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Covid se alastra em navios de cruzeiro; já são mais de 300 casos

As cinco embarcações em operação na costa brasileira apresentam 301 casos da doença. Anvisa reforça recomendação ao Ministério da Saúde para que suspenda imediatamente as viagens, “sob pena de graves episódios sanitários”

Após o registro de 301 casos de covid em todos os cinco cruzeiros marítimos em operação na costa brasileira, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) pediu, na noite de ontem, o cancelamento dos passeios desse tipo, “sob pena de risco à saúde pública”, e contraindicou o embarque de passageiros que possuem viagens programadas para os próximos dias.

A agência informou ainda sobre o impedimento, ontem, de novo embarque de mais de 3 mil passageiros no navio MSC Splendida, no porto de Santos (SP). A embarcação teve a operação interrompida no último dia 30, após 78 casos confirmados da doença, com 51 tripulantes e 27 passageiros infectados. Foram identificadas 54 pessoas que tiveram contato com os contaminados. Todas as 132 pessoas, casos positivos e contatos próximos, foram desembarcadas em Santos. A suspeita é da variante ômicron.

Apesar do surto de positivados, o MSC Splendida manteve os itinerários e chegou a anunciar nova viagem ontem. No entanto, o embarque foi suspenso pela Anvisa no início da noite. Segundo a agência, a empresa havia sido notificada no sábado sobre o impedimento de embarque.

Segundo a Anvisa, as investigações conduzidas nos últimos dias demonstram que o vírus Sars-Cov-2 se espalha facilmente entre pessoas a bordo de navios. A agência reforçou também a urgência da imediata interrupção da temporada de cruzeiros no Brasil e apontou falhas no cumprimento dos protocolos sanitários pelas empresas, que podem ser punidas com multas ou até suspensão das atividades.

Depois de lembrar que já havia recomendado ao governo, no último dia 31, que suspendesse os cruzeiros, a agência subiu o tom e disse aguardar “a rápida e urgente manifestação do Ministério da Saúde, sob pena de graves episódios sanitários com risco à saúde pública”.

Nos cinco cruzeiros, a situação mais grave, classificada como nível 4, é a do navio Costa Diadema que atracou no último dia 30 em Salvador, após relatar 68 casos positivos do vírus. A embarcação teve permissão para retornar a Santos para desembarcar os passageiros. O navio está com ocupação igual ou superior a 90% das acomodações de isolamento e dos leitos do centro médico.

Na nota técnica, a Anvisa ressalta que a portaria 2.928, publicada pelo Ministério da Saúde, em 2021, classifica os navios em níveis, de acordo com a gravidade do cenário epidemiológico a bordo nos últimos sete dias. Os navios MSC Preziosa, Costa Fascinosa, MSC Seaside e MSC Splendida estão classificados no nível 3.

Ontem, a Anvisa informou que o navio MSC Preziosa atracou no Rio de Janeiro com 28 casos de covid-19. Segundo a agência, o desembarque dos passageiros foi iniciado após avaliação das autoridades de saúde da situação a bordo. Ao todo, foram identificados 26 passageiros e dois tripulantes com teste positivo para covid-19, assintomáticos ou com sintomas leves.

O Costa Fascinosa conta com quatro casos confirmados, em isolamento. Já o MSC Seaside está a caminho do Rio e foi notificado para que seja realizada a testagem de 100% dos tripulantes. O navio permanece em observação. O número de infectados não foi informado.

Confinamento
Segundo a infectologista Magali Meirelles, “a elevada cobertura vacinal no país tem mostrado, até o momento, que a população vacinada (especialmente com a dose adicional de reforço) está protegida de maneira bastante razoável contra o adoecimento com quadros graves”. “Porém, a proteção contra a infecção, com doença leve não é tão efetiva”, acrescentou.

A especialista ressalta que os cruzeiros marítimos promovem o confinamento de pessoas em uma área restrita, com elevada densidade populacional, com paradas em cidades a cada dia, em que os turistas entram em contato com a população local, retornando ao navio ao final do dia, onde ocorrem eventos festivos. “Trata-se de um cenário propício para a disseminação de um vírus de transmissão por via respiratória, em especial uma cepa com transmissibilidade tão elevada quanto a variante ômicron.”

O epidemiologista e professor da Universidade de Brasília (UnB) Jonas Brant destacou que a recomendação da Anvisa está correta. “A gente espera que seja adotada, mesmo sabendo do prejuízo econômico e de planejamento que essas famílias terão. É melhor que, neste momento, as pessoas sejam mais prudentes, evitem esses cruzeiros para que possamos retornar posteriormente com mais tranquilidade. O cenário da ômicron é extremamente preocupante e a gente deveria estar se preparando para isso no momento.”

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