O secretário de Defesa dos Estados Unidos, Lloyd Austin, afirmou nesta quarta-feira (27) ao ministro da Defesa brasileiro, general Paulo Sérgio Nogueira, que o governo Joe Biden espera que o Brasil mantenha a tradição de realizar eleições justas e transparentes neste ano.
O comentário foi feito durante reunião bilateral entre as autoridades, segundo três fontes com conhecimento do que foi discutido.
No encontro, de cerca de 40 minutos, Austin falou rapidamente sobre as eleições brasileiras.
A declaração foi entendida pelo lado brasileiro como uma tentativa do governo americano de reafirmar que tem acompanhado com preocupação a retórica do presidente Jair Bolsonaro (PL) de questionar o sistema eleitoral e atacar as urnas eletrônicas.
Segundo os relatos, Nogueira defendeu a atuação das Forças Armadas junto ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral), lembrou que elas foram convidadas pela corte para participar do processo eleitoral e disse que os militares têm trabalhado justamente para garantir que as eleições sejam livres e transparentes.
Ainda de acordo com relatos, o ministro da Defesa respondeu aos americanos que os militares vão contribuir para que, no pleito, todos os brasileiros possam votar livremente no candidato que julgarem o mais correto e adequado.
Desde terça-feira (26) havia a expectativa de que Lloyd Austin fizesse coro aos pedidos para que os militares respeitem o sistema democrático no Brasil.
Uma autoridade da Defesa americana informou à agência Reuters, sob condição de anonimato, que o secretário de Joe Biden faria o gesto como resposta às insinuações golpistas de Bolsonaro.
No encontro, apesar do recado, Austin não foi incisivo nem criticou a participação de militares no processo eleitoral brasileiro.
Segundo relatos, em tom diplomático, o secretário americano ressaltou que existe uma conexão profunda entre os dois países cujos pilares são a democracia, as eleições justas e os direitos humanos.
Na cúpula das Forças Armadas, a avaliação é que a participação dos militares no processo eleitoral deste ano foi politizada tanto por Bolsonaro quanto pela oposição, o que gera percepções erradas sobre o papel dos fardados nas eleições.
Apesar disso, a Defesa tem defendido que as urnas eletrônicas não estão seguras contra ameaças internas e sugere aperfeiçoamento nos testes de integridade e segurança. O trabalho das Forças Armadas é utilizado por Bolsonaro para atacar ministros do TSE e questionar o resultado das eleições.
Um dia antes da reunião bilateral, o ministro Paulo Sérgio Nogueira afirmou que respeita a Carta Democrática Interamericana e seus princípios.
O documento citado por Nogueira diz que “os povos da América têm direito à democracia e seus governos têm a obrigação de promovê-la e defendê-la”.
A declaração foi feita em discurso de abertura da 15ª Conferência de Ministros de Defesa das Américas.
Em discurso na terça, Austin defendeu que as Forças Armadas dos países da América devem estar sob “firme controle civil”.
“Uma dissuasão confiável exige forças militares e de segurança que estejam prontas, capazes e sob firme controle civil. E exige que os Ministérios da Defesa atendam seus cidadãos de forma transparente e sem corrupção”, afirmou o americano em um discurso de quase oito minutos.
Por meio de uma profusão de mentiras, o presidente vem fomentando a descrença nas urnas. No entanto, ao invés de ser barrado por aqueles ao seu redor, o mandatário tem contado com o respaldo de militares, membros do alto escalão do governo e seu partido em sua cruzada contra a Justiça Eleitoral.
As Forças Armadas, por exemplo, têm repetido o discurso de Bolsonaro. Em ofício recente, solicitaram ao TSE todos os arquivos das eleições de 2014 e 2018, justamente os anos que fazem parte da retórica de fraude do presidente.
O Brasil preside o evento interamericano. “Da parte do Brasil, manifesto respeito à carta da Organização dos Estados Americanos, OEA, e à Carta Democrática Interamericana e seus valores, princípios e mecanismos”.
Cézar Feitoza/Ricardo Della Coletta/Folhapress