir a se tornar realidade e sair, literalmente, das telas. O executivo da Huawei diz que o salto tecnológico levará ao conceito de holograma em vídeo. “É possível que até o final da década nós tenhamos um serviço desse tipo”, disse.
Enquanto o 5.5G vem sendo desenvolvido e a data para sua chegada no Brasil ainda não é prevista, a Huawei tem como foco principal levar a tecnologia 5G para as operadoras e ampliar sua cobertura. “Nossa preocupação, nesse momento, é proporcionar tecnologias cada vez melhores para que as operadoras possam oferecer um sinal de 5G mais abrangente e com a melhor experiência”.